quarta-feira, 24 de setembro de 2014
HIDROTERAPIA EM CRIANÇAS COM HIDROCEFALIA
Rev Neurocienc 2012;20(3):415-421 415
relato de caso
RESUMO
Objetivo. Avaliar o efeito da hidroterapia em uma criança com diagnóstico
clínico de hidrocefalia e diagnóstico fisioterápico de quadriplegia
espástica moderada. Método. A criança foi submetida a 20
sessões de hidroterapia, três vezes por semana com duração de 45 minutos.
No estudo foi utilizada para avaliação ficha hidroterapêutica e
neuropediátrica, o Questionário de Saúde da Criança – Relatório dos
Pais CHQ-PF50 (antes e depois do tratamento) e a Escala Modificada
de Ashworth (diariamente, antes e após cada sessão de hidroterapia).
Resultados. A criança apresentou melhora na função intestinal,
tornando-se mais calma, com mais horas de sono além de facilitar o
manuseio para trocar fraldas e roupas. Conclusão. Através dos benefícios
proporcionados pela hidroterapia, a criança com hidrocefalia
apresentou uma melhora na espasticidade e na qualidade de vida.
Unitermos. Criança, Hidrocefalia, Hidroterapia.
Citação. Melo FR, Alves DAG, Leite JMRS. Benefícios da Hidroterapia
para Espasticidade em Uma Criança com Hidrocefalia.
ABSTRACT
Objective. To evaluate the effectiveness of hydrotherapy in a child
with clinical diagnosis of hydrocephalus and physical therapy diagnosis
of moderate spastic quadriplegia. Method. The child underwent to
20 sessions of hydrotherapy, three times per week, lasting 45 minutes.
The child was evaluated with a hydrotherapy neuropediatric form, the
Child Health Questionnaire - Parent Report CHQ-PF50 (before and
after intervention) and the Modified Ashworth Scale (daily, before
and after each hydrotherapy session). Results. The child showed an
improvement in bowel function, becoming calmer, with more hours
of sleep, in addition to ease of handling for changing diapers and
clothes. Conclusion. The benefits offered by hydrotherapy, the hydrocephalus
child showed an improvement in spasticity and quality
of life.
Keywords. Child, Hydrocephalus, Hydrotherapy.
Citation. Melo FR, Alves DAG, Leite JMRS. Benefits of Hydrotherapy
for Spasticity In Children with Hydrocephalus.
Benefícios da Hidroterapia para Espasticidade em
Uma Criança com Hidrocefalia
Benefits of Hydrotherapy for Spasticity In Children with Hydrocephalus
Fláviane Rezende Melo1, Débora Almeida Galdino Alves2, Jacqueline
Maria Resende Silveira Leite2
Endereço para correspondência:
Jacqueline Maria Resende Silveira Leite
Rua Padre José Poggel, 506, Centenário
CEP 37200-000, Lavras - MG, Brasil.
Fone: 35 36948110
E-mail: jacqueline@unilavras.edu.br
jacquelineleite@vialavras.com.br
Relato de Caso
Recebido em: 05/07/11
Aceito em: 10/04/12
Conflito de interesses: não
Trabalho realizado no setor de piscina terapêutica da Clínica de Fisioterapia
Risoleta Neves que pertence ao Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS,
Lavras-MG, Brasil.
1.Acadêmica do curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Lavras –
UNILAVRAS, Lavras-MG, Brasil.
2.Fisioterapeuta, Mestre, Docente do Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS,
Lavras-MG, Brasil.
doi: 10.4181/RNC.2012.20.707.7p
Rev Neurocienc 2012;20(3):415-421
relato de caso
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INTRODUÇÃO
O termo hidrocefalia vem do Grego e significa
“água na cabeça”. É uma condição patológica na qual o
líquido cefalorraquidiano é produzido em maior quantidade
que sua absorção. Isto acontece quando há um
distúrbio na absorção do líquido ou obstrução das vias
liquóricas1,2.
O líquido cefalorraquidiano é produzido pelo
plexo coróide nos ventrículos, circulando normalmente
através do sistema ventricular e em torno da superfície do
cérebro, onde é absorvido pelas granulações aracnóides
para o seio sagital. Este também circula ao redor da medula
espinhal e no canal central1,2.
As alterações mais comuns encontradas são: taxa
acelerada de aumento da cabeça, a fontanela anterior é
ampla e abaulada e as veias do couro cabeludo dilatadas,
a fronte é larga, os olhos podem desviar-se para baixo,
produzindo o sinal dos olhos “em sol poente” e o comprometimento
neuromotor dessa doença pode envolver
partes distintas do corpo, resultando em classificações topográficas
específicas: quadriplegia, diplegia e hemiplegia
espásticas3,4.
O tratamento mais utilizado é a intervenção cirúrgica,
a qual se resume na utilização de “shunts” para
desvio da circulação do líquido cefalorraquidiano onde é
colocado um sistema valvular na cabeça do paciente até o
coração (derivação ventrículo-atrial) ou intestino (derivação
ventrículo-peritoneal), onde este será absorvido pela
corrente sanguínea. Já a fisioterapia deverá ser realizada
precocemente a fim de promover as habilidades funcionais
adequadas à idade e reduzir as deficiências secundárias5-
7.
A hidroterapia é um recurso da fisioterapia que
utiliza a piscina de água aquecida como agente externo
para execução de exercícios terapêuticos. O uso desse recurso
vem crescendo no Brasil, sendo mais aceito e ocupando
um lugar definitivo no tratamento de pacientes
com lesões neurológicas. Para a realização da hidroterapia
é necessário considerar e selecionar as propriedades da
água (densidade relativa e gravidade específica, empuxo,
metacentro, pressão hidrostática, água em movimento
(fluxo laminar ou turbulento), refração, tensão superficial
e temperatura) da maneira mais apropriada a fim de obter
maior grau de funcionalidade no paciente4,8-10.
Este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito da
hidroterapia em uma criança com diagnóstico clínico de
hidrocefalia e diagnóstico fisioterápico de quadriplegia
espástica moderada. Justifica-se a realização desta pesquisa
pelo fato de haver poucos relatos sobre os efeitos da
hidroterapia na hidrocefalia servindo de subsídios para
futuras pesquisas.
MÉTODO
Relato do Caso
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
e Pesquisa do Centro Universitário de Lavras – CAAE
0049.0.189.000-10. Antes de responder aos questionários
a mãe (responsável legal) assinou o termo de consentimento
livre e esclarecido.
A criança RJGC, do sexo masculino, nasceu no dia
19/03/2005 às 16:00 horas, no Hospital Vaz Monteiro,
em Lavras-MG, sendo por parto cesariano, com cartão
da criança apresentando: Peso: 1080 kg, Estatura 38 cm,
Perímetro cefálico: 29,5 cm, perímetro torácico 21,5 cm
e Apgar: 1 minuto - 05 / Apgar: 5 minutos – 08, valor
normal de 7 à 10.
A mãe afirma ter feito pré-natal e como intercorrência
apresentou episódios de metrorragia de pequena
monta no 1º trimestre, gripe e infecção do trato urinário
no 2º trimestre, e hipertensão gestacional no 2º e 3º
trimestre. Medicamentos ministrados: vitaminas (1º e 2º
trimestre), Bactrin (2º trimestre) e Aldomet (2º e 3º trimestre).
O primeiro ultra-som pré-natal foi realizado na 12º
semana de gestação e obteve resultado normal. Quando
estava na 23º semana de gestação realizando novamente
o procedimento o resultado do exame foi evidenciando
discreto oligoâmnio.
A mãe da criança nega qualquer parentesco com o
pai da criança, sendo ele dependente químico desde antes
da gestação, fazendo uso de maconha e cocaína e atualmente
de crack, nega também abortos, sendo esta sua
primeira e única gestação.
A criança nasceu de parto cesáreo devido à eclâmpsia
com 31 semanas de idade gestacional.
Segundo relatório médico, o recém-nascido (pré-
-termo), com extremo baixo peso, foi intubado ao nascimento
e administrado surfactante. Teve os seguintes
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diagnósticos neonatais: síndrome do desconforto respiratório
com surfactante, sepse presumida, hipoglicemia
e instabilidade hemodinâmica. Teve icterícia com realização
de uma transfusão sanguínea. E a alta da maternidade
ocorreu com 72 dias de vida.
As primeiras alterações surgiram em casa no mês
de agosto e setembro de 2005. A mãe percebeu aumento
do crânio e o quadro foi acentuando, procurou o médico
que diagnosticou macrocefalia por hidrocefalia máxima.
Submetido à derivação ventrículo peritoneal em outubro
de 2005 no Hospital Vaz Monteiro em Lavras-MG.
Segundo relato da mãe a criança realizou intervenção
cirúrgica em dezembro de 2005, para correção
de hérnia inguino escrotal à direita. Durante indução
anestésica apresentou hiperreatividade brônquica e foi
necessário mantê-lo intubado por um dia. Permaneceu
tres dias internados e evoluiu satisfatoriamente.
Em fevereiro de 2006 uma segunda cirurgia foi
necessária para trocar a válvula de bombear por uma
mais moderna de diferença de pressão, sendo realizada na
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, em
Campinas-SP, ficando internado por cinco dias. Após a
cirurgia realizou reabilitação no solo até o final de 2006.
Iniciou a fisioterapia no solo com 12 meses de idade
na cidade de Americana-SP pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) duas vezes por semana e na Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais (APAE) uma vez por semana.
Com um ano e dez meses fez hidroterapia na UNICAMP,
duas vezes por semana, no período de um mês,
desde que saiu da fisioterapia em solo. A mãe relata que a
criança ficou mais calma e dormia melhor neste período.
Voltou para Lavras–MG no início de 2007 e iniciou
a fisioterapia na APAE, fazia fisioterapia em solo
duas vezes por semana e hidroterapia uma vez por semana,
mãe relata que não percebeu melhora, pois eram muitas
crianças sendo atendidas ao mesmo tempo, levando-a
a ter faltas e devido a estas faltas foi desligada da APAE
de Lavras-MG.
Procurou a Clínica de Fisioterapia do Unilavras,
em 2007, e iniciou o tratamento de fisioterapia em solo
três vezes por semana. A mãe relata que nas férias quando
não há atendimento a criança fica em casa sem nenhum
tipo de estimulação.
Segundo relato da mãe, em junho de 2010 a criança
apresentou um quadro clínico de ceratite difusa em
função de uma úlcera de córnea, que precisou de intervenção
cirúrgica sendo feito tarsorrafia bilateral definitiva,
na UNICAMP, permanecendo dois dias internado e
sem atendimento de reabilitação.
Durante os meses de outubro e novembro de 2010
iniciou-se o projeto e a criança realizou hidroterapia somente.
Procedimento
O estudo foi realizado na piscina terapêutica da
Clínica de Fisioterapia Risoleta Neves que pertence ao
Centro Universitário de Lavras - UNILAVRAS. A piscina
utilizada possui 5.0 m de largura, 9.0 m de comprimento
e 1.30 m a 1.70 m de profundidade com barras paralelas
e rampa a uma temperatura da água entre 32 e 33 graus
centígrados.
Os materiais utilizados constituíam basicamente
de um tablado e um tapete de flutuação. As sessões foram
realizadas três vezes por semana com duração de 45
minutos cada, totalizando 20 sessões, entre os meses de
outubro e novembro do ano de 2010.
A avaliação foi realizada somente na 1º sessão através
da Ficha Hidroterapêutica e Neuropediátrica utilizada
na clínica escola para avaliação no estágio supervisionado,
modificada e adaptada especialmente para a pesquisa, Escala
Modificada de Ashworth11 (Quadro 1) que foi aplicada
diariamente antes e após cada sessão de hidroterapia
e Questionário de Saúde da Criança – CHQ-PF5012 foi
aplicado na 1º sessão e na 20º sessão.
Quadro 1
Escala Modificada de Ashworth
0 Nenhum aumento no tônus muscular;
1
Leve aumento do tônus muscular, manifestado por uma tensão
momentânea ou por resistência mínima, no final da amplitude
de movimento articular (ADM), quando a região é movida em
flexão ou extensão;
1+
Leve aumento do tônus muscular, manifestado por tensão
abrupta, seguida de resistência mínima em menos da metade da
ADM restante;
2 Aumento mais marcante do tônus muscular, durante a maior
parte da ADM, mas a região é movida facilmente;
3 Considerável aumento do tônus muscular, o movimento passivo
é difícil;
4 Parte afetada rígida em flexão ou extensão.
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Os exercícios foram realizados na água para relaxamento
muscular, normalização de tônus muscular
que favorece a aquisição de controle de cabeça, ganho
de amplitude de movimento, prevenção de contraturas
e deformidades.
O paciente era conduzido à piscina no colo da fisioterapeuta
em posição de bola e a sessão iniciada através
da técnica de Watsu, visando adaptação na água e relaxamento
muscular (Figura 1). A fisioterapeuta ficava na
posição ortostática segurando o paciente em decúbito
dorsal, flutuando, com movimentos suaves, lentos e rítmicos
(fluxo laminar).
Paciente sentado no tablado entre as pernas da fisioterapeuta
que realizava tapping de pressão no ombro,
ponto chave de rotação externa de ombro, tapping de
deslizamento até o punho e ponto chave na região hipotenar
estendendo o punho e assim o membro era estendido
e mantido para se atingir o alongamento do membro
superior.
Paciente sentado no tablado entre as pernas da fisioterapeuta
que realizava ponto chave de extensão de artelhos,
dorsiflexão de tornozelo, flexão de joelho e quadril
com rotação externa inibindo a espasticidade extensora e
assim realiza o alongamento alternado dos membros inferiores.
Os alongamentos foram realizados a partir do ponto
chave e mantidos por 30 segundos.
Dissociação de cinturas, o paciente sentado no tablado
entre as pernas da fisioterapeuta, a mão direita na
região da crista ilíaca do paciente e a outra mão na região
lateral do tórax superior abaixo da articulação do ombro,
fazendo rotação contra lateral.
Tapping de estimulação do tipo de inibição na região
cervical e na região frontal com o paciente sentado
no tablado sobre as pernas da fisioterapeuta para aquisição
do controle de cabeça.
RESULTADOS
Em relação à Escala Modificada de Ashworth, o
paciente manteve resultado inalterado antes e após as
Figura 1. Condutas Hidroterapêuticas*.
* Foto autorizada pelo responsável
a. Relaxamento Muscular b. Alongamento de membro superior
c. Alongamento de membro inferior d. Dissociação de cinturas
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sessões de hidroterapia na primeira semana (Quadro 2).
A partir da segunda semana até o término do tratamento,
o paciente estava mais adaptado ao meio aquático,
apresentando melhora de um ponto relacionado ao tônus
muscular.
Com referência ao questionário de saúde da
criança – Relatório dos Pais CHQ-PF50, obteve-se resultado
nos itens dor corporal, impacto emocional nos
pais e atividade familiar. Sobre dor corporal durante as
últimas quatro semanas foi classificada como “moderada
com muita frequência” antes do tratamento e “leve e
com alguma frequência”, após o tratamento. O impacto
emocional nos pais foi de “bastante” antes do tratamento
para e “alguma” após o tratamento, a mãe referiu muito
prejuízo emocional e medo em relação à saúde física da
criança. Na questão da atividade familiar, foi da resposta
”às vezes” a saúde do paciente limitava a família para sair
de casa tendo que cancelar e alterar planos na última hora
para “quase nunca”.
Os demais itens do questionário mantiveram-se
inalterados após as sessões de hidroterapia, conforme
questionário respondido pela mãe.
DISCUSSÃO
Não foram encontrados na literatura estudos similares
que possibilitassem a comparação e a discussão dos
resultados. Pela patologia da criança foram de grande valor
os resultados, porque pôde ser comprovado que mesmo
sendo uma criança muito comprometida e totalmente
dependente, ela teve uma evolução, ou seja, apresentou
redução da espasticidade devido ao ambiente aquático,
melhorando a qualidade de vida, devido ao relato da mãe
e da Escala Modificada de Ashworth.
A hidroterapia tem ganhado, progressivamente,
vários adeptos, por proporcionar a possibilidade de realizar
manobras, o que é muitas vezes impossível fora da
água. Pacientes intensamente incapacitados fora da água
são notavelmente móveis na piscina13. Movimentos involuntários
“amortecem” na água, possibilitando a melhora
do equilíbrio e do controle motor, diferente do solo14.
Devido às condutas hidroterapêuticas e algumas
manobras da técnica Watsu utilizada com a criança na
piscina ao final de cada sessão ela apresentava-se calma,
tranquila, relaxada e com intervalo maior sem espasmo
muscular, antes de entrar na piscina a criança apresentava
um número de três espasmos musculares por minuto
e após as condutas estes espasmos se espassavam de cinco
a dez minutos aproximadamente com um único episódio
de espasmo muscular sendo notado. A técnica de Watsu
pode proporcionar uma redução significativa da espasticidade
levando a uma maior liberdade de movimentos,
facilitando a realização de alongamentos, proporcionando
a obtenção de maiores graus de amplitude de movimento
e, consequentemente, melhora nas atividades de
vida diária15.
Segundo a Escala de Ashworth Modificada 100%
dos pacientes com traumatismo raquimedular apresentaram
diminuição da espasticidade, durante e após o emprego
da Técnica de Watsu, possibilitando ao terapeuta
trabalhar melhor os movimentos articulares15,16.
Ao comparar a avaliação do tônus muscular pela
mesma escala (Escala de Ashworth Modificada), no início
e final do tratamento hidroterapêutico verificou-se que
não houve alteração, mas ao realizar a cada sessão obteve
melhora significativa.
Foi observado no estudo que, com a criança relaxa-
Quadro 2
Alteração de tônus muscular antes e após sessão de hidroterapia através da Escala Modificada de Ashwoorth
Sessões Pontuação antes da sessão Pontuação após a sessão
1º semana 3 3
2º semana 3 2
3º semana 3 2
4º semana 3 2
5º semana 3 2
6º semana 3 2
7º semana 3 2
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da, era possível realizar todas as condutas hidroterapêuticas
propostas com maior facilidade. O calor relativamente
brando reduz a sensibilidade das terminações sensitivas
e, à medida que os músculos são aquecidos pelo sangue
que os atravessa, seu tônus diminui levando ao relaxamento
muscular14.
O tratamento hidroterapêutico em crianças com
hidrocefalia é elaborado e desenvolvido com objetivos específicos
de promoção de saúde e qualidade de vida das
mesmas, pois segundo relato dos pais as atividades aquáticas
proporcionam momentos de alegria e satisfação, isso
refletindo em uma saúde mais plena, um sono mais adequado
e maior disposição dos mesmos. Os autores ainda
ressaltam que os benefícios proporcionados pela hidroterapia
são visíveis para pais, professoras e fisioterapeutas15.
Embora o CHQ-PF50 seja um instrumento válido
e confiável para ser utilizado em crianças e adolescentes
com paralisia cerebral no Brasil e forneça dados importantes
de natureza multidimensional, o questionário demanda
tempo considerável para o preenchimento dos 50
itens e para o cálculo dos escores, sendo pouco prático na
clínica diária. Além disso, a sua confiabilidade é adequada
para estudos populacionais, mas não é suficiente para a
avaliação individual12.
As dificuldades encontradas quanto ao manuseio
dentro da água e a ausência de controle cervical e devido
a água ser um meio desconhecido para a criança, proporcionando
muitas vezes medo e dificultando a fase inicial
de tratamento, exigindo atenção da fisioterapeuta para
evitar incidentes desagradáveis, como a imersão inesperada
da face do paciente. Outra dificuldade é o déficit
cognitivo que dificulta a comunicação e a interação do
paciente com o meio externo, restringindo assim a eficácia
da reabilitação motora, sendo necessário que a fisioterapeuta
observe o sim e o não através da expressão
facial ou por um movimento espontâneo facilitando as
diretrizes do tratamento17.
Como a criança estudada é afásica, não tem controle
de cabeça e com um retardo mental significativo,
a fisioterapeuta ficava o tempo todo atenta, não tendo
ocorrido nenhuma intercorrência durante as 20 sessões
de hidroterapia.
Muitas foram às dificuldades para a realização deste
estudo. As principais incluem a falta condições de transporte
da mãe para trazer a criança até a clínica, acompanhando-
o a cada sessão, mas sendo contornada tal situação
pela fisioterapeuta que buscava e levava a criança e a
mãe em seu domicílio. Outra dificuldade foi tentar não
alterar os horários, pois a criança por apresentar espasmos
frequentes, não era possível o tratamento com outros pacientes,
o ambiente da piscina era silencioso e tranquilo e
o tratamento era individualizado realizando o estudo fora
dos horários das atividades da piscina da clínica escola e
associando aos da fisioterapeuta.
Como limitações do presente estudo destacam-se
a dificuldade de instrumentos de avaliação para crianças
com comprometimento moderado a grave e a subjetividade
da Escala Modificada de Ashworth.
CONCLUSÃO
A hidroterapia trouxe benefícios para o paciente
com espasticidade, proporcionando-lhe de uma forma geral
uma melhora no tônus muscular e na qualidade de vida.
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