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Artigo de Revisão
Review Article
RESUMO
A espondilite anquilosante (EA) é uma doença inflamatória crônica
caracterizada por acometimento predominante do esqueleto axial.
Ocorre de forma insidiosa e é potencialmente debilitante, levando
à redução na qualidade de vida dos indivíduos acometidos. A sua
etiopatogenia ainda não está totalmente esclarecida, dificultando
estratégias no seu diagnóstico e manejo. O avanço da terapia
com agentes biológicos veio reforçar discussões sobre a melhor
forma de avaliação destes pacientes. Nesta revisão, discutimos os
principais instrumentos utilizados para avaliar pacientes com EA
e o consenso do grupo internacional (ASAS working group –
Assessments in Ankylosing Spondylitis Working Group) determinado
no OMERACT IV (Outcome Measures in Rheumatology).
Palavras-chave: espondilite anquilosante, instrumentos, qualidade
de vida.
Instrumentos de Avaliação em Espondilite Anquilosante
Outcome Measures in Ankylosing Spondylitis
Themis Mizerkowski Torres(1), Rozana Mesquita Ciconelli(2)
Abstract
Ankylosing spondylitis is a chronic and progressive disease
involving predominantly the axial skeleton. It is insidious and
potentially debilitating, compromising the quality of life of
patients suffering from the disease. The etiopathogenesis is still
uncertain, which difficult strategies in its diagnosis and treatment.
Advances in biological therapies are reforcing discussions in the
best way of managing the disease. In this paper, we revise the
outcome instruments available for ankylosing spondylitis and
the consensus from the ASAS working group (Assessments
in Ankylosing Spondylitis Working Group) established at the
OMERACT IV (Outcome Measures in Rheumatology).
Keywords: ankylosing spondylitis, instruments, quality of life.
Disciplina de Reumatologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Recebido em 14/07/05. Aprovado, após revisão, em 28/01/06.
1. Pós-graduanda da Disciplina de Reumatologia da UNIFESP.
2. Médica Assistente da Disciplina de Reumatologia da UNIFESP.
Endereço para correspondência: Themis Mizerkowski Torres, Rua Azevedo Macedo, 57/44, Vila Mariana, São Paulo, SP, Brasil, e-mail: themistorres@uol.com.br
INTRODUÇÃO
A Espondilite Anquilosante (EA) é uma doença sistêmica
inflamatória crônica caracterizada por acometimento primário
do esqueleto axial com prevalência de 0,9% na população
geral(1). Tem a característica de acometer predominantemente
indivíduos do sexo masculino na segunda e terceira décadas
de vida, gerando um forte impacto socioeconômico e na
qualidade de vida dos pacientes(2, 3). Recentemente, tem
sido demonstrado que drogas anti-TNF são potencialmente
modificadoras da atividade da doença, atuando na melhora da
capacidade funcional, mobilidade da coluna e nas articulações
periféricas e enteses(4-6). Desta maneira, há a necessidade de
se definir medidas de avaliação específicas para o acompanhamento
e tratamento de pacientes com EA.
Definir atividade de doença em afecções crônicas é uma
tarefa difícil. A dificuldade aumenta quando se depara com
doenças reumatológicas de evolução lenta e ausência de um
marcador laboratorial definido, como a EA. Elabora-se,
então, diversos instrumentos para a avaliação da atividade,
a maioria em forma de questionários.
A abordagem pode ser feita através de modelos genéricos
ou específicos. Os questionários genéricos refletem o
impacto da doença sobre a vida do indivíduo numa larga
variedade de populações e envolvem domínios como atividade
funcional, incapacidade, estresse físico e emocional. Os
específicos oferecem informações mais especializadas sobre
uma área de interesse primário, podendo ser uma doença,
população (ex: crianças) ou funções como sono ou atividade
sexual, utilizados quando se necessita de informações mais
detalhadas em relação a aspectos da própria doença(7).
Existem vários instrumentos de avaliação em EA, sendo
os principais os descritos abaixo:
Específicos
• BASDAI (Bath Ankylosing Spondylitis Disease Activity
Index)(8): questionário desenvolvido para medir a atividade
da doença. Provou ser válido, reprodutível e sensível a
mudanças. Consiste em seis questões que abordam domínios
relacionados à fadiga, dor na coluna, dor e sintomas
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articulares, dor devido ao acometimento das enteses, e duas
questões relacionadas à qualidade e quantidade de rigidez
matinal. O escore é medido em escala visual analógica
(EVA) de 0 a 10 (0 = bom; 10 = ruim). É considerado,
atualmente, um dos mais importantes instrumentos para
a utilização em ensaios clínicos.
• BASFI (Bath Ankylosing Spondylitis Functional Index)(
9): medida de avaliação da capacidade funcional. Inclui
oito itens relacionados a atividades da vida diária e dois itens
que medem as habilidades do paciente em lidar com o seu
dia-a-dia. O escore é de 0 a 10 em EVA (0 = bom; 10 =
ruim). Constitui, junto com o Dougados' Functional Index
(DFI), medida escolhida para o item função dos domínios
definidos pelo grupo ASAS(10,11).
• BASRI (Bath Ankylosing Spondylitis Radiology
Index)(12): método de graduação radiográfica do acometimento
da coluna, em uma escala de 0 a 4 (0 = normal, 1 = lesões
suspeitas, 2 = quadratura vertebral com erosões e esclerose,
3 = lesões mais difusas com formação de sindesmófitos, 4
= anquilose). As localizações escolhidas para a abordagem
são bacia, coluna cervical e lombar, resultando em um
escore de 2 a 12.
• BAS-G (Bath Ankylosing Spondylitis Global Score)(13):
mede a avaliação global do paciente. São duas questões em
EVA de 0 a 10 (0 = bom; 10 = ruim) que abordam o efeito
da doença na percepção global do paciente, na última semana
e nos últimos seis meses.
• BASMI (Bath Ankylosing Spondylitis Metrology
Index)(14): engloba medidas da coluna no intuito de definir o
status axial do paciente. As medidas envolvidas são: rotação
cervical, distância occipito-parede, flexão lombar, teste de
Schober modificado e distância intermaleolar. Cada medida é
convertida em um escore de 0 a 10 (0 = bom; 10 = ruim).
• ASQoL (Ankylosing Spondylitis Quality of Life
Questionnaire)(15): instrumento de medida de qualidade
de vida (QoL). Engloba 18 questões com resposta sim
ou não, resultando em um escore de 0 a 18, com o maior
valor implicando em uma pior qualidade de vida. É o único
desenvolvido originalmente para a medida específica de
qualidade de vida em EA.
• HAQ-S (Health Assessment Questionnaire –
Spondylitis)(16): versão do HAQ para EA, mede função.
Difere do HAQ original por apresentar mais cinco questões
relacionadas a atividades envolvendo a coluna, como dirigir
com o carro em ré ou carregar sacolas pesadas. A escala
varia de 0 (sem dificuldade) a 3 (incapacidade).
• AS-AIMS2 (Arthritis Impact Measurement Scales 2
– Ankylosing Spondylitis)(17): versão do AIMS-2 para a
EA, mede qualidade de vida. Engloba uma nova dimensão
denominada mobilidade espinhal, composta de seis ou quatro
itens, dependendo da habilidade do paciente em dirigir
automóveis. O escore é calculado de 0 (saúde perfeita) a
10.
• DFI (Dougados' Functional Index)(18): instrumento
para a avaliação da capacidade funcional. Contém 20 itens
relacionados à capacidade do paciente em realizar tarefas
da vida diária. Todas a questões iniciam-se por “Você
consegue”, com três modalidades de resposta: 0 (sim, sem
dificuldade), 1 (sim, com dificuldade) e 2 (não). O escore
é calculado como a soma de todas as respostas (0-40).
• PGI (Patient Generated Index)(19): medida individual de
qualidade de vida. Já foi validado para o uso em lombalgia e
menorragia, dermatite e apnéia do sono. O cálculo do escore
envolve três estágios: no primeiro, o paciente faz uma lista
de cinco áreas da sua vida mais afetadas pela doença. No
segundo, escolhe, em uma escala de 0 (pior) a 10 (melhor),
como se comporta a sua vida em cada área determinada.
No terceiro, faz uma escala de prioridades para a melhora
atribuindo pontos de 0 a 14. O escore é calculado multiplicando-
se o ponto dado no segundo estágio à proporção
encontrada no terceiro estágio. A somatória dos escores
para cada área resulta em um escore final de 0 a 10 (melhor
qualidade de vida).
• RLDQ (Revised Leeds Disability Questionnaire)(20):
medida relacionada à capacidade funcional. Contém 16
itens distribuídos em 4 domínios: mobilidade, inclinação,
movimentos cervicais e postura. O escore situa-se entre 0
(sem dificuldade) e 3 (incapacidade) para cada item, sendo
o escore final variando de 0 a 48, com os maiores valores
indicando maior incapacidade.
• Body Chart(20): avalia dor global. O método consiste em
pedir ao paciente para escolher, em um manequim, as áreas
do corpo mais doloridas. Para cada uma, é dada um nota de
0 (dor leve) a 4 (dor intensa). Realiza-se a soma das notas,
resultando no escore final, sem haver valor máximo.
• SASSS (Stoke Ankylosing Spondylitis Spine Score)(21):
medida de avaliação radiológica. As localizações escolhidas
para a graduação são as articulações sacroilíacas (0 = normal,
1 = borramento, 2 = 1+ esclerose ou pseudoalargamento, 3=
2 + erosões ou pontes ósseas, 4 = anquilose) e coluna lombar
(1 = erosão, esclerose ou quadratura, 2 = sindesmófitos, 3
= anquilose). A avaliação da coluna é feita tanto posterior
quanto anteriormente, englobando o bordo inferior de T12
ao bordo superior de S1. O máximo do escore composto é
de 72. Atualmente, este método foi modificado, surgindo
o M-SASSS (modified Stoke Ankylosing Spondylitis Spine
Instrumentos de Avaliação em Espondilite Anquilosante
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Score)(22), diferindo do original por apenas abordar a parte
anterior da coluna lombar e por incluir a análise da coluna
cervical (do bordo inferior de C2 ao bordo superior de
T1). Em estudo recente, comparando os três métodos para
avaliação radiológica da EA (BASRI, SASSS e M-SASSS), o
M-SASSS demonstrou ser o melhor método para a análise
da progressão radiológica na espondilite anquilosante.(23)
GENÉRICOS
• SF-36 (Medical Outcomes Study (MOS) 36-Item Short
Form): instrumento mundialmente empregado em estudos
envolvendo qualidade de vida. Apresenta oito domínios: capacidade
funcional, aspectos físicos, aspecto emocional, saúde
mental, aspectos sociais, vitalidade, dor e percepção geral de
saúde. O escore é de 0-100, com valores maiores indicando
melhor qualidade de vida. Já está traduzido e validado para o
uso no nosso país(24).
• EUROQoL: inclui valores do estado de saúde e tem
grande potencial para aplicação em avaliações econômicas.
Apresenta duas seções: EQ-5D e EQ-VAS. A primeira
(EQ-5D) contém cinco itens cobrindo os domínios de mobilidade,
cuidados próprios, atividade habitual, dor/desconforto e
ansiedade/depressão. Cada item é graduado em uma escala de
1 (sem problemas) a 3 (incapacidade/ problemas graves). Os
escores situam-se entre –0,59 a 1,00, onde 1,00 é considerado
saúde perfeita e escores menores que 0 são definidos como
piores que a morte. A segunda seção (EQ-VAS) inclui uma
EVA em que o paciente gradua seu estado geral de saúde de
0 (pior imaginável) a 100 (melhor imaginável)(25).
• WHODAS II (World Health Organisation Disability
Assessment Schedule II): questionário multidimensional
que pode ser utilizado para medir o nível de incapacidade.
Inclui seis domínios (compreensão e comunicação, relacionamentos,
participação na sociedade, atividades relacionadas
ao trabalho e serviços de casa, cuidados próprios,
mobilidade). É constituído por 36 questões e o escore final
é de 0 (melhor) a 100 (pior)(25, 26).
Dentre todos estes instrumentos, houve a necessidade
de se definir a melhor forma de avaliação. Desta maneira,
em 1995, foi formado um grupo internacional (ASAS) que
estabeleceu as áreas principais de enfoque na abordagem aos
pacientes com EA. (10, 11, 27, 28)
ASAS WORKING GROUP - CONSENSO
O ASAS Working Group é um grupo formado por
médicos, pesquisadores, pacientes e representantes de
indústrias farmacêuticas, com experiência em EA, englobando
mais de 20 países. Baseado em uma combinação de
consensos especializados e análises estatísticas, estabeleceu
os principais domínios recomendados para a avaliação de
pacientes com EA. Estes domínios estão distribuídos em
três áreas principais (core sets), conforme Tabela 1:
- tratamento com medicações que controlam a doença
(DC-ART).
- tratamento com medicações que controlam os sintomas
(SM – ARD)/ fisioterapia.
- avaliação clínica.
Para cada domínio, foram então escolhidos um ou
mais instrumentos específicos dentre 105 identificados na
literatura. Trinta e cinco destes foram eliminados por serem
considerados irrelevantes ou inviáveis e os restantes foram
analisados segundo critérios de simplicidade, confiabilidade,
relevância clínica e capacidade de discriminação. O
resultado da seleção final é mostrado na Tabela 2.
FUNÇÃO
O domínio função relaciona-se à atividade da doença
e danos. O BASFI e DFI estão entre os instrumentos
escolhidos para a sua avaliação, ambos demonstrando propriedades
válidas e confiáveis. Há, no entanto, diferenças
entre eles, descritas em estudo feito por Ruof e Stucki(29)
(Tabela 3):
Atualmente, O BASFI é a medida de avaliação funcional
mais utilizada nos estudos clínicos.
DC-ART SM-ARD/FISIOTERAPIA AVALIAÇÃO CLÍNICA
função função função
dor dor dor
mobilidade da coluna mobilidade da coluna mobilidade da coluna
rigidez da coluna rigidez da coluna rigidez da coluna
avaliação global do
paciente
avaliação global do
paciente
avaliação global do
paciente
articulações periféricas/
enteses
articulações
periféricas/enteses
provas de atividade
inflamatória
provas de atividade
inflamatória
radiografia da coluna
radiografia do quadril
fadiga
Tabela 1
Domínios Selecionados para Estudos Envolvendo
DC-ART, SM-ARD/ Fisioterapia, Avaliação Clínica
*DC-ART - tratamento com medicações que controlam a doença.
SM-ARD - tratamento com medicações que controlam os sintomas.
Torres e cols.
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Instrumentos de Avaliação em Espondilite Anquilosante
DOMÍNIO INSTRUMENTOS
Função BASFI OU DFI
Dor
EVA, última semana, devido à coluna à
noite e EVA, última semana,
devido à coluna
Mobilidade da coluna
Expansibilidade torácica e Schober
modificado e distância
occipito-parede
Avaliação global do paciente EVA, última semana
Rigidez
Duração da rigidez matinal, coluna,
última semana
Articulações periféricas e
enteses
Número de articulações inflamadas
(44 articulações); não há preferência
para instrumento utilizado para a
avaliação de enteses
Provas de atividade
inflamatória
VHS
Radiografias da coluna
Incidências ântero-posterior e lateral
da coluna lombar e cervical
e pelve (sacroilíacas e quadris)
Radiografias dos quadris ver radiografias da coluna
Fadiga
não há preferência por instrumento
específico
Tabela 2
Instrumentos específicos para cada domínio
relacionado a drogas controladoras da doença
(DC-ART), drogas modificadoras de sintomas
(SM-ARD), fisioterapia, avaliação clínica
*BASFI – Bath Ankylosing Functional Index; DFI – Dougados Functional Index;
EVA – escala visual analógica; VHS – velocidade de hemossedimentação.
*BASFI – Bath Ankylosing Functional Index; DFI – Dougados Functional Index.
DOR
Recomenda-se a avaliação da dor através de dois instrumentos:
-EVA 0-100 mm para dor noturna.
-EVA 0-100 mm para dor, sem predominância de horário.
Ambos os instrumentos estão relacionados à dor na
coluna devido à EA, na última semana.
Vários estudos utilizam o BASDAI, que contém três
medidas de EVA para a avaliação de dor e desconforto:
- dor no pescoço, coluna ou quadril.
- dor/edema em outras articulações.
- desconforto em áreas sensíveis ao tato ou à pressão.
Os dois últimos itens relacionam-se a articulações
periféricas. Esta avaliação é feita em outro domínio pelo
consenso do ASAS working group.
MOBILIDADE DA COLUNA
A expansibilidade torácica, o teste de Schober modificado
e a distância occipito-parede estão entre as medidas
selecionadas para representar este domínio. A versão do
teste de Schober (Tabela 4) foi padronizada tendo em vista
as várias modificações realizadas na sua execução.
RIGIDEZ DA COLUNA
Avaliada pela duração da rigidez matinal na última
semana. Há dois componentes do BASDAI relacionados a
este item:
- EVA indicando a intensidade de rigidez matinal na última
semana.
- duração da rigidez matinal na última semana.
BASFI DFI LIMITAÇÕES
10 itens 20 itens DFI demanda mais tempo para ser completado
escore baseado em 10 cm EVA
escore baseado
em escala de 3 pontos
escala do DFI mais limitada em relação à expressão
de mudanças
7 itens similares ao DFI;
3 itens adicionais que melhoram a validade de
conteúdo e o espectro de dificuldade dos itens
7 itens similares ao BASFI;
alguns itens redundantes e outros r
elacionados a sintomas e não à função
a validade de conteúdo e de construto do DFI
inferior à do BASFI
capaz de discriminar o efeito de
3 semanas de tratamento com fisioterapia
não é capaz de discriminar o efeito de
3 semanas de tratamento com fisioterapia
a distribuição dos escores do DFI mostram tendência
a escores normais, impedindo a percepção de melhora
em pacientes com incapacidade leve nos estudos
envolvendo fisioterapia
Tabela 3
Diferenças e Limitações do BASFI e DFI
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1) Com o paciente de pé, fazer uma marca na região lombar,
no meio de uma linha imaginária unindo as duas espinhas ilíacas
póstero-superiores
2) Fazer uma nova marca 10 cm acima da primeira
3) Pedir para o paciente fletir o tronco ao máximo, mantendo os joelhos
estendidos
4) Medir a distância entre as duas marcas
5) A distância normal deve ultrapassar 15 cm
Tabela 4
Teste de Schober Modificado
A medida de intensidade em uma escala de 0-100 mm
aliada à duração tem demonstrado ser um melhor parâmetro
para a abordagem da rigidez quando comparada à
duração apenas.
AVALIAÇÃO GLOBAL DO PACIENTE
É o estado geral de saúde e a escolha da sua medida é
por EVA na última semana.
Difere do BAS-G, pois este inclui uma escala que mede
o estado de saúde nos últimos seis meses.
ARTICULAÇÕES PERIFÉRICAS/ENTESES
A abordagem das articulações periféricas é feita pela
contagem de articulações inflamadas. As 44 articulações
incluídas na contagem são: esternoclaviculares, acromioclaviculares,
ombros, cotovelos, punhos, joelhos, tornozelos,
10 metacarpofalangianas, 10 interfalangianas proximais das
mãos, 10 metatarsofalangianas.
Em relação às enteses, não há instrumento recomendado
no momento. O único instrumento validado na literatura é o
Mander Enthesitis Index (MEI)(30), considerado inviável para
a inclusão no consenso. Um novo instrumento criado recentemente,
o Maastricht Ankylosing Spondylitis Enthesitis Score
(MASES)(31), tem demonstrado ser válido e viável, porém ainda
necessitando verificar a sua sensibilidade a mudanças. Uma
outra forma de avaliar as enteses é aplicar uma das questões
do BASDAI relacionada à dor à pressão ou ao tato.
PROVAS DE ATIVIDADE INFLAMATÓRIA
O parâmetro laboratorial definido no consenso é a velocidade
de hemossedimentação (VHS), pelo baixo custo e facilidade
de execução. Estudos recentes demonstram que marcadores
de fase aguda estão geralmente em níveis baixos na EA, correlacionando-
se pouco com a gravidade da doença(32). Porém,
algumas avaliações sugerem que estes marcadores podem
estar relacionados à responsividade no DC-ART, refletindo
em novas informações sobre os efeitos da terapia biológica.
RADIOGRAFIAS DA COLUNA E QUADRIS
Os locais escolhidos para a avaliação radiográfica são:
coluna cervical, coluna lombar e pelve (sacroilíacas e
quadris). Porém, não está definido como acessar a coluna
torácica ou como deve ser feito o acompanhamento. Além
disso, ainda não estão estabelecidas quais alterações realmente
expressam atividade da doença, importante questão
para a escolha de um método ideal de escore.
Os instrumentos mais utilizados nos estudos clínicos
são o Stoke Ankylosing Spondylitis Spine Score
(SASSS) e o Bath Ankylosing Spondylitis Radiology Index
(BASRI). Ambos apresentam boa reprodutibilidade e validade,
porém a capacidade de detectar progressão da doença em
1 ou 2 anos é baixa(23). Recentemente, houve a publicação
de um novo método de avaliação utilizando a ressonância
magnética (RM) da coluna. Este método foi testado em 20
pacientes, sendo efetivo na doença ativa. Necessita, porém,
de estudos com um maior número de pacientes para avaliar
os escores de atividade e cronicidade.(33)
FADIGA
Nenhum instrumento específico foi selecionado para
a avaliação de fadiga, por não haver nenhum relevante na
literatura. Estudos recentes têm demonstrado que os itens
relacionados à fadiga do BASDAI, SF-36 e índice de fadiga
multifatorial são boas alternativas para a avaliação.(34)
MELHORA DO TRATAMENTO COM DROGAS
MODIFICADORAS DOS SINTOMAS E
CONTROLADORAS DE DOENÇA
O grupo ASAS escolheu quatro domínios para a definição
de melhora no tratamento com drogas modificadoras de
sintomas(35): função (BASFI), dor (EVA), avaliação global
do paciente (EVA), inflamação (média da rigidez matinal
no escore do BASDAI ou rigidez matinal de, no máximo,
120 minutos).
Todos os domínios estão em uma escala de 0-100. A
melhora (ASAS 20) é definida como sendo maior ou igual
a 20% ou maior ou igual a 10 unidades, em uma escala de
0 a 100 em cada um de três domínios, sem haver piora
maior ou igual a 20% ou maior ou igual a 10 unidades no
quarto domínio. O contrário vale como critério de piora.
A remissão parcial é definida como nível baixo de atividade
de doença, o que significa menos de 20 unidades na escala
de 0-100 em cada um dos quatro domínios.
Torres e cols.
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Para o tratamento com drogas anti-TNF, o grupo ASAS
elaborou um consenso descrito abaixo(36):
CONCLUSÃO
Com o advento dos agentes biológicos e os seus surpreendentes
efeitos em doenças reumáticas como a EA, os
esforços para o desenvolvimento de medidas de avaliação
estão em evidente crescimento. O grupo ASAS selecionou
parâmetros ideais para a abordagem de pacientes com EA,
como a avaliação da função, dor, rigidez, fadiga, mobilidade
da coluna, articulações periféricas, avaliação global do paciente
e exames de atividade inflamatória e radiográficos. Pela importância
da qualidade de vida como medida de desfecho em
estudos clínicos, questionários como o SF-36 e ASQoL têm
sido cada vez mais utilizados e talvez devessem ter seu lugar
nos parâmetros de avaliação definidos internacionalmente.
Seleção dos pacientes
• DIAGNÓSTICO
o Pacientes que preenchem os critérios modificados de Nova Iorque para EA
• 1 critério clínico
• Dor lombar de pelo menos três meses de duração aliviada com o exercício e não melhorada com o repouso ou
• Limitação da coluna lombar nos planos frontal e sagital ou
• Expansibilidade torácica reduzida em relação aos valores normais para idade e sexo
• 1 critério radiológico
• Sacroileíte bilateral grau 2 a 4 ou
• Sacroileíte unilateral grau 3 a 4
• DOENÇA ATIVA
o Doença ativa por mais de quatro semanas
o BASDAI > ou = 4 (0-10) e uma opinião de especialista para o início da terapia anti-TNF
• FALHA NO TRATAMENTO
o Todos os pacientes devem ter passado por tentativas de tratamento com pelo menos dois tipos de AINHs, cada tentativa definida como:
• Tratamento por > ou = a três meses na dose máxima recomendada ou tolerada
• Tratamento por < de três meses se cancelado por intolerância, toxicidade ou contra-indicação
o Pacientes com artrite periférica sintomática (normalmente tendo falta de resposta a injeção local de corticosteróide para aqueles com
envolvimento oligoarticular) devem ter passado por tentativas de tratamento com AINHs e sulfassalazina
o Pacientes com entesite sintomática devem ter passado por tentativas de pelo menos duas injeções locais de corticosteróides
• CONTRA-INDICAÇÕES
o Gestantes ou mulheres que estão amamentando; deve ser orientada anticoncepção
o Infecção ativa
o Pacientes com alto risco de infecção incluindo:
• Úlcera crônica de MMII
• TB prévia
• Artrite séptica nos últimos 12 meses
• Sepses em prótese articular nos últimos 12 meses, ou indefinidamente se a prótese ainda está no lugar
• Infecções pulmonares persistentes ou recorrentes
• Presença de cateter urinário permanente
o História de LES ou esclerose múltipla
o Estados malignos ou pré-malignos excluindo:
• Carcinoma de célula basal
• Malignidades diagnosticadas ou tratadas há mais de 10 anos (quando a probabilidade de cura é alta)
Instrumentos de Avaliação em Espondilite Anquilosante
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Avaliação da resposta
• CRITÉRIO DE RESPOSTA
o BASDAI: 50% de mudança relativa ou mudança absoluta de 2 (escala de 0-10) e opinião de especialista: Continuação sim/não
• TEMPO DE AVALIAÇÃO
o Entre 6 e 12 semanas
Avaliação da doença
• CORE SET ASAS
o Função (BASFI ou DFI)
o Dor (EVA, na última semana e da coluna durante a noite devido à EA e EVA, na última semana e
da coluna devido à EA)
o Mobilidade da coluna (expansão torácica e Teste de Schober modificado e distância occipito-parede e
flexão lombar lateral)
o Avaliação global do paciente (EVA, última semana)
o Rigidez (duração da rigidez matinal da coluna na última semana)
o Articulações periféricas e enteses (número de articulações edemaciadas (44 articulações), escore para entesites como os
desenvolvidos em Maastrich, berlim ou São Francisco
o Provas de atividade inflamatória (PCR ou VHS)
o Fadiga (EVA)
• BASDAI
o EVA – fadiga na última semana
o EVA – dor cervical, lombar, ou em quadris na última semana
o EVA – dor/ inflamação em outras articulações que não região cervical, coluna lombar ou quadris na última semana
o EVA – desconforto em quaisquer áreas sensíveis ao tato ou à pressão na última semana
o EVA – rigidez matinal na última semana
o Duração e intensidade (EVA) – rigidez matinal (mais de 120 min)
Torres e cols.
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