terça-feira, 26 de novembro de 2013
MANUAL COMPLETO DA ANVISA ( AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA ) LAVAGEM DAS MÃOS
SEGURANÇA DO PACIENTE EM SERVIÇOS DE SAÚDE
Higienização das mãos
Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa
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1ª edição
Diretor-Presidente Adjunto de Diretor-Presidente
Dirceu Raposo de Mello Norberto Rech
Diretores Adjuntos de Diretores
Agnelo Santos Queiroz Filho Rafael Aguiar Barbosa
Dirceu Aparecido Brás Barbano Luiz Roberto da Silva Klassmann
José Agenor Álvares da Silva Neilton Araujo de Oliveira
Maria Cecília Martins Brito Luiz Armando Erthal
Chefe de Gabinete
Alúdima Mendes
Elaboração, edição e distribuição:
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71205-050 Brasília – DF
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Assessora-Chefe de Divulgação e Comunicação Institucional
Martha Nazaré Corrêa
Gerente-Geral de Tecnologia de Serviços de Saúde
Heder Murari Borba
Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Higienização das Mãos / Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2009.
105p.
1. Vigilância Sanitária. 2. Saúde Pública. I. Título.
Coordenação
Camilo Mussi
Leandro Queiroz Santi
Coordenação técnica
Fabiana Cristina de Sousa
Heiko Thereza Santana
Redação
Adjane Balbino de Amorim - Anvisa
Celso Luiz Cardoso - Universidade Estadual de Maringá (UEM) - PR
Fabiana Cristina de Sousa - Anvisa
Heiko Thereza Santana - Anvisa
Ícaro Boszczowski - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP; Hospital Geral de Itapecerica
da Serra - SP
Isabela Pereira Rodrigues - Hospital Universitário de Brasília (HUB) - DF
João Nóbrega de Almeida Júnior - Hospital Tatuapé - SP
Julia Yaeko Kawagoe - Hospital Israelita Albert Einstein - SP
Luci Corrêa - Hospital Israelita Albert Einstein/Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - SP
Lycia Mara Jenné Mimica - Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
Regina Maria Gonçalves Barcellos - Anvisa
Rogério da Silva Lima - Opas/OMS
Silvia Figueiredo Costa - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) - SP
Revisão técnica - Anvisa
Carolina Palhares Lima
Cíntia Faiçal Parenti
Elenildes Silva Amorim
Eliane Blanco Nunes
Fernando Casseb Flosi
Magda Machado de Miranda
Sâmia de Castro Hatem
Suzie Marie Gomes
Rosa Aires Borba Mesiano
Revisão técnica externa
Anaclara Ferreira Veiga Tipple - Universidade Federal de Goiás (UFG) - GO
Edmundo Machado Ferraz - Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC)
Karin Lohmann Bragagnolo - Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) - PR
Mariusa Basso - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) - SP
Mirtes Loeschner Leichsenring - Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - SP
Plínio Trabasso - Associação Brasileira dos Profissionais em Controle de Infecção e Epidemiologia Hospitalar (ABIH)
Rogério da Silva Lima - Opas/OMS
Valeska de Andrade Stempliuk - Hospital Sírio-Libanês - SP
Colaboradora
Melissa de Carvalho Amaral (in memoriam)
Revisão textual
Dulce Bergmann
Capa e projeto gráfico
TDA Comunicação
Ilustrações
Paulo Roberto Gonçalves Coimbra
Fotos
Almir Wanzeller
Luiz Henrique Pinto
Raimundo Walter Sampaio
SIGLÁRIO
APIC - Association for Professionals in Infection Control and Epidemiology
CCIH - Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
CDC - Centers for Disease Control and Prevention (Centros de Controle e Prevenção de Doenças)
CFT - Comissão de Farmácia e Terapêutica
CIM - Concentração Inibitória Mínima
ESBL - Extended-Spectrum Beta-Lactamase
FDA - Food and Drug Administration
GGTES - Gerência-Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde
HICPAC - Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee
HIV - Human Immunodeficiency Virus
MLEE - Multilocus Enzime Electrophoresis
MRSA - Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus
OMS - Organização Mundial da Saúde
Opas - Organização Pan-Americana da Saúde
PCR - Polymerase Chain Reaction
PFGE - Pulsed-Field Gel Electrophoresis
Portaria GM/MS - Portaria do Gabinete do Ministro/Ministério da Saúde
Portaria MS - Portaria do Ministério da Saúde
PVPI - Polivinilpirrolidona-iodo
RAPD - Random Amplification of Polymorphic DNA
RDC/Anvisa - Resolução de Diretoria Colegiada/Agência Nacional de Vigilância Sanitária
REP - Repetitive Extragenic Palindromic
RFLP - Restriction Fragment Length Polymorphism
SCIH - Serviço de Controle de Infecção Hospitalar
TFM - Tentative Final Monograph
UFC - Unidade Formadora de Colônia
Uipea - Unidade de Investigação e Prevenção das Infecções e dos Eventos Adversos
UTI - Unidade de Terapia Intensiva
VRE - Vancomycin-Resistant Enterococci
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................................................11
INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................................13
CAPÍTULO 1 - PERSPECTIVA HISTÓRICA...................................................................................................................15
1.1 Os primeiros conhecimentos..............................................................................................................................15
1.2 O estudo de Semmelweis.....................................................................................................................................15
1.3 A enfermagem e a prevenção das infecções ................................................................................................16
1.4 O início da era microbiana...................................................................................................................................16
1.5 Lister e a anti-sepsia..............................................................................................................................................17
1.6 Publicações sobre higienização das mãos.....................................................................................................17
CAPÍTULO 2 - ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DA PELE......................................................................................21
2.1 Microbiota transitória e microbiota residente................................................................................................21
CAPÍTULO 3 - EVIDÊNCIA DA TRANSMISSÃO DE PATÓGENOS POR MEIO DAS MÃOS.............................25
3.1 Evidência indireta....................................................................................................................................................25
3.2 Evidência direta: tipagem molecular................................................................................................................26
CAPÍTULO 4 - CONTROLE DA DISSEMINAÇÃO DE MICRORGANISMOS MULTIRRESISTENTES..............31
4.1 Mãos como fonte de surtos de infecção relacionada à assistência à saúde causados por
microrganismos multirresistentes.....................................................................................................................31
4.2 Higienização das mãos em unidades com pacientes colonizados/infectados por
microrganismos multirresistentes ....................................................................................................................33
CAPÍTULO 5 - PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS.......................................................39
5.1 Sabonete comum (sem associação de anti-séptico)..................................................................................39
5.2 Agentes anti-sépticos............................................................................................................................................42
5.2.1 Álcool..............................................................................................................................................................42
5.2.2 Clorexidina....................................................................................................................................................46
5.2.3 Iodóforos - PVPI (Polivinilpirrolidona iodo)..............................................................................................................47
5.2.4 Triclosan.........................................................................................................................................................49
5.3 Qual o melhor produto para realizar a higienização das mãos?............................................................50
5.4 Considerações da Anvisa......................................................................................................................................52
CAPÍTULO 6 - EQUIPAMENTOS E INSUMOS NECESSÁRIOS PARA A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS..........57
6.1 Equipamentos...........................................................................................................................................................57
6.1.1 Lavatório, pia de lavagem e lavabo cirúrgico...................................................................................57
6.1.2 Dispensadores de sabonete e anti-sépticos.....................................................................................58
6.1.3 Porta-papel toalha .....................................................................................................................................59
6.1.4 Lixeira para descarte do papel toalha...................................................................................................60
6.2 Insumos e suprimentos........................................................................................................................................60
6.2.1 Água................................................................................................................................................................60
6.2.2 Papel toalha.................................................................................................................................................60
CAPÍTULO 7 - HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS................................................................................................................63
7.1 Indicações .................................................................................................................................................................64
7.1.1 Uso de água e sabonete...........................................................................................................................64
7.1.2 Uso de preparações alcoólicas...............................................................................................................65
7.1.3 Uso de agentes anti-sépticos.................................................................................................................65
7.1.3.1 Higienização anti-séptica .........................................................................................................65
7.1.3.2 Degermação da pele...................................................................................................................65
7.2 Técnicas.......................................................................................................................................................................66
7.2.1 Higienização simples.................................................................................................................................66
7.2.1.1 Finalidade........................................................................................................................................66
7.2.1.2 Duração do procedimento:......................................................................................................66
7.2.1.3 Técnica..............................................................................................................................................66
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 9
7.2.2 Higienização anti-séptica.........................................................................................................................68
7.2.2.1 Finalidade........................................................................................................................................68
7.2.2.2 Duração do procedimento.......................................................................................................68
7.2.2.3 Técnica.............................................................................................................................................68
7.2.3 Fricção das mãos com anti-séptico (preparações alcoólicas).....................................................68
7.2.3.1 Finalidade........................................................................................................................................68
7.2.3.2 Duração do procedimento:......................................................................................................68
7.2.3.3 Técnica..............................................................................................................................................68
7.2.4 Anti-sepsia cirúrgica ou preparo pré-operatório das mãos
7.2.4.1 Finalidade........................................................................................................................................70
7.2.4.2 Duração do procedimento.......................................................................................................70
7.2.4.3 Técnica..............................................................................................................................................70
7.3 Uso de Luvas..............................................................................................................................................................71
7.3.1 Indicações do uso de luvas estéreis.....................................................................................................72
7.4 Outros aspectos da higienização das mãos...................................................................................................72
CAPÍTULO 8 - EFEITOS ADVERSOS PROVOCADOS PELOS PRODUTOS UTILIZADOS PARA A
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS................................................................................................................75
8.1 Efeitos adversos provocados pelos sabonetes associados ou não a anti-sépticos.........................75
8.2 Efeitos adversos provocados pelas preparações alcoólicas.....................................................................75
8.3 Estratégias para reduzir os efeitos adversos provocados pelos produtos utilizados para a
higienização das mãos..........................................................................................................................................76
8.4 Fatores a considerar ao selecionar produtos para a higienização das mãos.....................................76
CAPÍTULO 9 - MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS................................................................................................................81
9.1 As práticas de higienização das mãos entre os profissionais de saúde...............................................81
9.2 Adesão às práticas de higienização das mãos pelos profissionais de saúde.....................................82
9.3 Fatores relacionados à adesão............................................................................................................................83
10 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
9.4 Aspectos relacionados ao comportamento.................................................................................................84
9.5 Organizando um programa para promoção da higienização das mãos.............................................86
9.5.1 Como e por onde começar?....................................................................................................................86
9.6 Contando com colaboradores............................................................................................................................87
9.7 Colaboração de universidades...........................................................................................................................88
9.8 Colaboração de pacientes, familiares, acompanhantes e visitantes.....................................................88
9.9 Formulando e escolhendo as estratégias.......................................................................................................89
9.10 Indicadores de desempenho.............................................................................................................................90
9.11 Considerações finais...............................................................................................................................................90
CAPÍTULO 10 - ESTRATÉGIA DA OMS PARA A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS VISANDO A
SEGURANÇA DO PACIENTE EM SERVIÇOS DE SAÚDE ...........................................................95
10.1 - Recomendações da OMS para a higienização das mãos.......................................................................95
10.2 - Estratégia multimodal (multifacetada) de melhoria da higienização das mãos...........................96
CAPÍTULO 11 - IMPACTO DA PROMOÇÃO E MELHORIA DA ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO
DAS MÃOS NAS INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE .......................99
GLOSSÁRIO...................................................................................................................................................................... 105
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 11
APRESENTAÇÃO
A higienização das mãos é reconhecida mundialmente como uma medida primária, mas muito
importante, no controle de infecções relacionadas à assistência à saúde. Por esse motivo, tem sido
considerada como um dos pilares da prevenção e do controle de infecções nos serviços de saúde,
incluindo aquelas decorrentes da transmissão cruzada de microrganismos multirresistentes.
Estudos sobre o tema mostram que a adesão dos profissionais de saúde às práticas de higienização
das mãos de forma constante e na rotina diária ainda é baixa, devendo ser estimulada para tornar
esses profissionais conscientes da importância de tal hábito. Torna-se imprescindível reformular essas
práticas nos serviços de saúde, na tentativa de mudar a cultura prevalente, de modo a aumentar
a adesão à higienização das mãos. Dessa forma, a atenção dos gestores públicos, dos diretores e
administradores dos serviços de saúde e dos educadores deve estar voltada para o incentivo e a
sensibilização dos profissionais com relação à adoção de práticas cotidianas de higienização das
mãos. Todos devem estar conscientes da importância dessas medidas para garantir a segurança e a
qualidade da atenção prestada.
Para contribuir com a prevenção e o controle das infecções, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
apresenta o manual “Segurança do paciente em serviços de saúde: higienização das mãos”.
Buscou-se aprofundar os conteúdos do guia “Higienização das mãos em serviços de saúde”, publicado
em 2007 pela Anvisa, assim como ampliar o tema, abordando outros conteúdos de interesse para
a saúde pública.
O presente manual destina-se aos profissionais que atuam em serviços de saúde, em todos os níveis
de atenção. Assim, não apenas esses profissionais e os administradores desses serviços, mas também
diretores de hospitais, educadores e autoridades sanitárias, poderão contar com informações relevantes
para apoiar as ações de promoção e melhoria das práticas de higienização das mãos. Houve
preocupação, por parte dos autores, em dar aos leitores orientações claras, eficazes e aplicáveis sobre
os temas abordados.
A Anvisa espera que esta publicação contribua para aumentar a adesão dos profissionais às boas
práticas de higienização das mãos, visando a prevenção e a redução das infecções, bem como a
segurança de pacientes, profissionais e demais usuários dos serviços de saúde. Conforme preconiza
este manual, higienizar as mãos constitui o primeiro passo para a busca da segurança e da excelência
na qualidade da assistência ao paciente.
Agnelo Santos Queiroz Filho
Diretor da Anvisa
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 13
INTRODUÇÃO
As infecções relacionadas à assistência à saúde constituem um problema grave e um grande desafio,
exigindo dos responsáveis pelos serviços de saúde ações efetivas de prevenção e controle.
Tais infecções ameaçam tanto os pacientes quanto os profissionais de saúde, podendo acarretarlhes
sofrimentos e resultar em gastos excessivos para o sistema de saúde. Podem, ainda, ter como
efeito processos e indenizações judiciais, nos casos comprovados de negligência durante a assistência
prestada.
Atualmente, a atenção à segurança do paciente envolvendo o tema higienização das mãos tem sido
tratada como prioridade. Um exemplo disso é a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, iniciativa
da Organização Mundial da Saúde (OMS) apoiada em intervenções e ações que têm reduzido
os problemas relacionados com a segurança dos pacientes nos países integrantes dessa aliança (ver
http://www.who.int/patientsafety/en. Tal iniciativa realça o fato de que esse tema agora é reconhecido
como uma questão global.
As mãos são consideradas as principais ferramentas dos profissionais que atuam nos serviços de saúde,
pois é através delas que eles executam suas atividades. Assim, a segurança dos pacientes, nesses
serviços, depende da higienização cuidadosa e freqüente das mãos desses profissionais.
A Portaria do Ministério da Saúde (MS) n° 2.616, de 12 de maio de 1998, estabelece as ações mínimas
a serem desenvolvidas sistematicamente, com vistas à redução da incidência e da gravidade das
infecções relacionadas aos serviços de saúde. Destaca também a necessidade da higienização das
mãos nos serviços de saúde. A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 50 da Anvisa, de 21 de fevereiro
de 2002, dispõe sobre Normas e Projetos Físicos de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde,
definindo, entre outras, a necessidade de lavatórios/pias para a higienização das mãos. Esses instrumentos
normativos reforçam o papel dessa prática como a ação mais importante na prevenção e no
controle das infecções relacionadas à assistência à saúde.
Além de atender às exigências legais e éticas, o controle de infecções nos serviços de saúde, incluindo
as práticas de higienização das mãos, concorre para a melhoria da qualidade no atendimento e
na assistência ao paciente. As vantagens dessas práticas são inquestionáveis, desde a redução da
morbidade e da mortalidade dos pacientes até a redução de custos associados ao tratamento dos
quadros infecciosos.
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 15
CAPÍTULO 1 | PERSPECTIVA HISTÓRICA
Fabiana Cristina de Sousa
Isabela Pereira Rodrigues
Heiko Thereza Santana
1.1 Os primeiros conhecimentos
A prevenção e o controle das infecções relacionadas
à assistência à saúde constituem grandes
desafios da medicina atual. Desde 1846, uma medida
simples, a higienização apropriada das mãos,
é considerada a mais importante para reduzir a
transmissão de infecções nos serviços de saúde
(CDC, 2002; LARSON, 2001; NOGUERAS et al., 2001).
A história das infecções hospitalares acompanha a
criação dos primeiros hospitais, em 325 d.C. Por determinação
do Concílio de Nicéia, os nosocômios
foram inicialmente construídos ao lado das catedrais.
Normalmente, porém, não havia separação
por gravidade de doença nem técnicas de assepsia
que evitassem a disseminação de infecções.
Há muito já era aventada a relação entre os hospitais
e as infecções, mas foi apenas no século
XIX, quando a medicina ainda era permeada pela
teoria da geração espontânea e pela concepção
atmosférico-miasmática, que James Young Simpson
(1811-1870) indicou a realização de procedimentos
cirúrgicos domiciliares, ao constatar que
a mortalidade relacionada a amputações era de
41,6% quando realizada no ambiente hospitalar
e de apenas 10,9% nos domicílios (A. T. FERNANDES;
M. O. V. FERNANDES; RIBEIRO FILHO, 2000).
1.2 O estudo de Semmelweis
Foi o médico húngaro Ignaz Philip Semmelweis
(1818-1865) que, em 1846, comprovou a íntima
relação da febre puerperal com os cuidados médicos.
Ele notou que os médicos que iam diretamente
da sala de autópsia para a de obstetrícia
tinham odor desagradável nas mãos.
Semmelweis pressupôs que a febre puerperal
que afetava tantas parturientes fosse causada
por “partículas cadavéricas” transmitidas da sala
Ignaz Philip Semmelweis (1818-1865)
de autópsia para a ala obstétrica por meio das
mãos de estudantes e médicos. Por volta de
maio de 1847, ele insistiu que estudantes e médicos
lavassem suas mãos com solução clorada
após as autópsias e antes de examinar as pacientes
da clínica obstétrica (A. T. FERNANDES; M. O.
V. FERNANDES; RIBEIRO FILHO, 2000; TRAMPUZ;
WIDMER, 2004). No mês seguinte após esta intervenção,
a taxa de mortalidade caiu de 12,2%
para 1,2% (MACDONALD, 2004).
Dessa forma, Semmelweis, por meio do primeiro
estudo experimental sobre este tema, demonstrou
claramente que a higienização apropriada
16 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
PERSPECTIVA HISTÓRICA
das mãos podia prevenir infecções puerperais e
evitar mortes maternas (SEMMELWEIS, 1988; HUGONNET;
PITTET, 2000).
1.3 A enfermagem e a prevenção das
infecções
Como precursora da enfermagem moderna, destaca-
se Florence Nightingale (1820-1910), jovem
culta e de família rica que desde cedo ansiava
por dedicar sua vida aos outros.
Em 1854, foi convidada para trabalhar junto aos
soldados feridos em combate na Guerra da Criméia,
com o objetivo de reformular a assistência
aos doentes. As enfermarias encontravam-se em
situação precária: sem conforto, com escassez
de medicamentos e assistência inadequada, sem
acesso e transporte aos doentes, com vários casos
de infecção pós-operatória, sem vestimentas limpas,
sem alimentos e água potável, com esgoto a
céu aberto e o porão infestado por ratos e insetos.
Florence Nightingale e sua equipe de enfermeiras
introduziram uma série de medidas para organizar
a enfermaria, como higiene pessoal de
cada paciente, utensílios de uso individual, instalação
de cozinha, preparo de dieta indicada, lavanderia
e desentupimento de esgotos (RODRIGUES,
1997). Com a implantação dessas medidas
básicas, conseguiram reduzir sensivelmente a
taxa de mortalidade
1.4 O início da era microbiana
No fim do século XVII, Anton van Leeuwenhoek
(1632-1723) descobriu as bactérias, fungos e protozoários,
denominando-os “animálculos” (A. T.
FERNANDES; M. O. V. FERNANDES; RIBEIRO FILHO,
2000; SEYMOUR, 2001). Estes foram logo associados
à fermentação e à putrefação, e explicados
pela teoria da geração espontânea, segundo a qual
os microrganismos seriam gerados pela força vital.
O químico francês Louis Pasteur (1822-1895),
porém, realizou vários experimentos contrários
à teoria da geração espontânea, derrotando-a
irrefutavelmente com sua teoria microbiana da
fermentação (1850), quando ligou a ação fermentadora
de microrganismos ao produto final
fermentado (A. T. FERNANDES; M. O. V. FERNANDES;
RIBEIRO FILHO, 2000).
Vibrio cholerae
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 17
PERSPECTIVA HISTÓRICA
Joseph Lister (1827-1912)
O próximo passo para uma maior compreensão
da importância dos microrganismos foi dado
pelo médico alemão Robert Koch (1843-1910),
que, ao estudar o carbúnculo, foi o primeiro a
provar que um tipo específico de micróbio causa
uma determinada doença, criando a teoria microbiana
da doença (1846) (A. T. FERNANDES; M.
O. V. FERNANDES; RIBEIRO FILHO, 2000).
1.5 Lister e a anti-sepsia
O cirurgião inglês Joseph Lister (1827-1912) pesquisou
um modo de manter as incisões cirúrgicas
livres da contaminação por microrganismos.
Associando a conhecida propriedade do fenol de
destruir as bactérias, ele passou a utilizar compressas
cirúrgicas banhadas nessa solução, borrifando
também a sala de operações com ácido carbólico
e obtendo bons resultados. Isso originou as técnicas
de assepsia. A mortalidade após amputação
caiu de 46% antes da anti-sepsia para 15% após
os experimentos de Lister (A. T. FERNANDES; M. O.
V. FERNANDES; RIBEIRO FILHO, 2000).
1.6 Publicações sobre higienização das mãos
Entre 1975 e 1985, foram publicados guias acerca
de práticas de lavagem das mãos em hospitais
pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças
(CDC, 2002). Esses guias recomendavam
lavar as mãos com sabonete não associado a
anti-séptico antes e após contato com pacientes
e lavá-las com sabonete associado a anti-séptico
antes e após a realização de procedimentos invasivos
ou promoção de cuidados a pacientes
de alto risco. O uso de agentes anti-sépticos não
hidratados, como soluções à base de álcool, era
recomendado apenas em emergências ou em
áreas onde não houvesse pias.
No período entre 1988 e 1995, guias para lavagem
e anti-sepsia das mãos foram publicados
pela Associação de Profissionais em Controle
de Infecções e Epidemiologia (Association
for Professionals in Infection Control and
Epidemiology - APIC). As indicações recomendadas
para lavagem das mãos eram similares
àquelas listadas nas orientações dos CDC. Em
1995 e 1996, o Comitê Consultivo em Práticas de
Controle de Infecções (Healthcare Infection Control
Practices Advisory Committee - HICPAC) do
CDC recomendava que um sabonete associado
a anti-séptico ou um agente não-hidratado fosse
usado para higienizar as mãos daqueles que saíssem
dos quartos de pacientes com patógenos
multirresistentes (COIA et al., 2006).
Em 2002, o CDC publicou o “Guia para higiene de
mãos em serviços de assistência à saúde”. Nesta
publicação, o termo “lavagem das mãos” foi substituído
por “higienização das mãos” devido à maior
abrangência desse procedimento. De acordo com
esse documento, a fricção anti-séptica das mãos
com preparações alcoólicas constitui o método
preferido de higienização das mãos pelos profissionais
que atuam em serviços de saúde (CDC, 2002).
A OMS, por meio da Aliança Mundial para a Segurança
do Paciente, tem dedicado esforços no
18 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
PERSPECTIVA HISTÓRICA
Higienização das Mãos em Serviços de Saúde (BRASIL, 2007)
Uma Assistência Limpa é uma Assistência mais Segura - Clean care is
safer care (Aliança Mundial para a Segurança do Paciente/OMS)
sentido de elaborar diretrizes e estratégias para
a implantação de medidas visando a adesão dos
profissionais de saúde às práticas de higienização
das mãos (WHO, 2006a; 2006b). Tal iniciativa está
direcionada para os serviços de saúde, envolvendo
os profissionais, os pacientes e a comunidade,
com o objetivo de reduzir os riscos inerentes a infecções
relacionadas à assistência à saúde.
No Brasil, em 1989, o Ministério da Saúde publicou
o manual “Lavar as mãos: informações para
os profissionais de saúde”, a fim de orientar os
profissionais quanto às normas e aos procedimentos
para lavar as mãos, visando a prevenção
e o controle das infecções (BRASIL, 1989).
A importância dessa prática foi reforçada pelo
Ministério da Saúde, quando incluiu recomendações
para lavagem das mãos no Anexo IV da Portaria
MS nº 2.616/98, a qual instituiu o programa
de controle de infecções nos estabelecimentos
de assistência à saúde no país (BRASIL, 1998).
Atualmente, as ações para o controle de infecções
em serviços de saúde são coordenadas,
no âmbito federal, pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, por meio da Unidade de
Investigação e Prevenção das Infecções e dos
Eventos Adversos (Uipea) da Gerência-Geral de
Tecnologia em Serviços de Saúde (GGTES), que
incentiva medidas voltadas à prevenção de riscos
e à promoção da segurança do paciente. Em
consonância com as diretrizes da OMS, a Anvisa
vem desenvolvendo ações relacionadas à higienização
das mãos, com o objetivo de aumentar
a adesão a essa prática pelos profissionais de
saúde. Nesse contexto, foi publicado, em 2007, o
guia técnico “Higienização das mãos em serviços
de saúde”, com informações atualizadas sobre o
tema para profissionais, familiares dos pacientes
e visitantes dos serviços de saúde (BRASIL, 2007).
A publicação encontra-se também disponível no
site da Anvisa (www.anvisa.gov.br).
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 19
PERSPECTIVA HISTÓRICA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Higienização das mãos em serviços de saúde. Brasília,
2007. Disponível em: . Acesso
em: maio 2007.
______. Ministério da Saúde. Portaria MS n° 2.616, de 12 de maio de 1998. Estabelece as normas para
o programa de controle de infecção hospitalar. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 maio 1998.
______. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Organização e Desenvolvimento de Serviços de
Saúde. Programa de Controle de Infecção Hospitalar. Lavar as mãos: informações para profissionais
de saúde. Série A: Normas e Manuais Técnicos. Brasília, DF: Centro de Documentação do Ministério
da Saúde, 1989.
CDC (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION). Guideline for hand hygiene in health-care
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Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 21
CAPÍTULO 2 | ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DA PELE
Celso Luiz Cardoso
Lycia Mara Jenné Mimica
Para entender os objetivos das diversas abordagens
da higienização das mãos, o conhecimento
da microbiota normal da pele é essencial.
A pele consiste no revestimento do organismo e
é indispensável à vida, pois isola componentes
orgânicos do meio exterior, impede a ação de
agentes externos de qualquer natureza, evita
perda de água, eletrólitos e outras substâncias
do meio interno, oferece proteção imunológica,
faz termorregulação, propicia a percepção e tem
função secretória (HERCEG; PETERSON, 1997;
GRANATO, 2003; CDC, 2002).
A estrutura básica da pele inclui, da camada externa
para a mais interna: estrato córneo, epiderme,
derme e hipoderme. A barreira à absorção percutânea
está no interior do estrato córneo, que é o mais
fino e menor compartimento da pele (CDC, 2002).
A pele é um órgão dinâmico, pois a sua formação
e integridade estão sob controle homeostático, e
qualquer alteração resulta em aumento da proliferação
de suas células. Devido à sua localização
e extensa superfície, é constantemente exposta
a vários tipos de microrganismos do ambiente.
Assim, a pele normal do ser humano é colonizada
por bactérias e fungos, sendo que diferentes
áreas do corpo têm concentração de bactérias
variáveis por centímetro quadrado (GRANATO,
2003; CDC, 2002; KAMPF; KRAMER, 2004):
• Couro cabeludo: 106 UFC/cm².
• Axila: 105 UFC/cm².
• Abdômen ou antebraço: 104 UFC/cm².
• Mãos dos profissionais de saúde: 104 a 106
UFC/ cm2.
2.1 Microbiota transitória e microbiota residente
Price (1938), em seu clássico estudo sobre a
quantificação da microbiota da pele, dividiu as
bactérias isoladas das mãos em duas categorias:
transitória e residente.
A microbiota transitória, que coloniza a camada
superficial da pele, sobrevive por curto período
de tempo e é passível de remoção pela higienização
simples das mãos com água e sabonete,
por meio de fricção mecânica. É freqüentemente
adquirida por profissionais de saúde durante contato
direto com o paciente (colonizado ou infectado),
ambiente, superfícies próximas ao paciente,
produtos e equipamentos contaminados. A mi-
Estrutura básica da pele
Epiderme
Poros
Derme
Duto da glândula
sudorípara
Duto da glândula
Raiz do pêlo
Tecido subcutâneo
Folículo capilar
22 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DA PELE
crobiota transitória consiste de microrganismos
não-patogênicos ou potencialmente patogênicos,
tais como bactérias, fungos e vírus, que raramente
se multiplicam na pele. No entanto, alguns
deles podem provocar infecções relacionadas à
assistência à saúde (KAMPF; KRAMER, 2004).
A microbiota residente, que está aderida às camadas
mais profundas da pele, é mais resistente
à remoção apenas com água e sabonete. As bactérias
que compõem esta microbiota (por exemplo,
estafilococos coagulase-negativos e bacilos
difteróides) são agentes menos prováveis de infecções
veiculadas por contato.
As mãos dos profissionais de saúde podem ser
persistentemente colonizadas por microrganismos
patogênicos (como Staphylococcus aureus,
bacilos Gram-negativos ou leveduras) que, em
áreas críticas como unidades de terapia intensiva
(UTIs) e unidades com pacientes imunocomprometidos
e pacientes cirúrgicos, podem ter um importante
papel adicional como causa de infecção
relacionada à assistência à saúde (ROTTER, 2004).
Alguns autores documentaram que, apesar do
número de microrganismos da microbiota transitória
e da residente variar consideravelmente de
um indivíduo para outro, geralmente é constante
para uma determinada pessoa (CDC, 2002; LEVIN;
KOBATA; LITVOC, 2006; BRASIL, 1989). Sendo
assim, a pele pode servir como reservatório
de microrganismos que podem ser transmitidos
por contato direto – pele com pele – ou indireto,
por meio de objetos e superfícies do ambiente
(LEVIN; KOBATA; LITVOC, 2006; BRASIL, 1989).
Além das microbiotas residente e transitória,
Rotter (1999) descreve um terceiro tipo de microbiota
das mãos, denominada microbiota infecciosa.
Nesse grupo, poderiam ser incluídos
microrganismos de patogenicidade comprovada,
que causam infecções específicas como
abscessos, paroníquia ou eczema infectado das
mãos. As espécies mais freqüentemente encontradas
são Staphylococcus aureus e estreptococos
beta-hemolíticos.
Deve-se ressaltar ainda que fungos (por exemplo,
Candida spp.) e vírus (como, por exemplo,
vírus das hepatites A, B e C; vírus da imunodeficiência
humana - HIV; vírus respiratórios; vírus de
transmissão fecal-oral, como o rotavírus; vírus do
grupo herpes, como varicela, vírus Epstein-Barr
e citomegalovírus) podem colonizar transitoriamente
a pele, principalmente as polpas digitais,
após contato com pacientes ou superfícies inanimadas,
podendo ser transmitidos ao hospedeiro
suscetível (KAMPF; KRAMER, 2004).
Na Tabela 1 são apresentados os microrganismos
que compõem a microbiota encontrada na pele
humana.
TABELA 1 - Microrganismos encontrados na pele.
Microrganismos Faixa de Prevalência (%)
Staphylococcus epidermidis 85-100
Staphylococcus aureus 10-15
Streptococcus pyogenes
(grupo A)
0-4
Propionibacterium acnes
(difteróides anaeróbios)
45-100
Corinebactérias
(difteróides aeróbios)
55
Candida spp. comum
Clostridium perfringens
(especialmente nas
extremidades inferiores)
40-60
Enterobacteriaceae incomum
Acinetobacter spp. 25
Moraxella spp. 5-15
Mycobacterium spp. raro
Microscopia Eletrônica da Epiderme
Adaptado de: HERCEG; PETERSON, 1997
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 23
ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DA PELE
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Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 25
CAPÍTULO 3 | EVIDÊNCIA DA TRANSMISSÃO DE PATÓGENOS POR MEIO
DAS MÃOS
João Nóbrega de Almeida Júnior
Silvia Figueiredo Costa
A higienização das mãos sempre foi considerada
uma medida básica para o cuidado ao paciente.
Desde o estudo de Semmelweis, no século XIX, as
mãos dos profissionais de saúde vêm sendo implicadas
como fonte de transmissão de microrganismos
no ambiente hospitalar (CDC, 2002).
A contaminação das mãos dos profissionais pode
ocorrer durante o contato direto com o paciente
ou por meio do contato indireto com produtos e
equipamentos no ambiente próximo a este, como
bombas de infusão, barras protetoras das camas e
estetoscópio, entre outros. Bactérias multirresistentes
e mesmo fungos como Candida parapsilosis e
Rhodotorula spp. podem fazer parte da microbiota
transitória das mãos e assim se disseminar entre
pacientes (CDC, 2002; HUANG et al., 1998; SILVA et
al., 2003; CHAKRABARTI et al., 2001).
3.1 Evidência indireta
Vírus, bactérias e fungos, particularmente leveduras,
podem ser transmitidos pelas mãos dos
profissionais de saúde. Estudos observacionais demonstraram,
por exemplo, que a transmissão do
vírus sincicial respiratório ocorria de acordo com o
tipo de contato. Esse vírus foi isolado das mãos de
profissionais que tiveram contato direto com o paciente
ou com superfícies contaminadas próximas
ao paciente (HALL; DOUGLAS; GEIMAN, 1980). Outros
vírus que podem ser transmitidos pelo contato
das mãos são: herpesvírus e vírus respiratórios
como da influenza A e B, da síndrome respiratória
aguda grave e influenza aviária (BRANKSTON et al.,
2007; YU et al., 2007). S. pyogenes, Clostridium difficile
e meningococos são exemplos de outros patógenos
que podem ser transmitidos dessa forma
(FICA et al., 2003; DANEMAN et al., 2005; SAMORE
et al., 1996; ELIAS et al., 2006).
Vários registros na literatura mostram a importância
da transmissão da infecção cruzada como
fonte de surtos de infecção relacionada à assistência
à saúde. Indiretamente, mesmo sem a
comprovação da colonização das mãos dos profissionais
de saúde, já havia sido demonstrado
que a baixa adesão à higienização das mãos era
uma das causas dos surtos de colonização e infecção
por Staphylococcus aureus resistente à meticilina
(Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus
- MRSA) (WANG et al., 2001; WEBER et al., 2002).
Um estudo realizado entre 1988 e 1991 descreveu
uma epidemia de MRSA em uma UTI neonatal,
onde a cepa de MRSA foi a mesma durante toda
a epidemia, reforçando a hipótese de transmissão
de paciente a paciente pelas mãos dos profissionais
de saúde. Nesse período foi observado que
havia neste serviço excesso de pacientes e reduzido
número de funcionários, favorecendo a baixa
adesão às práticas de higienização das mãos.
Surtos causados por bacilos Gram-negativos já
foram associados à baixa adesão às práticas de
higienização das mãos e ao número reduzido de
funcionários. Por exemplo, em um surto ocorrido
em uma unidade de neonatologia de um hospital
brasileiro, verificou-se que a proporção de
funcionários no início do surto era de uma enfermeira
para cada 6,6 pacientes. Durante o surto,
diminuiu para uma enfermeira para cada 12 pacientes
(PESSOA-SILVA et al., 2002).
Entre as medidas implementadas no controle
de surtos de infecção relacionada à assistência à
saúde, a higienização das mãos sempre exerceu
um papel preponderante. Muitos surtos são controlados
após a adoção de medidas que melhoram
a adesão a essa prática, como intervenção
educacional, uso de novos produtos como gel alcoólico
e melhorias relacionadas ao número e à
localização de lavatórios/pias (CDC, 2002; LEVIN
et al., 1998; BOSZCZOWSKI et al., 2005).
Muitas vezes a tipagem molecular evidencia a
presença de um único clone durante a investiga26
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
EVIDÊNCIA DE TRANSMISSÃO DE PATÓGENOS POR MEIO DAS MÃOS
ção de um surto. Apesar de nem sempre ocorrer
a identificação do agente diretamente nas mãos do
profissional de saúde, a fonte da transmissão termina
sendo caracterizada como cruzada, ou seja,
as mãos do profissional serviram como veículo de
transmissão. Surtos associados à transmissão cruzada
com comprovação por meio de tipagem molecular
sem identificação do agente nas mãos do
profissional de saúde já foram descritos para vários
microrganismos como MRSA, Acinetobacter spp.,
Enterococcus resistente à vancomicina (Vancomycin-
Resistant Enterococci - VRE), Clostridium difficile
e Candida spp. (AHMAD et al., 2003; GÜDÜCÜOGLU
et al., 2005; KRANIOTAKI et al., 2006; NOURSE et al.,
2000; PASQUALOTTO et al., 2005; POSTERARO et
al., 2004; REBOLI et al., 1990), sendo que em aproximadamente
30% dos surtos causados por VRE foi
comprovada infecção cruzada pela tipagem molecular
(MORRISON et al., 1997).
A transmissão inter-hospitalar de microrganismos
também foi identificada por meio de tipagem
molecular (MORRISON et al., 1997; DALLACOSTA
et al., 2003; SADER et al., 1996; Moretti et
al., 2004). No Brasil, há inúmeros relatos de transmissão
inter-hospitalar de microrganismos,
como, por exemplo, cepas do mesmo clone de
Acinetobacter multirresistente identificadas em
vários hospitais de São Paulo (DALLA-COSTA et
al., 2003; SADER et al., 1996; Moretti et al., 2004) e
cepas de um mesmo clone desse microrganismo
em diferentes hospitais de Curitiba (DALLA-COSTA
et al., 2003). Também já foi descrita a transmissão
inter-hospitalar de VRE no estado de São
Paulo e de Pseudomonas aeruginosa resistente a
carbapenem, no Rio Janeiro (Moretti et al., 2004;
PELLEGRINO et al., 2002). Esses microrganismos,
porém, não foram identificados nas mãos dos
profissionais de saúde. Na transmissão do VRE,
entretanto, ficou claro que um paciente colonizado
havia sido internado em dois diferentes
hospitais. A transmissão dos agentes através das
mãos dos profissionais de saúde pareceu exercer
um papel fundamental nessa disseminação.
3.2 Evidência direta: tipagem molecular
O avanço tecnológico na área da saúde vem permitindo
que muitas técnicas de biologia molecular
sejam aplicadas ao estudo da patogênese e
da transmissão de microrganismos em serviços
de saúde. As técnicas mais utilizadas são a eletroforese
em gel de campo pulsátil (Pulsed-Field
Gel Electrophoresis - PFGE) e técnicas baseadas
na reação em cadeia da polimerase (Polymerase
Chain Reaction - PCR), como a reação de amplificação
aleatória do DNA polimórfico (Random
Amplification of Polymorphic DNA - RAPD) e a
reação da polimerase em cadeia com seqüências
de elementos extragênicos repetitivos palindrômicos
(Repetitive Extragenic Palindromic
Sequence-Based PCR - REP-PCR). Essas técnicas
são aplicadas principalmente durante a investi-
Escherichia coli
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 27
EVIDÊNCIA DE TRANSMISSÃO DE PATÓGENOS POR MEIO DAS MÃOS
gação de surtos em serviços de saúde (RILEY et
al., 1996; STRUELENS et al., 1993; SU et al., 2000;
VILLARI et al., 2001; ZAWACKI et al., 2004; DIEKEMA
et al., 1997; FOCA et al., 2000).
As mãos dos profissionais de saúde já foram implicadas
como fonte de surtos causados por bactérias
Gram-positivas, bactérias Gram-negativas e
fungos, usando tipagem molecular que evidenciou
o mesmo clone nas mãos desses profissionais
e nos pacientes infectados (LEVIN et al., 1998;
BOSZCZOWSKI et al., 2005; GÜDÜCÜOGLU et al.,
2005; PASQUALOTTO et al., 2005; DIEKEMA et al.,
1997). Também já foi documentada a transmissão
do Clostridium difficile, que é um importante agente
de diarréia hospitalar, por meio das mãos dos
profissionais da saúde. Um estudo prospectivo,
no qual foi utilizado tipagem molecular, avaliou a
freqüência dessa transmissão entre pacientes, em
um período de seis meses. Oito casos foram positivos
para a toxina do C. difficile, sendo que desses
31% tiveram a cultura de fezes positiva. Dez (14%)
profissionais de saúde tiveram a cultura das mãos
positiva para esta bactéria, e um clone designado
“Clone D1” foi encontrado nos pacientes, no ambiente
hospitalar e nas mãos dos profissionais de
saúde (SAMORE et al., 1996).
Em um surto descrito no Brasil, isolados de Candida
parapsilosis idênticos foram achados nas mãos
de dois profissionais de saúde e em seis pacientes
com candidemia (LEVIN et al., 1998). Outro surto
envolvendo este agente identificou o mesmo
clone nas mãos de dois profissionais e de três pacientes
com candidemia (DIEKEMA et al., 1997). As
mãos dos profissionais de saúde também já foram
identificadas, por meio de tipagem molecular,
como fonte de infecção de fungos como Pichia
anomala e Malassezia spp. (CHAKRABARTI et al.,
2001; PASQUALOTTO et al., 2005).
Os estudos envolvendo tipagem molecular, portanto,
reforçam a importância das mãos dos profissionais
de saúde como fonte de infecção relacionada
à assistência à saúde.
No Quadro 1, são apresentados alguns estudos
sobre surtos em serviços de saúde envolvendo
os agentes, os resultados e as técnicas utilizadas
para a elucidação desses surtos.
Quadro 1 - Principais estudos que evidenciam a associação das mãos contaminadas com o aparecimento de
surtos em serviços de saúde
Autor e ano
da publicação
Unidade Agente Resultado Técnica
Samore et al.
(1996)
Hospital Clostridium difficile
Mesmo clone identificado nos pacientes, no ambiente
hospitalar e nas mãos de dez profissionais de saúde.
PFGE
RFLP
Levin et al.
(1998)
Unidade oncohematológica
Candida parapsilosis
Seis pacientes com candidemia e cepas idênticas nas mãos
de dois profissionais de saúde.
PFGE
Foca et al. (2000) UTI neonatal
Pseudomonas
aeruginosa
Mesmo clone no surto e nas mãos dos profissionais de saúde. PFGE
Villari et al.
(2001)
UTI neonatal Serratia marcescens
Mesmo clone no surto e nas mãos dos profissionais de saúde.
56 colonizados, 15 infecções, mãos de profissional de saúde.
PFGE
Wang et al.
(2001)
Unidade
cirúrgica
MRSA
Cinco pacientes com mediastinite.
Um cirurgião com a mesma cepa.
Colonização nasal e das mãos.
PFGE
Chakrabarti et al.
(2001)
Unidade de
neonatologia
Pichia anomala
Mesmo clone no surto e nas mãos dos profissionais de saúde.
Neonatos colonizados e infectados.
Mãos de profissional de saúde.
MLEE
Eletroforese
com
multilocus
Bosczowski et al.
(2005)
Unidade de
neonatologia
Klebsiella
ESBL
Mesmo clone no surto e nas mãos dos profissionais de saúde. PFGE
MRSA = Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus; ESBL = Extended-Spectrum Beta-Lactamase; PFGE = Pulsed-Field Gel
Electrophoresis; RFLP = Restriction Fragment Length Polymorphism; MLEE = Multilocus Enzime Electrophoresis.
28 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
EVIDÊNCIA DE TRANSMISSÃO DE PATÓGENOS POR MEIO DAS MÃOS
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Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 31
CAPÍTULO 4 | CONTROLE DA DISSEMINAÇÃO DE MICRORGANISMOS
MULTIRRESISTENTES
João Nóbrega de Almeida Júnior
Ícaro Boszczowski
Silvia Figueiredo Costa
Nos últimos anos, as infecções relacionadas à
assistência à saúde, causadas por microrganismos
multirresistentes com relevância epidemiológica,
têm sido motivo de grande preocupação
nos hospitais brasileiros. A definição de multirresistência,
entretanto, é muito variável e depende
da complexidade de cada hospital. Geralmente,
um microrganismo é considerado multirresistente
quando apresenta resistência a duas ou mais
classes de antimicrobianos. Os principais microrganismos
multirresistentes que causam infecções
relacionadas à assistência à saúde são: MRSA, VRE,
cepas produtoras de beta-lactamases de espectro
estendido (Extended-Spectrum Beta-Lactamases
– ESBL) e bactérias Gram-negativas resistentes
aos carbapenens. Diferentemente dos hospitais
americanos, o VRE não representa um problema
tão importante no nosso meio. As bactérias Acinetobacter
spp. e Pseudomonas aeruginosa resistentes
aos carbapenens, entretanto, tornaram-se
particularmente problemáticas nos hospitais latino-
americanos, incluindo os brasileiros.
As mãos dos profissionais de saúde podem adquirir
microrganismos multirresistentes por
meio de contato direto com pacientes colonizados
ou infectados por esses agentes e também
Procedimentos laboratoriais
pelo contato com o meio ambiente ou superfícies
próximas ao paciente. Os microrganismos
multirresistentes podem, então, se tornar parte
da microbiota transitória da pele, sendo facilmente
removidos pela higienização das mãos.
As mãos dos profissionais de saúde também
podem ficar persistentemente colonizadas com
bactérias multirresistentes, principalmente na
presença de fatores locais que facilitam essa
condição, como dermatites e/ou onicomicoses
(BOYCE et al., 2002).
4.1 Mãos como fonte de surtos de
infecção relacionada à assistência à
saúde causados por microrganismos
multirresistentes
Na epidemiologia da transmissão de microrganismos
multirresistentes, as mãos dos profissionais
de saúde constituem a principal ponte entre
o paciente colonizado e aquele que anteriormente
não tinha tal status.
A tipagem molecular não é fundamental para a
elucidação de surtos de infecção em serviços de
saúde. Entretanto, esta ferramenta mostrou de
32 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
CONTROLE DA DISSEMINAÇÃO DE MICRORGANISMOS MULTIRRESISTENTES
forma mais clara a importância da infecção cruzada
como fonte de surtos causados por microrganismos
multirresistentes (LAI et al., 2006; HALEY
et al., 1995; FARR et al., 2001; BISCHOFF et al.,
2000; KANEMITSU et al., 2001; WANG et al., 2001;
DUCKRO et al., 2005; LANKFORD et al., 2006; TENORIO
et al., 2001; KAMPF; KRAMER, 2004).
As mãos dos profissionais de saúde já foram identificadas
como fonte de surtos de infecção em
serviços de saúde causados por várias bactérias
Gram-negativas multirresistentes como Acinetobacter
spp., Stenotrophomonas maltophilia e Klebsiella
pneumoniae produtora de ESBL (FOCA et
al., 2000; MILISAVLJEVIC et al., 2004; MOOLENAAR
et al., 2000; KRANIOTAKI et al., 2006; ZAWACKI
et al., 2004; ZEANA et al., 2003; CASSETTARI et al.,
2006). As mãos de um profissional de saúde com
onicomicose foram identificadas como fonte de
um surto de infecção causada por K. pneumoniae
produtora de ESBL descrito em uma unidade de
neonatologia de um hospital brasileiro. A tipagem
molecular evidenciou que a cepa identificada
nas mãos desse profissional era idêntica
àquela isolada dos recém-natos (BOSZCZOWSKI
et al., 2005). Várias medidas foram implementadas
para o controle do surto. Entretanto, ele apenas
foi interrompido quando o profissional de
saúde foi transferido da unidade.
Com relação às bactérias Gram-positivas, mais
especificamente VRE e MRSA, as evidências também
apontam para as mãos dos profissionais de
saúde como uma das principais responsáveis
pela disseminação desses patógenos.
Um estudo prospectivo realizado em uma UTI
norte-americana acompanhou os profissionais
de saúde durante oito meses. Neste período,
houve 16 novos casos de pacientes colonizados
que tiveram contato com as mãos dos profissionais
colonizadas por VRE, as quais não tinham
sido devidamente higienizadas antes da assistência.
Foi verificado que as cepas das mãos dos
profissionais de saúde eram as mesmas encontradas
nos pacientes (WANG et al., 2001).
Em outro estudo, utilizando-se método molecular
para a tipagem das cepas isoladas dos
pacientes e dos profissionais de saúde, foi feita Staphylococcus aureus
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 33
CONTROLE DA DISSEMINAÇÃO DE MICRORGANISMOS MULTIRRESISTENTES
a investigação de um surto de infecção de sítio
cirúrgico em uma UTI que recebia pacientes
de cirurgia cardíaca. Durante três meses houve
cinco casos de infecção da ferida operatória e
mediastinite, todos causados pela mesma cepa
de MRSA. A análise dos dados mostrou que os
casos tinham em comum o mesmo cirurgião. Foram,
então, coletadas culturas das narinas e de
uma dermatite localizada na mão direita desse
médico. Em todas elas houve o crescimento da
mesma cepa implicada nos casos da infecção da
ferida cirúrgica (KANEMITSU et al., 2001).
4.2 Higienização das mãos em unidades com
pacientes colonizados/infectados por
microrganismos multirresistentes
Vários anti-sépticos e sabonetes associados a
anti-sépticos, como clorexidina, polivinilpirrolidona-
iodo (PVPI), triclosan e álcool, podem ser
utilizados na higienização das mãos durante o
cuidado de pacientes colonizados e/ou infectados
por microrganismos multirresistentes, conforme
será descrito posteriormente.
Não existe uma correlação direta entre resistência
bacteriana a antimicrobianos e resistência a antisépticos
(MARTRÓ et al., 2003; KABELITZ; SANTOS;
HEIPIEPER, 2003; KÕLJALG; NAABER; MIKELSAAR,
2002). Vários estudos in vitro, utilizando diferentes
cepas de bactérias Gram-positivas (MRSA, VRE)
e Gram-negativas (Acinetobacter spp., Pseudomonas
aeruginosa) multirresistentes, mostraram
que, apesar de resistentes aos antibióticos, essas
bactérias permanecem sensíveis aos anti-sépticos
utilizados na higienização das mãos. A ação dos
diferentes produtos contra bactérias multirresistentes
é bastante variável (MARTRÓ et al., 2003;
KABELITZ; SANTOS; HEIPIEPER, 2003; KÕLJALG;
NAABER; MIKELSAAR, 2002).
Preparações alcoólicas para aplicação nas mãos
possuem excelente atividade in vitro contra
Placa com colônias de fungos
34 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
CONTROLE DA DISSEMINAÇÃO DE MICRORGANISMOS MULTIRRESISTENTES
MRSA e VRE. Evidências da eficácia de tal propriedade
na prática clínica já foram descritas (LAI
et al., 2006; LARSON et al., 2000; TEARE; COOKSON;
STONE, 2001; MACDONALD et al., 2004; NG
et al., 2004; DUBOUIX et al., 2005).
Os produtos de higienização das mãos, quando
usados de forma inapropriada, também podem
ser fontes de bactérias multirresistentes. Vários
surtos de infecção hospitalar causados por bactérias
multirresistentes foram associados à contaminação
de anti-sépticos durante a sua fabricação
ou o seu uso (NASSER et al., 2004; NUCCI et
al., 2002; MCALLISTER et al., 1989; KLAUSNER et al.,
1999). Bactérias Gram-negativas associadas a surtos
de infecção relacionada à assistência à saúde
já foram isoladas de dispensadores contendo polivinilpirrolidona-
iodo (PVPI) degermante e clorexidina
(MCALLISTER et al., 1989). Stenotrophomonas
maltophilia isolada em sabonete foi responsável
por um surto em uma unidade de transplante de
medula óssea (KLAUSNER et al., 1999).
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 35
CONTROLE DA DISSEMINAÇÃO DE MICRORGANISMOS MULTIRRESISTENTES
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Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 39
CAPÍTULO 5 | PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
Julia Yaeko Kawagoe
Reconhecidamente, a prática da higienização
das mãos reduz significativamente a transmissão
de microrganismos e, conseqüentemente,
diminui a incidência das infecções preveníveis,
reduzindo a morbimortalidade em serviços de
saúde (LARSON, 1988; NYSTRÖM, 1994; PITTET
et al., 2000; CDC, 2002; WHO, 2006; PRATT et al.,
2001, 2007; PELLOWE et al., 2003).
Para prevenir a transmissão de microrganismos
pelas mãos, três elementos são essenciais para
essa prática: agente tópico com eficácia antimicrobiana;
procedimento adequado ao utilizá-lo,
com técnica adequada e no tempo preconizado;
e adesão regular ao seu uso, nos momentos indicados
(ROTTER, 1996).
Segundo Larson (2004), o principal problema
da higienização das mãos não é a falta de bons
produtos, mas sim a negligência dessa prática. A
autora sugere a aplicação da seguinte fórmula:
impacto da higienização das mãos = eficácia x
adesão. Exemplificando: se um produto é 100%
eficaz, mas somente 20% das pessoas aderem ao
seu uso, o impacto é de 20%. Por outro lado, se o
produto tem eficácia de 50%, mas possui melhor
aceitação – 50% de adesão –, o impacto será um
pouco maior, isto é, 25%. Portanto, caso o profissional
de saúde não realize a higienização das
mãos por qualquer razão (falta de tempo, indisponibilidade
de pia ou produto, etc.), o resultado
deixa a desejar, não importando quão eficaz
seja o produto para a redução microbiana das
mãos contaminadas.
A seguir, serão abordados determinados produtos
que podem ser utilizados para a higienização
das mãos: o sabonete comum e os anti-sépticos
(álcool, clorexidina, iodo/iodóforos e triclosan),
considerando o modo de ação, a ação antimicrobiana
e os problemas decorrentes do seu uso.
5.1 Sabonete comum (sem associação de
anti-séptico)
O sabonete comum não contém agentes antimicrobianos
ou os contém em baixas concentrações,
funcionando apenas como conservantes.
Os sabonetes para uso em serviços de saúde podem
ser apresentados sob várias formas: em barra,
em preparações líquidas (as mais comuns) e
em espuma. Favorecem a remoção de sujeira, de
substâncias orgânicas e da microbiota transitória
das mãos pela ação mecânica (CDC, 2002; WHO,
2006; KAMPF; KRAMER, 2004; ROTTER, 2004).
Em geral, a higienização com sabonete líquido
remove a microbiota transitória, tornando as
mãos limpas. Esse nível de descontaminação
é suficiente para os contatos sociais em geral e
para a maioria das atividades práticas nos serviços
de saúde. A eficácia da higienização simples
Profissional dispensando sabonete líquido nas mãos
40 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
das mãos com água e sabonete, porém, depende
da técnica utilizada e do tempo gasto durante
o procedimento, que normalmente dura, em
média, 8 a 20 segundos – sem contar o tempo
necessário para se deslocar até a pia e retornar.
O processo completo leva muito mais tempo,
sendo estimado em 40 a 60 segundos (KAMPF;
KRAMER, 2004; ROTTER, 2004).
As pesquisas laboratoriais sobre higienização
das mãos visam avaliar a redução da microbiota
transitória da pele das mãos. Nos Estados
Unidos, é utilizada como contaminante-teste a
bactéria Serratia marcescens, enquanto na Europa
se emprega a Escherichia coli (CDC, 2002;
WHO, 2006). Conforme relatado por Rotter
(2004), pesquisas demonstraram que no procedimento
de higienização simples das mãos
com água e sabonete, por um período de 15
segundos, houve redução bacteriana em torno
de 0,6 a 1,1 log10, e naquele realizado durante
30 segundos houve redução de 1,8 a 2,8 log10.
Aumentando-se o tempo de higienização das
mãos para um minuto, a redução microbiana
foi de 2,7 a 3 log10. Estes estudos mostram que
o tempo gasto nessa prática tem influência direta
na redução da microbiota transitória da
pele das mãos. Ainda na higienização simples
das mãos com água e sabonete não se constata,
basicamente, nenhum efeito sobre a microbiota
residente da pele das mãos, mesmo dois minutos
após o início desse procedimento.
Entretanto, um estudo revelou que a higienização
simples das mãos, com água e sabonete comum,
falhou em remover patógenos das mãos
dos profissionais de saúde, ocorrendo a transmissão
de bactéria Gram-negativa em 11 de 12
casos (EHRENKRANZ; ALFONSO, 1991). Também
há relatos, na literatura, de risco de contaminação
das mãos durante o procedimento de laválas.
Um estudo revelou a contaminação por
Pseudomonas aeruginosa, tendo como possível
fonte a pia, quando a água contaminada desta
espirrou nas mãos do profissional de saúde
(KAMPF; KRAMER, 2004).
Ocasionalmente, os sabonetes não associados
a anti-sépticos podem se contaminar, causando
colonização das mãos dos profissionais de
saúde com bactérias Gram-negativas (SARTOR
et al., 2000). O sabonete líquido torna-se passível
de contaminação, ainda, caso o seu reservatório
seja completado sem esvaziamento
Placas com colônias de bactérias
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 41
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
e limpeza prévia. Os dispensadores devem ser
facilmente removíveis para serem submetidos
à limpeza e secagem completa antes de serem
preenchidos, quando não forem descartáveis
(LARSON, 1996).
Em estudo desenvolvido pela Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), com o apoio da
Anvisa (SERUFO et al., 2007), foram analisadas
1.196 amostras de sabonetes líquidos e antisépticos
coletados em hospitais brasileiros da
Rede Sentinela. Destas, 9,4% (112/1196) estavam
contaminadas, sendo que os sabonetes líquidos
responderam por 30,2% das amostras recebidas
(361/1196) e 83% das amostras contaminadas
(93/112). Os tipos de dispensadores mais utilizados
para os sabonetes líquidos foram os reutilizáveis,
destacando-se as saboneteiras, os frascos improvisados
e as almotolias recarregáveis. Vale ressaltar
que neste estudo não foram detectados microrganismos
nos produtos originais, coletados antes
do manuseio no local, podendo-se inferir que as
contaminações não decorreram de falhas no processo
de fabricação e sim que ocorreram durante
o processo de manipulação ou uso, o que aponta
a necessidade de aprimorar o processo interno de
dispensação e manuseio desses produtos.
Nos serviços de saúde, recomenda-se o uso de
sabonete líquido, tipo refil, devido ao menor risco
de contaminação do produto. Os sabonetes
estão também regulamentados pela Resolução
ANVS nº 481, de 23 de setembro de 1999 (BRASIL,
1999). Conforme essa resolução, o resultado
deve apresentar ausência de Pseudomonas aeruginosa,
Staphylococcus aureus e coliformes totais
e fecais em 1 g ou ml do produto e “contagem de
microrganismos mesófilos aeróbios totais, não
mais que 103 UFC/g ou ml”.
Com o intuito de estimular a higienização das
mãos e não criar obstáculos para a execução do
procedimento, recomenda-se que o sabonete
seja agradável ao uso, suave e de fácil enxágüe,
além de não ressecar a pele, possuir fragrância
leve ou ausente e ter boa aceitação entre os usuários
(CDC, 2002; WHO, 2006; LARSON, 1996, 2004).
Profissionais de saúde
42 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
5.2 Agentes anti-sépticos
Os agentes anti-sépticos utilizados para a higienização
das mãos devem ter ação antimicrobiana
imediata e efeito residual ou persistente. Não
devem ser tóxicos, alergênicos ou irritantes para
a pele. Recomenda-se que sejam agradáveis de
utilizar, suaves e, ainda, custo-efetivos (LARSON,
1996; WICKETT; VISSCHER, 2006; KAISER; NEWMAN,
2006; MCLEOD; EMBIL, 2002).
5.2.1 Álcool
A atividade antimicrobiana em geral dos álcoois
se eleva com o aumento da cadeia de carbono,
porém a sua solubilidade em água diminui. Somente
os álcoois alifáticos que são completamente
miscíveis em água, preferencialmente o
etanol, o isopropanol e o n-propanol, são usados
como produtos para higienização das mãos
(ROTTER, 1996, 2004).
A maioria das soluções à base de álcool para a
anti-sepsia das mãos contém etanol (álcool etílico),
isopropanol (álcool isopropílico), n-propanol
ou, ainda, uma combinação de dois destes produtos.
Embora o n-propanol seja utilizado na
Europa há vários anos, não é listado pela Administração
de Alimentos e Medicamentos dos EUA
(Food and Drugs Administration - FDA), em sua
publicação Tentative Final Monograph (TFM) for
Healthcare Antiseptic Drug Products, de 1994,
como agente ativo aprovado para a higienização
das mãos ou para o preparo pré-cirúrgico
das mãos naquele país (CDC, 2002; WHO, 2006).
Por sua vez, o etanol é reconhecido como agente
antimicrobiano, sendo recomendado para o “tratamento”
das mãos, desde 1888. Ressalta-se que,
no Brasil, é o mais utilizado.
O modo de ação predominante dos álcoois consiste
na desnaturação e coagulação das proteínas.
Outros mecanismos associados têm sido
reportados, como a ruptura da integridade citoplasmática,
a lise celular e a interferência no
metabolismo celular. A coagulação das proteínas,
induzida pelo álcool, ocorre na parede celular,
na membrana citoplasmática e entre várias
proteínas plasmáticas. Essa interação do álcool
com as proteínas levantou a hipótese da interferência
de sujidade contendo proteínas na anti-
sepsia e desinfecção (CDC, 2002; WHO, 2006;
ROTTER, 1996, 2004; KAMPF; KRAMER, 2004;
LARSON, 1996; MCLEOD; EMBIL, 2002; GRAZIANO;
SILVA; BIANCHI, 2000).
Profissionais prestando assistência de saúde ao paciente
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 43
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
De modo geral, os álcoois apresentam rápida
ação e excelente atividade bactericida e fungicida
em relação a todos os agentes utilizados na
higienização das mãos (CDC, 2002; WHO, 2006;
ROTTER, 1996, 2004; KAMPF; KRAMER, 2004; LARSON,
1996; MCLEOD; EMBIL, 2002; GRAZIANO; SILVA;
BIANCHI, 2000). Soluções alcoólicas entre 60%
e 80% são mais efetivas e concentrações mais altas
são menos potentes, pois as proteínas não se
desnaturam com facilidade na ausência de água.
O conteúdo do álcool nas soluções pode ser expresso
em porcentagem por peso (p/p ou g/g),
não sendo afetado por temperatura e outras variáveis.
No caso de porcentagem por volume (v/v
ou ml/ml), pode ser afetado pela temperatura,
gravidade específica e reação da concentração.
Por exemplo, álcool 70% por peso é equivalente
a 76,8% por volume, se preparado a 15º C, ou
80,5%, se preparado a 25º C (CDC, 2002; WHO,
2006; GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).
A maioria dos estudos dos álcoois tem avaliado
individualmente cada um deles, em várias concentrações.
Outros estudos têm focado a combinação
dos dois tipos de álcoois ou soluções contendo
quantidades limitadas de hexaclorofeno, compostos
de quaternário de amônia, polivinilpirrolidonaiodo
(PVPI), triclosan ou gluconato de clorexidina
(CDC, 2002; WHO, 2006; ROTTER, 1996, 2004; LARSON,
1996; GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).
Os álcoois, em geral, têm excelente atividade germicida
in vitro contra bactérias vegetativas Grampositivas
e Gram-negativas, incluindo patógenos
multirresistentes (como MRSA e VRE), Mycobacterium
tuberculosis e vários fungos. Certos vírus
envelopados (por exemplo, herpes simples, HIV,
vírus influenza, vírus sincicial respiratório e vírus
vaccínia) são suscetíveis aos álcoois quando testados
in vitro. O vírus da hepatite B é um vírus envelopado,
menos suscetível, mas inativado pelo álcool
a 60%-70%, e o vírus da hepatite C também é
inativado nessas concentrações (CDC, 2002; WHO,
2006; GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).
O propanol e o etanol a 70% são mais efetivos
que o sabonete comum contra os rotavírus, em
estudos realizados in vivo. Estudo mais recente
utilizando a mesma metodologia avaliou um
produto alcoólico contendo 60% de etanol e encontrou
os seguintes resultados: redução de três
a quatro logs do título de infectividade de três
vírus não envelopados – rotavírus, adenovírus e
rinovírus. Outros vírus não envelopados, como o
vírus da hepatite A e o enterovírus (por exemplo,
o poliovírus), podem requerer álcool 70%-80%
para inativação. Entretanto, é importante citar
que os produtos alcoólicos como etanol a 70% e
62%, com emolientes e na apresentação de espuma,
reduziram os títulos virais de hepatite A em
todas as mãos e pontas de dedos, cujos valores
foram maiores que do sabonete não associado
a anti-séptico, e ambos reduziram a contagem
viral nas mãos, cujos valores foram equivalentes
à solução degermante de clorexidina a 4%. O
mesmo estudo revelou que ambos os produtos
demonstraram maior atividade virucida contra
poliovírus que o sabonete comum e a solução
degermante de clorexidina a 4% (WHO, 2006).
Os álcoois têm pouca atividade contra os esporos
e oocistos de protozoários (CDC, 2002; WHO,
2006; GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000). Nos
serviços de saúde em áreas tropicais, a falta de
atividade do álcool contra parasitas é um aspecto
preocupante no que se refere à promoção do
uso do álcool para fricção anti-séptica das mãos.
Nessa situação, recomenda-se lavar as mãos com
água e sabonete para garantir a remoção mecânica
de parasitas (WHO, 2006).
Numerosos estudos têm documentado a atividade
antimicrobiana in vivo dos álcoois, que
efetivamente reduzem a contagem bacteriana
das mãos. Tipicamente, a redução logarítmica
da contagem bacteriana de mãos artificialmente
contaminadas por bactéria-teste é, em média,
3,5 log10 após 30 segundos de aplicação e
4-5 log10 após 1 minuto de aplicação (CDC, 2002;
WHO, 2006; KAMPF; KRAMER, 2004).
Em 1994, a FDA (TFM, 1994) classificou o etanol
60% a 95% como agente categoria I (seguro e
efetivo como agente de higienização e anti-sepsia
de mãos). E, embora pela classificação da TFM
o álcool isopropanol 70%-91,3% se enquadre na
categoria IIIE (dados insuficientes para ser classi44
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
ficado como efetivo), o isopropanol 60% foi adotado
na Europa como padrão-ouro para comparar
com produtos de higienização das mãos à
base de álcool (CDC, 2002; WHO, 2006).
Os álcoois têm rápida ação microbicida quando
aplicados à pele, mas não têm atividade residual
apreciável. Entretanto, a recolonização bacteriana
na pele ocorre lentamente após o uso de antiséptico
à base de álcool nas mãos. A adição de
clorexidina, octenidina ou triclosan à solução alcoólica
pode resultar em atividade residual (CDC,
2002; WHO, 2006; ROTTER, 1996, 2004; LARSON,
1996; GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).
As preparações alcoólicas não são apropriadas
quando as mãos estiverem visivelmente sujas ou
contaminadas com material protéico, segundo os
manuais americano (CDC, 2002), britânico (PRATT
et al., 2007), da OMS (WHO, 2006) e recente publicação
da Anvisa (BRASIL, 2007a). Entretanto,
quando quantidades relativamente pequenas
de material protéico (como o sangue) estiverem
presentes, o etanol e o propanol reduzem a contagem
microbiana das mãos mais do que sabonetes
comuns ou associados a anti-sépticos, conforme
os trabalhos realizados por Larson e Bobo (1992),
Renner, Unger e Peters (1993) e Kawagoe (2004),
mas com a ressalva de que eles não eliminam a
necessidade de lavar as mãos.
Os álcoois podem prevenir a transferência de
patógenos hospitalares. Em um estudo, bacilos
Gram-negativos foram transferidos da pele colonizada
de um paciente a um pedaço de material
de cateter, por meio das mãos de enfermeiros, em
17% das vezes após fricção das mãos com preparação
alcoólica. Em contraste, a transferência dos
agentes ocorreu em 92% das vezes em que se
utilizou a higienização das mãos com água e sabonete
comum. Este modelo experimental indica
que, quando as mãos estão contaminadas, friccioná-
las com produto alcoólico pode prevenir a
transmissão de patógenos com maior efetividade
do que higienizar as mãos com água e sabonete
comum (EHRENKRANZ; ALFONSO, 1991).
Assim, produtos alcoólicos são mais efetivos na
higienização das mãos de profissionais de saúde
quando comparados aos sabonetes comuns ou
sabonetes associados a anti-sépticos. Em vários
estudos, comparando-se a redução bacteriana
das mãos utilizando sabonete comum ou sabonete
associado a anti-séptico versus produtos alcoólicos,
a higienização das mãos com álcool obteve
uma redução bacteriana maior que aquela obtida
mediante a lavagem das mãos com sabonetes
contendo hexaclorofeno, PVPI, clorexidina a 4%
ou triclosan. Em estudos relacionados às bactérias
multirresistentes, os produtos alcoólicos foram
mais efetivos na redução destes patógenos das
mãos de profissionais de saúde do que a higienização
das mãos com água e sabonete (CDC, 2002;
WHO, 2006; ROTTER, 1996, 2004; LARSON, 1996;
GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).
Os álcoois também são efetivos na anti-sepsia
cirúrgica ou no preparo pré-operatório das mãos
dos integrantes das equipes cirúrgicas. Em múltiplos
estudos, foram realizadas contagens bacterianas
nas mãos, imediatamente e três horas após
a utilização do produto. As soluções alcoólicas
foram mais efetivas do que a lavagem das mãos
com sabonete comum em todos os estudos, e
elas reduziram a contagem bacteriana nas mãos
mais do que sabonetes associados a anti-sépticos
na maioria dos experimentos. Além disso, a maioria
das preparações alcoólicas foi mais efetiva que
PVPI ou clorexidina degermante (CDC, 2002; WHO,
Profissional dispensando preparação alcoólica nas mãos
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 45
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
2006; ROTTER, 1996, 2004; KAMPF; KRAMER, 2004;
LARSON, 1996; GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).
Ressalta-se que a eficácia de preparações alcoólicas
para a higienização das mãos é afetada por
vários fatores: tipo, concentração, tempo de contato,
fricção e volume de álcool utilizado, e também
se as mãos estavam molhadas no momento
da aplicação do álcool (CDC, 2002; WHO, 2006;
ROTTER, 1996, 2004; KAMPF; KRAMER, 2004; LARSON,
1996; GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).
Aplicar pequenos volumes de álcool (0,2 ml a
0,5 ml) nas mãos não é mais efetivo que lavar as
mãos com água e sabonete comum. Um estudo
documentou que 1 ml de álcool era substancialmente
menos efetivo que 3 ml. O volume ideal do
produto a ser aplicado nas mãos não é conhecido
e pode variar com as diferentes formulações.
Entretanto, se ocorre a sensação de que as mãos
estão secas após a fricção do álcool por 10 a 15 segundos,
provavelmente foi aplicado um volume
insuficiente do produto. Por isso, os lenços umedecidos
com álcool, por conterem quantidade limitada
de álcool, têm sua efetividade comparável
à água e ao sabonete comum (CDC, 2002; WHO,
2006; ROTTER, 1996, 2004; KAMPF; KRAMER, 2004;
LARSON, 1996; GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).
Os produtos alcoólicos usados para higienização
das mãos em serviços de saúde estão disponíveis
nas formas solução (líquida), gel e espuma. Os
dados são limitados quanto à eficácia relativa das
várias formulações. Um estudo demonstrou que o
etanol em gel foi um pouco mais efetivo que solução
de etanol na redução da contagem bacteriana
das mãos de profissionais de saúde (OJAJÄRVI,
1991), enquanto outro estudo indicou o contrário
(KRAMER et al., 2002). Estudos recentes demonstraram
que preparações alcoólicas sob a forma de solução
reduziram a contagem bacteriana nas mãos
em níveis maiores que os produtos à base de gel
(DHARAN et al., 2003). Novas gerações de formulações
à base de gel têm sido propostas, com eficácia
antimicrobiana superior às formulações iniciais
(KAMPF; OSTERMEYER, 2004; WHO, 2006).
Portanto, estudos adicionais são necessários
para se definir qual formulação (solução, gel ou
espuma) é mais efetiva na redução da transmissão
de microrganismos nos serviços de saúde.
Além do mais, é importante considerar que a
adesão às práticas de higienização das mãos é
provavelmente mais importante, pois, se o gel
com menor atividade in vitro é mais freqüentemente
utilizado, espera-se que o resultado final
seja melhor (CDC, 2002; WHO, 2006).
Outra dúvida comum entre os usuários de preparações
alcoólicas para higienização das mãos é a
eficácia antimicrobiana do álcool após vários usos
consecutivos. Os resultados de Sickbert-Bennett
et al. (2005), em um estudo laboratorial comparando
14 produtos para higienização das mãos,
sugerem que alguns produtos alcoólicos podem
perder eficácia após o décimo uso consecutivo.
Como os álcoois são inflamáveis, as preparações
alcoólicas para higienização das mãos devem ser
estocadas distantes de altas temperaturas e de
Placas para cultura
46 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
fogo. Na Europa, onde este tipo de produto tem
sido utilizado há vários anos, a incidência de incêndios
associados ao seu uso tem sido baixa. Um
relato recente nos EUA descreve a ocorrência de
faísca de fogo após uma série de eventos incomuns,
ou seja, um profissional de saúde aplicou
gel alcoólico em suas mãos, imediatamente após
removeu seu avental de poliéster e a seguir tocou
em uma porta de metal antes de o álcool ter evaporado.
A remoção do avental de poliéster gerou
uma quantidade considerável de energia estática
e, quando a porta metálica foi tocada, isto provocou
uma faísca no álcool não evaporado das mãos
do profissional. Este incidente enfatiza a necessidade
de friccionar as mãos após a aplicação do
produto, até que o álcool tenha evaporado (CDC,
2002; WHO, 2006; BRASIL, 2007a).
Vale ressaltar que dispensadores e almotolias de
álcool devem ser projetados para minimizar a
sua evaporação e manter a concentração inicial,
uma vez que o álcool é volátil.
Existem poucos relatos de contaminação das soluções
alcoólicas na literatura, porém um estudo
documentou um surto de pseudo-infecção causado
pela contaminação de álcool etílico por esporos
de Bacillus cereus (CDC, 2002; WHO, 2006).
As formulações alcoólicas têm sido indicadas
como produto de escolha para a higienização
das mãos se não houver sujeira visível nestas,
pois promovem a redução microbiana, requerem
menos tempo para aplicação e causam menos irritação
do que a higienização com água e sabonete
associado ou não a anti-sépticos, além de
facilitar a disponibilidade em qualquer área do
serviço de saúde (CDC, 2002; WHO, 2006; PRATT
et al., 2001, 2007; PELLOWE et al., 2003).
Atualmente, existe a preocupação da efetividade
do álcool contra Clostridium difficile, agente
responsável pela diarréia associada à assistência
à saúde, porque o álcool não tem eficácia contra
esporos. Por outro lado, a higienização das mãos
com água e sabonete comum ou associado a antisépticos
teria a finalidade de remover os esporos
pela ação mecânica. A recomendação atual é o
uso de luvas pelo profissional de saúde ao prestar
assistência ao paciente com diarréia associada a
esta bactéria e, após a remoção das luvas, a lavagem
das mãos com água e sabonete ou sua fricção
com preparação alcoólica (se não estiverem
visivelmente sujas) (WHO, 2006).
5.2.2 Clorexidina
O gluconato de clorexidina, bis-biguanida catiônica,
foi desenvolvido na Inglaterra no início dos
anos 1950 e introduzido nos EUA nos anos 70. A
base clorexidina é pouco solúvel em água, mas a
forma digluconato é solúvel em água. A atividade
antimicrobiana da clorexidina provavelmente é
atribuída à ligação e subseqüente ruptura da membrana
citoplasmática, resultando em precipitação
ou coagulação de proteínas e ácidos nucléicos. A
atividade antimicrobiana imediata ocorre mais
lentamente que a dos álcoois, sendo considerada
de nível intermediário; seu efeito residual, porém,
pela forte afinidade com os tecidos, torna-o o melhor
entre os anti-sépticos disponíveis (CDC, 2002;
WHO, 2006; ROTTER, 1996, 2004; KAMPF; KRAMER,
2004; LARSON, 1996; DENTON, 2001).
A clorexidina apresenta boa atividade contra bactérias
Gram-positivas, menor atividade contra
bactérias Gram-negativas e fungos, mínima atividade
contra micobactérias, Procedimentos laboratoriais e não é esporicida.
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 47
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
Tem atividade in vitro contra vírus envelopados
(herpes simples, HIV, citomegalovírus, influenza e
vírus sincicial respiratório), mas atividade substancialmente
menor contra os vírus não envelopados
(rotavírus, adenovírus e enterovírus) (CDC, 2002;
WHO, 2006; ROTTER, 1996, 2004; KAMPF; KRAMER,
2004; LARSON, 1996; DENTON, 2001).
Uma avaliação da eficácia antimicrobiana de
vários produtos utilizados na higienização das
mãos, utilizando o método Padrão Europeu
(European Standard EN 1499), revelou que clorexidina
degermante a 4% obteve redução média
logarítmica de 3,10 log10, pouco melhor que
sabonete comum (redução média de 2,7 log10),
mas menor que a redução obtida por PVPI (3,5
log10) (ROTTER, 2004).
A atividade antimicrobiana é pouco afetada
na presença de matéria orgânica, incluindo o
sangue. Uma vez que a clorexidina é uma molécula
catiônica, sua atividade pode ser reduzida
por sabonetes naturais, vários ânions inorgânicos,
surfactantes não iônicos e cremes para
as mãos contendo agentes emulsificantes aniônicos
(CDC, 2002; WHO, 2006; ROTTER, 1996,
2004; KAMPF; KRAMER, 2004; LARSON, 1996;
DENTON, 2001).
O gluconato de clorexidina tem sido incorporado
às várias preparações de higienização das
mãos. Formulações aquosas ou detergentes
contendo 0,5%, 0,75% ou 1% de clorexidina são
mais efetivas que sabonetes não associados a
anti-sépticos, mas menos efetivas que soluções
detergentes contendo gluconato de clorexidina
a 4%. As preparações com gluconato de clorexidina
a 2% não apresentam diferenças significativas
de atividade antimicrobiana comparadas
àquelas contendo 4% de clorexidina (CDC, 2002;
WHO, 2006; ROTTER, 1996, 2004; KAMPF; KRAMER,
2004; LARSON, 1996; DENTON, 2001).
A clorexidina tem efeito residual importante, em
torno de seis horas. A adição de baixas concentrações
desse anti-séptico (0,5% a 1%) às preparações
alcoólicas resulta em atividade residual dessas formulações
proporcionada pela clorexidina (CDC,
2002; WHO, 2006; ROTTER, 1996, 2004; KAMPF;
KRAMER, 2004; LARSON, 1996; DENTON, 2001).
O uso de clorexidina para a higienização das
mãos nos serviços de saúde é seguro e a absorção
pela pele é mínima, senão nula. A ocorrência
de irritação na pele é concentração-dependente,
com probabilidade maior para produtos que
contém 4% de clorexidina e quando utilizados
com freqüência na higienização das mãos, sendo
que reações alérgicas são raras (CDC, 2002; WHO,
2006; KAMPF; KRAMER, 2004).
Existem relatos na literatura de surtos ocasionais em
serviços de saúde relacionados às soluções de clorexidina
contaminadas por Pseudomonas aeruginosa
(CDC, 2002; WHO, 2006; KAMPF; KRAMER, 2004).
5.2.3 Iodóforos - PVPI (Polivinilpirrolidona iodo)
O iodo é um anti-séptico reconhecido pela sua
efetividade desde 1821. Entretanto, devido às
propriedades de causar irritação e manchar a pele,
foi substituído por PVPI ou iodóforos nos anos 60
(CDC, 2002; WHO, 2006; ROTTER, 2004; LARSON,
1996; GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).
Iodóforos são moléculas complexas compostas
de iodo e de um polímero carreador chamado
polivinilpirrolidona, cuja combinação aumenta a
Placa com colônias de bactérias
48 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
solubilidade do iodo e provê um reservatório de
iodo, liberando-o ao ser utilizado e reduzindo o
ressecamento da pele. A quantidade de iodo molecular
presente (iodo livre) é que determina o nível
de atividade antimicrobiana do iodo, sendo que as
soluções de PVPI a 10% contendo 1% de iodo disponível
liberam iodo livre de aproximadamente 1
ppm (CDC, 2002; WHO, 2006; ROTTER, 2004; LARSON,
1996; GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).
A atividade antimicrobiana ocorre devido à penetração
do iodo na parede celular, ocorrendo
a inativação das células pela formação de complexos
com aminoácidos e ácidos graxos insaturados,
prejudicando a síntese protéica e alterando
as membranas celulares. O iodóforo tem
atividade ampla contra bactérias Gram-positivas
e Gram-negativas, bacilo da tuberculose, fungos
e vírus (exceto enterovírus), possuindo também
alguma atividade contra esporos. Entretanto, em
concentrações utilizadas para anti-sepsia, usualmente
os iodóforos não têm ação esporicida
(CDC, 2002; WHO, 2006; ROTTER, 2004; LARSON,
1996; GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000).
O iodóforo é rapidamente inativado em presença
de matéria orgânica, como sangue e escarro, e
sua atividade antimicrobiana também pode ser
afetada pelo pH, temperatura, tempo de exposição,
concentração e quantidade/tipo de matéria
orgânica e compostos inorgânicos presentes (por
exemplo, álcool e detergentes) (CDC, 2002; WHO,
2006; ROTTER, 2004; LARSON, 1996; GRAZIANO;
SILVA; BIANCHI, 2000). Um grama de hemoglobina
pode inativar 58 g de iodo (ROTTER, 2004).
O tempo pelo qual o iodóforo exibe o efeito
residual é controverso quando ocorre enxágüe
após a higienização anti-séptica das mãos. Em
um estudo realizado por Paulson apud OMS
(WHO, 2006), o efeito residual foi de seis horas,
mas vários outros trabalhos demonstraram esse
efeito entre 30 e 60 minutos após a anti-sepsia
cirúrgica das mãos com iodóforo. Entretanto,
em estudos nos quais a contagem bacteriana
foi obtida após os indivíduos calçarem luvas
por uma a quatro horas, depois da higienização
das mãos, os iodóforos demonstraram um pobre
efeito residual (CDC, 2002; WHO, 2006; GRAZIANO;
SILVA; BIANCHI, 2000).
Os iodóforos causam menos irritação da pele
e menos reações alérgicas que o iodo, porém
causam mais dermatite de contato irritativa
que outras soluções anti-sépticas comumente
utilizadas para a higienização anti-séptica das
mãos (ROTTER, 2004; LARSON, 1996; GRAZIANO;
SILVA; BIANCHI, 2000).
Profissionais prestando assistência de saúde à paciente
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 49
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
Foram descritos casos de contaminação de
iodóforos, decorrentes de processos de fabricação
em condições inadequadas e que causaram
pseudo-surtos infecciosos (CDC, 2002;
WHO, 2006).
Um surto de pseudobacteremia por Pseudomonas
cepacea envolvendo pacientes em
quatro hospitais de Nova York, durante seis
meses, foi atribuído à contaminação de uma
solução de PVPI a 10%, utilizada como anti-séptico
(WHO, 2006).
5.2.4 Triclosan
O triclosan, cujo nome químico é éter 2,4,4’-tricloro-
2’-hidroxidifenil, é um derivado fenólico,
introduzido em 1965. É incolor, pouco solúvel
em água, mas solúvel em álcool e em detergentes
aniônicos (CDC, 2002; WHO, 2006; ROTTER,
2004; JONES et al., 2000).
A ação antimicrobiana do triclosan ocorre por
sua difusão na parede bacteriana, inibindo a síntese
da membrana citoplasmática, ácido ribonucléico,
lipídios e proteínas, resultando na inibição
ou morte bacteriana. Estudos recentes indicam
que a atividade antimicrobiana é decorrente da
sua ligação ao sítio ativo da redutase protéica
enoil-acil, bloqueando a síntese lipídica.
Este anti-séptico tem amplo espectro de atividade
antimicrobiana, sendo bacteriostático com concentrações
inibitórias mínimas (CIM) entre 0,1 a 10 μg/
ml; entretanto, as concentrações bactericidas mínimas
são de 25-500 μg/ml por 10 minutos de exposição.
A atividade bactericida é maior contra bactérias
Gram-positivas, incluindo MRSA, do que contra bactérias
Gram-negativas, particularmente a Pseudomonas
aeruginosa. Possui atividade razoável contra
micobactérias e Candida spp., mas é limitada contra
fungos filamentosos, como Aspergillus spp., cuja CIM
é 100 μg/ml (ROTTER, 2004).
Em experimento com contaminação intencional
das mãos com bactérias, a higienização antiséptica
das mãos por um minuto com triclosan a
0,1% resultou em redução bacteriana de 2,8 log10,
resultado semelhante à higienização simples das
mãos com água e sabonete comum (redução de
2,7 log10) (ROTTER, 2004). Em cinco estudos relatados,
as reduções logarítmicas foram menores com
triclosan quando comparadas à higienização antiséptica
das mãos com clorexidina, PVPI e produtos
alcoólicos (CDC, 2002; WHO, 2006). Em um estudo
em que houve contaminação artificial com rotavírus
e o uso de triclosan por 30 segundos, a redução
logarítmica foi de 2,1 log10 (BELLAMY et al., 1993).
A velocidade da ação antimicrobiana é intermediária,
tem efeito residual na pele como a clorexidina
e é minimamente afetada por matéria orgânica
(CDC, 2002; WHO, 2006; LARSON, 1996).
Detergentes contendo triclosan em concentrações
menores que 2% são geralmente bem tolerados,
sendo que em concentração de 1% apresentou
menos problemas na pele do que os produtos
à base de iodóforos e solução alcoólica a 70% contendo
clorexidina a 4% (KAMPF; KRAMER, 2004).
Existe relato na literatura de contaminação de solução
de triclosan por Serratia marcescens em centro
cirúrgico e UTI cirúrgica, envolvendo quatro
(17%) de 23 frascos e cinco (28%) de 18 dispensadores
de parede, mas não houve associação com
o aumento do número de infecções relacionadas
à assistência à saúde (KAMPF; KRAMER, 2004).
Em 1994, a FDA classificou o triclosan como agente
ativo, categoria IIISE (dados insuficientes para
classificar esse agente como seguro e efetivo como
anti-séptico das mãos) (CDC, 2002; WHO, 2006).
As características dos principais anti-sépticos utilizados
para higienização das mãos estão descritas
no Quadro 2.
50 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
5.3 Qual o melhor produto para realizar a
higienização das mãos?
Uma revisão sistemática para “responder” a essa
questão foi realizada pelo Grupo Britânico, responsável
pela elaboração do manual intitulado
Epic2: National evidence-based guidelines for
preventing healthcare-associated infections in
National Health Service (NHS) hospitals in England
(PRATT et al., 2007).
Foram identificados 19 estudos comparando produtos
para higienização das mãos, incluindo preparações
alcoólicas sob as formas gel e líquida,
sabonete comum e sabonete associado a anti-sépticos,
que serão descritos a seguir:
Coleta de sangue
Quadro 2 - Espectro antimicrobiano e características de agentes anti-sépticos utilizados para a higienização das mãos
Grupo
Bactérias
Grampositivas
Bactérias
Gramnegativas
Micobactérias Fungos Vírus Velocidade
de ação Comentários
Álcoois +++ +++ +++ +++ +++ Rápida Concentração
ótima: 70%; não
apresenta efeito
residual.
Clorexidina
(2% ou 4%)
+++ ++ + + +++ Intermediária Apresenta efeito
residual; raras
reações alérgicas.
Compostos
de iodo
+++ +++ +++ ++ +++ Intermediária Causa queimaduras
na pele; irritantes
quando usados na
higienização antiséptica
das mãos.
Iodóforos +++ +++ + ++ ++ Intermediária
Irritação da pele
menor que a de
compostos de
iodo; apresenta
efeito residual;
aceitabilidade
variável.
Triclosan +++ ++ + - +++ Intermediária
Aceitabilidade
variável para as
mãos.
+++ excelente
++ bom
+ regular
- nenhuma ou insuficiente atividade antimicrobiana.
Adaptado de: CDC, 2002
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 51
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
1. Cinco estudos controlados e randomizados
foram realizados em unidades clínicas, comparando
o uso de preparações alcoólicas com
outros agentes (LUCET et al., 2002; WINNEFELD
et al., 2000; LARSON et al., 2001; GIROU
et al., 2002; ZARAGOZA et al., 1999). Quatro
desses estudos demonstraram que preparações
alcoólicas foram mais efetivas que sabonete
comum e sabonete associado a antiséptico
(LUCET et al., 2002; WINNEFELD et al.,
2000; LARSON et al., 2001; GIROU et al., 2002),
enquanto o quinto estudo revelou que não
havia diferença estatisticamente significativa
entre usar sabonete associado a anti-séptico e
preparação alcoólica (ZARAGOZA et al., 1999).
2. Um estudo clínico tipo cruzado (crossover)
conduzido em uma UTI neonatal, durante
11 meses, demonstrou que não houve diferença
estatisticamente significativa nas taxas
de infecção, comparando o período de
higienização simples das mãos (com água e
sabonete) com o período em que se utilizou
a preparação alcoólica (LARSON et al., 2005).
3. Três estudos clínicos quase-experimentais
(HERRUZO-CABRERA et al., 2001; HERRUZOCABRERA;
GARCÍA-CABALLERO; FERNANDEZ-
ACEÑERO, 2001; LARSON et al., 2000) e
nove estudos laboratoriais controlados também
mostraram uma associação entre redução
microbiana e uso de preparações alcoólicas
(Ojajärvi , 1991; KRAMER et al., 2002;
KAMPF; OSTERMEYER, 2004; MOADAB; RUPLEY;
WADHAMS, 2001; GUILHERMETTI et al.,
2001; PAULSON et al., 1999; CARDOSO et al.,
1999; KAMPF; JAROSCH; RÜDEN, 1998; DYER;
GERENRAICH; WADHAMS, 1998). Esses estudos
confirmam uma tendência crescente na
adoção de preparações alcoólicas na prática
clínica. Entretanto, dois desses estudos laboratoriais
realçam a necessidade de avaliação
contínua do uso de preparações alcoólicas
dentro dos serviços de saúde para assegurar
a adesão dos profissionais de saúde aos manuais
e a descontaminação efetiva das mãos
(KRAMER et al., 2002; KAMPF; OSTERMEYER,
2004). O primeiro estudo usou padrõesreferência
da União Européia, levantando a
possibilidade de que as preparações alco- Produtos médicos
ólicas sob a forma gel podem não ser tão
efetivas quanto as soluções, ao serem utilizadas
por um período muito curto (KRAMER
et al., 2002). O segundo estudo laboratorial,
comparando 14 diferentes produtos de higienização
das mãos, no tempo considerado
“real” em termos da prática clínica (10 segundos
por episódio de higienização das mãos),
sugere que algumas preparações alcoólicas
podem perder a eficácia após dez usos consecutivos
(KAMPF; OSTERMEYER, 2004).
52 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
4. Um estudo clínico quase-experimental comparou
o uso de anti-sépticos degermantes
à base de clorexidina a 4% e triclosan a 1%,
na redução de transmissão de MRSA pelas
mãos, em uma unidade cirúrgica (FAOAGALI
et al., 1999). Os dois produtos reduziram efetivamente
o número total de contagem bacteriana
das mãos, mas triclosan a 1% foi mais
efetivo na eliminação de MRSA.
Dessa forma, a “resposta” ao questionamento supracitado
ainda constitui um desafio para os serviços
de saúde, dependendo de vários fatores, tais como:
indicação, eficácia antimicrobiana, técnica utilizada,
preferência e recursos disponíveis, entre outros.
Ao decidir pela escolha do produto para higienizar
as mãos, o profissional deverá levar em consideração
a necessidade de remover a microbiota
transitória e/ou residente. Produtos contendo
anti-sépticos que exercem efeito residual na pele
das mãos podem ser indicados nas situações em
que há necessidade de redução prolongada da
microbiota (cirurgia e procedimentos invasivos).
Esses produtos normalmente não são necessários
para a prática clínica diária, mas podem ser
indicados em situações de surtos. A escolha do
produto também dependerá, além da avaliação
da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
(CCIH) e da Comissão de Farmácia e Terapêutica
(CFT), dos recursos disponíveis, do que é possível
em termos práticos e, em certo grau, da
preferência pessoal com base na aceitação dos
insumos e/ou equipamentos necessários para a
prática de higienização das mãos.
Diversos manuais sugerem que a aceitabilidade
de produtos e de técnicas é um critério essencial
para a seleção de produtos para a prática de higienização
das mãos. A aceitação de produtos depende
da facilidade de uso em termos de tempo
e acesso fácil ao produto, além dos efeitos dermatológicos.
Conforme salientado anteriormente,
devido à eficácia e à facilidade de uso, as preparações
alcoólicas têm sido recomendadas para uso
rotineiro, quando não houver sujidade visível nas
mãos (CDC, 2002; WHO, 2006; PRATT et al., 2007).
5.4 Considerações da Anvisa
Não devem ser aplicados nas mãos sabões e detergentes
registrados na Anvisa como saneantes,
de acordo com a Lei nº 6.360, de 23 de setembro
de 1976 (BRASIL, 1976) e a RDC nº 13 da Anvisa,
de 28 de fevereiro de 2007 (BRASIL, 2007b), uma
vez que seu uso é destinado a objetos e superfícies
inanimadas.
Na aquisição de produtos destinados à higienização
das mãos, deve-se verificar se estes estão
registrados na Anvisa, atendendo às exigências
específicas para cada produto.
A compra de sabonetes e de agentes anti-sépticos
padronizados pela instituição para a higienização
das mãos deve ser realizada segundo os
parâmetros técnicos definidos para o produto e
com a aprovação da CFT e da CCIH. A comprovação
da legalidade do produto também pode ser
realizada solicitando-se ao fornecedor a comprovação
do seu registro/notificação.
As informações sobre os produtos registrados/
notificados na Anvisa utilizados para a higienização
das mãos, bem como a legislação que regula
esta prática, estão disponíveis no site da instituição
(www.anvisa.gov.br).
Salientamos também a importância da participação
dos serviços de saúde, bem como de seus
usuários, na vigilância e na notificação à Anvisa
de queixas técnicas e eventos adversos advindos
do uso de produtos utilizados para a higienização
das mãos. As notificações de eventos adversos
e queixas técnicas relacionadas com os produtos
sob vigilância sanitária podem ser feitas
pelo Sistema de Notificações em Vigilância Sanitária
(Notivisa), que também pode ser acessado
por meio do site da Anvisa.
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 53
PRODUTOS UTILIZADOS NA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
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Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 57
CAPÍTULO 6 | EQUIPAMENTOS E INSUMOS NECESSÁRIOS PARA
A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
Adjane Balbino de Amorim
Fabiana Cristina de Sousa
Heiko Thereza Santana
Regina Maria Gonçalves Barcellos
As mãos são consideradas as principais vias de
disseminação de infecções relacionadas à assistência
à saúde. Sendo assim, a eficaz higienização
das mãos é uma medida muito importante
para evitar essas infecções, embora a adesão
dos profissionais de saúde às práticas recomendadas
ainda seja considerada baixa (CDC, 2002;
ZIMAKOFF, 1992; HUGONNET; PERNEGER; PITTET,
2002; CONLY, 1989; COURINGTON; PATTERSON;
HOWARD, 1991).
Algumas das razões apontadas para o descumprimento
desta prática nos serviços de saúde
incluem, entre outros, a falta de equipamentos
necessários para a higienização das mãos, como
lavatórios/pias, ou sua localização não acessível,
e a não disponibilização, pelos serviços de
saúde, de produtos e suprimentos para a higienização
das mãos, abrangendo sabonetes, preparações
alcoólicas e papel toalha (PITTET, 2000;
BISCHOFF, 2000; HUGONNET; PITTET, 2000).
Os lavatórios/pias devem estar sempre limpos e
livres de objetos que possam dificultar o ato de
lavar as mãos. Nas UTIs, o acesso aos lavatórios/
pias pode estar bloqueado por equipamentos à
beira do leito (tais como respiradores, bombas
de infusão intravenosa e outros) (CDC, 2002). Assim,
é recomendável que as áreas próximas aos
lavatórios/pias não estejam repletas de equipamentos,
pois isto pode dificultar o acesso a eles
e, conseqüentemente, inibir a prática da higienização
das mãos pelos profissionais de saúde.
Recomenda-se, também, que a CCIH da instituição
supervisione ou crie um esquema que permita
verificar se os fatores citados acima estão
em consonância com as normas recomendadas
(BRASIL, 1989).
Profissional higienizando as mãos com água e sabonete
6.1 Equipamentos
Entre os equipamentos necessários para a higienização
das mãos estão incluídos os lavatórios/
pias, lavabo cirúrgico, dispensadores de sabonete
e anti-sépticos, porta-papel toalha e lixeira
para descarte do papel toalha.
6.1.1 Lavatório, pia de lavagem e lavabo cirúrgico
Os equipamentos básicos para a higienização
das mãos incluem:
• Lavatório – exclusivo para a higienização das
mãos. Possui formatos e dimensões variadas,
devendo ter profundidade suficiente para
que o profissional de saúde lave as mãos
58 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
EQUIPAMENTOS E INSUMOS NECESSÁRIOS PARA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
sem encostá-las nas paredes laterais ou bordas
da peça e tampouco na torneira, além
de evitar respingos nas laterais do lavatório,
no piso e no profissional. Deve estar sempre
limpo e em funcionamento. Pode estar inserido
em bancadas ou não.
• Pia de lavagem – destinada preferencialmente
à lavagem de utensílios, pode ser usada,
também, para a higienização das mãos.
Possui profundidade variada, formato retangular
ou quadrado e dimensões variadas.
Sempre está inserida em bancadas.
• Lavabo cirúrgico – exclusivo para o preparo cirúrgico
das mãos e antebraços. Possui profundidade
suficiente para permitir a lavagem do
antebraço sem que o mesmo toque no equipamento.
Lavabos com uma única torneira devem
ter dimensões mínimas iguais a 50 cm de largura,
100 cm de comprimento e 50 cm de profundidade.
A cada nova torneira inserida deve-se
acrescentar 80 cm ao comprimento da peça.
Segundo a RDC n° 50 da Anvisa, de 21 de fevereiro
de 2002 (BRASIL, 2002), sempre que houver
paciente (acamado ou não) examinado, manuseado,
tocado, medicado ou tratado, é obrigatória a
provisão de recursos para a higienização das mãos
por meio de lavatórios ou pias para uso da equipe
de assistência. Nos locais de manuseio de insumos,
amostras, medicamentos e alimentos também é
obrigatória a instalação de lavatórios/pias.
De acordo com a legislação supracitada, todos
os lavatórios, pias e lavabos cirúrgicos devem
possuir torneiras ou comandos do tipo que
dispensem o contato das mãos quando do fechamento
da água. Junto a estes deve existir
provisão de sabonete líquido, além de recursos
para secagem das mãos. Nos ambientes em que
sejam executados procedimentos invasivos,
dispensados cuidados a pacientes críticos e/ou
nos quais a equipe de assistência tenha contato
direto com feridas e/ou dispositivos invasivos
como cateteres e drenos, deve existir, além do
sabonete citado, provisão de anti-séptico junto
às torneiras de higienização das mãos. Nos lavabos
cirúrgicos, a torneira não pode ser do tipo de
pressão com temporizador, sendo que o acionamento
deve ocorrer com o cotovelo, pé, joelho
ou célula fotoelétrica.
Todos esses lavatórios/pias devem ter fácil acesso
e atender, no mínimo, à proporção abaixo definida
(BRASIL, 2002):
• Quarto ou enfermaria: um lavatório externo
pode servir a, no máximo, quatro quartos ou
duas enfermarias.
• Unidade de Terapia Intensiva: deve existir um
lavatório a cada cinco leitos de não isolamento.
• Ambientes destinados ao preparo e cocção
de alimentos e ao preparo de mamadeiras:
um lavatório em cada ambiente.
• Berçário: um lavatório a cada quatro berços.
• Ambientes destinados à realização de procedimentos
de reabilitação e coleta laboratorial:
um lavatório a cada seis boxes.
• Unidade destinada ao processamento de
roupas: um lavatório na área “suja” (banheiro)
e um lavatório na área “limpa”.
6.1.2 Dispensadores de sabonete e anti-sépticos
Antes da compra de produtos para higienização
das mãos, os dispensadores devem ser avaliados
para assegurar seu correto funcionamento, facilidade
de limpeza, liberação de volume suficiente
do produto e existência de dispositivos que não
RDC/Anvisa no 50/2002 favoreçam a contaminação do produto.
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 59
EQUIPAMENTOS E INSUMOS NECESSÁRIOS PARA A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
Para evitar a contaminação do sabonete líquido e
do produto anti-séptico, as seguintes recomendações
devem ser observadas (BRASIL, 2007):
• Os dispensadores devem possuir dispositivos
que facilitem seu esvaziamento e preenchimento.
• No caso de os recipientes de sabonete líquido
e anti-séptico não serem descartáveis,
deve-se proceder à limpeza destes com água
e sabão, desprezando o produto residual, e à
secagem, seguida de desinfecção com álcool
etílico a 70%, no mínimo uma vez por semana,
conforme estabelecido pela CCIH.
• O conteúdo do recipiente não deve ser completado
antes do término do produto, devido
ao risco de contaminação.
• Para os produtos não acondicionados em recipientes
descartáveis, devem-se manter os
registros dos responsáveis pela execução e a
data de manipulação, envase e validade da
solução fracionada.
• A validade do produto, quando mantida na
embalagem original, é definida pelo fabricante
e deve constar no rótulo.
• A validade do produto fora da embalagem
do fabricante ou fracionado deve ser validada,
ou seja, deve ser menor que aquela definida
pelo fabricante, pois o produto já foi
manipulado; essa validade pode ser monitorada,
por exemplo, por testes que avaliem o
pH, a concentração da solução e a presença
de matéria orgânica.
• Deve-se optar por dispensadores de fácil limpeza
e que evitem o contato direto com as
mãos. Preferencialmente, devem ser escolhidos
os do tipo refil. Neste caso, a limpeza interna
deve ser feita no momento da troca do refil.
Vários tipos de dispensadores que atendem aos
requisitos básicos para evitar a contaminação da
solução e que são de fácil manuseio são encontrados
no mercado.
O acionamento desses dispensadores pode ser
manual ou automático. Devem ser usados, preferencialmente,
os modelos descartáveis, acionados
por cotovelos, pés ou célula fotoelétrica.
6.1.3 Porta-papel toalha
O porta-papel toalha deve ser fabricado, preferencialmente,
com material que não favoreça a
oxidação, sendo de fácil limpeza. A instalação
deve ser de tal forma que ele não receba respingos
de água e sabonete. É necessário o estabelecimento
de rotinas de limpeza e de protocolos
de reposição do papel pelos serviços de saúde.
Dispensador de sabonete líquido
Porta-papel toalha
60 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
EQUIPAMENTOS E INSUMOS NECESSÁRIOS PARA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
6.1.4 Lixeira para descarte do papel toalha
Junto aos lavatórios e às pias, deve sempre existir
um recipiente para o acondicionamento do
material utilizado na secagem das mãos. Esse
recipiente deve ser de fácil limpeza, não sendo
necessária a existência de tampa. No caso de se
optar por mantê-lo tampado, o recipiente deverá
ter tampa articulada com acionamento de abertura
sem utilização das mãos (BRASIL, 2004a).
6.2 Insumos e suprimentos
A água e o papel toalha constituem, respectivamente,
insumo e suprimento imprescindíveis para a prática
da higienização das mãos nos serviços de saúde.
Os produtos utilizados para este fim, tais como sabonetes,
preparações alcoólicas para as mãos e outros
agentes anti-sépticos, são abordados no Capítulo 5.
6.2.1 Água
A qualidade da água utilizada nos serviços de saúde
é de fundamental importância para as práticas
de higienização das mãos. Assim, a água deve ser
livre de contaminantes químicos e biológicos, obedecendo
aos dispositivos da Portaria GM/MS n°
518, de 25 de março de 2004 (BRASIL, 2004b), que
estabelece os procedimentos relativos ao controle
e à vigilância da qualidade deste insumo. Os reservatórios
devem ser construídos conforme as normas
vigentes. Além disso, devem possuir tampa,
ser limpos e desinfetados, e submetidos a controle
microbiológico semestral. Quaisquer outros controles
ficam a critério da CCIH (BRASIL, 1989).
6.2.2 Papel toalha
O papel toalha utilizado para a secagem das mãos
deve ser suave, composto por 100% de fibras celulósicas,
sem fragrância, impureza ou furos, não
liberar partículas e possuir boa propriedade de
secagem (AYLIFFE et al., 2000). A rotina de reposição
do papel toalha deve ser estabelecida pelo
serviço de saúde, permitindo sempre a disponibilização
deste próximo aos lavatórios/pias. Devese
dar preferência aos papéis em bloco e rolo, que
possibilitam o uso individual, folha a folha (BRASIL,
1989). O uso coletivo de toalhas de tecido é
contra-indicado, pois estas podem permanecer
úmidas, favorecendo a proliferação bacteriana.
O secador elétrico não é indicado para a higienização
das mãos nos serviços de saúde, pois
raramente o tempo necessário para a secagem
é obedecido, além de haver dificuldade no seu
acionamento (LIRA et al., 2004). Além disso, podem
ser acumulados microrganismos em seu interior
(REDWAY; KNIGHTS, 1998).
O acionamento manual de certos modelos de
aparelho também pode permitir a recontaminação
das mãos.
Higienização simples das mãos
Água
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 61
EQUIPAMENTOS E INSUMOS NECESSÁRIOS PARA A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
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Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 63
CAPÍTULO 7 | HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
Fabiana Cristina de Sousa
Heiko Thereza Santana
A higienização das mãos é a medida individual
mais simples e menos dispendiosa para prevenir
a propagação das infecções relacionadas à
assistência à saúde (LARSON, 2001; CDC, 2002).
Recentemente, o termo “lavagem das mãos” foi
substituído por “higienização das mãos”, englobando
a higienização simples, a higienização
anti-séptica, a fricção anti-séptica e a anti-sepsia
cirúrgica das mãos (CDC, 2002).
A higienização das mãos apresenta as seguintes
finalidades (CDC, 2002; BRASIL, 2007): remoção
de sujidade, suor, oleosidade, pêlos, células descamativas
e microbiota da pele, interrompendo
a transmissão de infecções veiculadas ao contato;
prevenção e redução das infecções causadas
pelas transmissões cruzadas.
Apesar de as evidências mostrarem a importância
das mãos na cadeia de transmissão das infecções
relacionadas à assistência à saúde e os efeitos dos
procedimentos de higienização das mãos na diminuição
das taxas de infecção, os profissionais
de saúde ainda adotam uma atitude passiva diante
deste problema de saúde pública mundial.
Um fator que precisa ser avaliado é o tempo
necessário para que os profissionais de saúde
higienizem as suas mãos. Sendo assim, o fácil
acesso aos suprimentos utilizados para a higienização
das mãos é essencial para a adesão desses
profissionais à prática em questão.
Um estudo conduzido em uma UTI demonstrou
que os profissionais de saúde levaram, em
média, 62 segundos para deixar a beira do leito,
caminhar até a pia, proceder à higienização
simples das mãos e voltar a cuidar do paciente
(VOSS; WIDMER, 1997). Por outro lado, em cerca
de ¼ desse tempo pode-se realizar a fricção das
mãos com preparações alcoólicas disponibilizadas
à beira do leito de cada paciente (CDC, 2002).
A aplicação da técnica de higienização das mãos
torna-se inadequada, na prática diária, pelo esquecimento
de algumas de suas etapas (passo
a passo), havendo preocupação, por parte dos
profissionais de saúde, com a quantidade e não
com a qualidade desse ato (CORREA; RANALI;
PIGNATARI, 2001). As principais falhas na técnica
ocorrem, principalmente, pela não-utilização de
Profissionais de saúde e paciente
64 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
sabonete e pela não observação das superfícies
das mãos a serem friccionadas, entre outras.
Devem higienizar as mãos todos os profissionais
que trabalham em serviços de saúde, que mantêm
contato direto ou indireto com os pacientes e que
manipulam medicamentos, alimentos e material
estéril ou contaminado (WHO, 2006a). Recomenda-
se, ainda, que familiares, acompanhantes e
visitantes higienizem as mãos antes e após terem
contato com os pacientes nos serviços de saúde.
7.1 Indicações
As mãos dos profissionais que atuam em serviços
de saúde podem ser higienizadas utilizandose
água e sabonete, preparação alcoólica e antiséptico
degermante.
A utilização de um determinado produto depende
das indicações descritas a seguir (CDC, 2002;
WHO, 2006a; 2006b; BRASIL, 2007).
7.1.1 Uso de água e sabonete
As mãos devem ser higienizadas com água e sabonete
nas seguintes situações:
• Quando estiverem visivelmente sujas ou
contaminadas com sangue e outros fluidos
corporais.
• Ao iniciar e terminar o turno de trabalho.
• Antes e após ir ao banheiro.
• Antes e depois das refeições.
• Antes de preparar alimentos.
• Antes de preparar e manipular medicamentos.
• Antes e após contato com paciente colonizado
ou infectado por Clostridium difficile.
• Após várias aplicações consecutivas de produto
alcoólico.
• Nas situações indicadas para o uso de preparações
alcoólicas.
Procedimento cirúrgico
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 65
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
7.1.2 Uso de preparações alcoólicas
A higienização das mãos deve ser feita com preparação
alcoólica (sob a forma gel ou líquida
com 1%-3% de glicerina) quando estas não estiverem
visivelmente sujas, em todas as situações
descritas a seguir:
• Antes de ter contato com o paciente.
• Após ter contato com o paciente.
• Antes de realizar procedimentos assistenciais
e manipular dispositivos invasivos.
• Antes de calçar luvas para inserção de dispositivos
invasivos que não requeiram preparo
cirúrgico.
• Após risco de exposição a fluidos corporais.
• Ao mudar de um sítio corporal contaminado
para outro, limpo, durante o cuidado ao paciente.
• Após ter contato com objetos inanimados e superfícies
imediatamente próximas ao paciente.
• Antes e após a remoção das luvas.
7.1.3 Uso de agentes anti-sépticos
Estes produtos associam detergentes com antisépticos
e se destinam à higienização anti-séptica
das mãos e à degermação da pele das mãos,
descritas abaixo (BRASIL, 2007).
7.1.3.1 Higienização anti-séptica
• Nos casos de precaução de contato recomendada
para pacientes portadores de microrganismos
multirresistentes.
• Nos casos de surtos.
7.1.3.2 Degermação da pele
• No pré-operatório, antes de qualquer procedimento
cirúrgico (indicado para toda a
equipe cirúrgica).
• Antes da realização de procedimentos invasivos
(por exemplo, inserção de cateter intravascular
central, punções, drenagens de
cavidades, instalação de diálise, pequenas
suturas, endoscopias e outros).
Procedimento cirúrgico
66 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
2 Aplicar na palma da mão quantidade suficiente
de sabonete líquido para cobrir
toda a superfície das mãos (seguir a quantidade
recomendada pelo fabricante).
3 Ensaboar as palmas das mãos, friccionando-
as entre si.
4 Esfregar a palma da mão direita contra o
dorso da mão esquerda, entrelaçando os
dedos, e vice-versa.
7.2 Técnicas
Dependendo do objetivo ao qual se destinam,
as técnicas de higienização das mãos podem
ser divididas em (CDC, 2002; WHO, 2006b;
BRASIL, 2007):
• Higienização simples.
• Higienização anti-séptica.
• Fricção de anti-séptico.
• Anti-sepsia cirúrgica ou preparo pré-operatório.
A eficácia da higienização das mãos depende da
duração e da técnica empregada. Antes de iniciar
qualquer uma dessas técnicas, é necessário
retirar anéis, pulseiras e relógios, pois tais objetos
podem acumular microrganismos (CDC, 2002).
A higienização simples das mãos deve ter duração
de 40 a 60 segundos.
7.2.1.3 Técnica
1 Abrir a torneira e molhar as mãos, evitando
encostar-se à pia.
7.2.1 Higienização simples
7.2.1.1 Finalidade
Remover os microrganismos que colonizam as
camadas superficiais da pele, assim como o suor,
a oleosidade e as células mortas, retirando a sujidade
propícia à permanência e à proliferação de
microrganismos.
7.2.1.2 Duração do procedimento:
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 67
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
5 Entrelaçar os dedos e friccionar os espaços
interdigitais.
8 Friccionar as polpas digitais e as unhas da
mão esquerda contra a palma da mão direita,
fechada em concha, fazendo movimento
circular, e vice-versa.
10 Enxaguar as mãos, retirando os resíduos de
sabonete. Evitar contato direto das mãos
ensaboadas com a torneira.
6 Esfregar o dorso dos dedos de uma mão
com a palma da mão oposta, segurando
os dedos, com movimento de vai-e-vem, e
vice-versa.
7 Esfregar o polegar direito com o auxílio da
palma da mão esquerda, realizando movimento
circular, e vice-versa.
9 Esfregar o punho esquerdo com o auxílio
da palma da mão direita, realizando movimento
circular, e vice-versa.
68 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
ólica a 70% com 1%-3% de glicerina pode substituir
a higienização com água e sabonete quando
as mãos não estiverem visivelmente sujas.
7.2.3.2 Duração do procedimento:
A fricção das mãos com anti-séptico deve ter duração
de 20 a 30 segundos
7.2.3.3 Técnica
11 Secar as mãos com papel toalha descartável,
iniciando pelas mãos e seguindo pelos
punhos. No caso de torneiras com contato
manual para fechamento, sempre utilizar
papel toalha.
2 Friccionar as palmas das mãos entre si
7.2.2 Higienização anti-séptica
7.2.2.1 Finalidade
Promover a remoção de sujidades e de microrganismos,
reduzindo a carga microbiana das mãos,
com auxílio de um anti-séptico.
7.2.2.2 Duração do procedimento
A higienização anti-séptica das mãos deve ter
duração de 40 a 60 segundos.
7.2.2.3 Técnica
A técnica de higienização anti-séptica é igual àquela
utilizada para a higienização simples das mãos, substituindo-
se o sabonete comum por um associado a
anti-séptico (por exemplo, anti-séptico degermante).
7.2.3 Fricção das mãos com anti-séptico
(preparações alcoólicas)
7.2.3.1 Finalidade
Reduzir a carga microbiana das mãos (não há remoção
de sujidades). A utilização de gel alcoólico
– preferencialmente a 70% – ou de solução alco-
1 Aplicar na palma da mão quantidade suficiente
do produto para cobrir toda a superfície
das mãos (seguir a quantidade recomendada
pelo fabricante).
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 69
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
3 Friccionar a palma da mão direita contra
o dorso da mão esquerda, entrelaçando os
dedos, e vice-versa.
6 Friccionar o polegar direito com o auxílio
da palma da mão esquerda, realizando
movimento circular, e vice-versa.
4 Friccionar a palma das mãos entre si, com
os dedos entrelaçados.
5 Friccionar o dorso dos dedos de uma mão
com a palma da mão oposta, segurando
os dedos, e vice-versa.
7 Friccionar as polpas digitais e as unhas
da mão esquerda contra a palma da mão
direita, fazendo um movimento circular, e
vice-versa.
8 Friccionar os punhos com movimentos circulares.
70 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
7.2.4 Anti-sepsia cirúrgica ou preparo
pré-operatório das mãos
A anti-sepsia cirúrgica das mãos constitui uma
medida importante, entre outras, para a prevenção
da infecção de sítio cirúrgico
7.2.4.1 Finalidade
Eliminar a microbiota transitória da pele e reduzir
a microbiota residente, além de proporcionar
efeito residual na pele do profissional.
As escovas utilizadas no preparo cirúrgico das
mãos devem ser descartáveis e de cerdas macias,
impregnadas ou não com anti-séptico e de uso
exclusivo em leito ungueal, subungueal e espaços
interdigitais.
7.2.4.2 Duração do procedimento
A anti-sepsia cirúrgica ou preparo pré-operatório
das mãos deve durar de três a cinco minutos
para a primeira cirurgia e de dois a três minutos
para as cirurgias subseqüentes.
7.2.4.3 Técnica
1 Abrir a torneira e molhar as mãos, os antebraços
e os cotovelos.
2 Recolher, com as mãos em concha, o antiséptico
e espalhar nas mãos, antebraços e
cotovelos. No caso de escova impregnada
com anti-séptico, pressionar a parte impregnada
da esponja contra a pele e espalhar
por todas as partes das mãos, antebraços
e cotovelos.
3 Limpar sob as unhas com as cerdas da escova.
9 Friccionar até secar. Não utilizar papel
toalha.
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 71
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
4 Friccionar as mãos, observando os espaços
interdigitais e os antebraços, por no
mínimo três a cinco minutos, mantendo as
mãos acima dos cotovelos.
7.3 Uso de Luvas
As recomendações quanto ao uso de luvas por
profissionais de saúde são (CDC, 2002; WHO,
2006a; 2006b; BRASIL, 2007):
• Usar luvas somente quando indicado.
• Utilizá-las para proteção individual, nos casos
de contato com sangue e líquidos corporais,
e contato com mucosas e pele não
íntegra de todos os pacientes.
• Utilizá-las para reduzir a possibilidade de os
microrganismos das mãos do profissional
contaminarem o campo operatório (luvas
cirúrgicas).
• Utilizá-las para reduzir a possibilidade de
transmissão de microrganismos de um paciente
para outro nas situações de precaução
de contato.
• Trocar de luvas sempre que entrar em contato
com outro paciente.
• Trocar de luvas, também, durante o contato
com o paciente se for mudar de um sítio
corporal contaminado para outro, limpo, ou
quando estas estiverem danificadas.
• Nunca tocar desnecessariamente superfícies
e materiais (tais como telefones, maçanetas,
portas) quando estiver com luvas.
1
2
3
5 Enxaguar as mãos em água corrente, no
sentido das mãos para os cotovelos, retirando
todo o resíduo do produto. Fechar a
torneira com o cotovelo, joelho ou pés, se a
torneira não possuir fotossensor.
6 Enxugar as mãos em toalhas ou compressas
estéreis, com movimentos compressivos,
iniciando pelas mãos e seguindo
pelos antebraços e cotovelos, atentando
para utilizar as diferentes dobras da toalha/
compressa para regiões distintas.
72 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
• Não lavar ou usar novamente o mesmo par
de luvas.
• O uso de luvas não substitui a higienização
das mãos.
• Observar a técnica correta de remoção das
luvas para evitar a contaminação das mãos,
abaixo descrita (SIEGEL et al., 2007):
• Retirar as luvas, puxando a primeira pelo
lado externo do punho com os dedos da
mão oposta.
• Segurar a luva removida com a mão enluvada.
• Tocar a parte interna do punho da mão
enluvada com o dedo indicador oposto
(sem luvas) e retirar a outra luva.
• Descartar as luvas em lixeira apropriada.
7.3.1 Indicações do uso de luvas estéreis
Entre as recomendações preconizadas, utilizamse
luvas estéreis nos seguintes procedimentos
(WHO, 2006a):
• Qualquer procedimento cirúrgico.
• Parto vaginal.
• Procedimentos invasivos.
• Realização de acessos e procedimentos vasculares
(vias centrais).
• Quaisquer procedimentos nos quais seja necessária
a manutenção da técnica asséptica.
7.4 Outros aspectos da higienização das
mãos
Na higienização das mãos, devem ser observadas,
ainda, as seguintes recomendações (CDC,
2002; WHO, 2006b; BRASIL, 2007):
• Manter as unhas naturais, limpas e curtas.
• Não usar unhas postiças quando entrar em
contato direto com os pacientes.
• Evitar o uso de esmaltes nas unhas.
• Evitar utilizar anéis, pulseiras e outros adornos
quando assistir o paciente.
• Aplicar creme hidratante nas mãos (uso individual),
diariamente, para evitar ressecamento
da pele.
Procedimento cirúrgico
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 73
HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
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Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 75
CAPÍTULO 8 | EFEITOS ADVERSOS PROVOCADOS PELOS PRODUTOS
UTILIZADOS PARA A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
Julia Yaeko Kawagoe
8.1 Efeitos adversos provocados pelos
sabonetes associados ou não a anti-sépticos
Um problema associado à higienização das
mãos com água e sabonete é a queixa, pelos profissionais
de saúde, de ressecamento das mãos e
dermatite crônica de contato, devido ao uso freqüente
e repetitivo do produto, podendo constituir
uma barreira à sua efetiva prática. A adição
de emolientes à formulação do produto pode diminuir
os efeitos adversos descritos (CDC, 2002;
WHO, 2006; KAMPF; KRAMER, 2004; ROTTER,
2004; LARSON, 1996).
O ato de remover a sujeira da superfície da pele
entra em conflito com a manutenção do nível
adequado de lipídios e hidratação. O efeito – dano
à pele das mãos – causado pela freqüente higienização
das mãos com água e sabonete resulta da
remoção dos lipídios presentes na camada córnea
da epiderme, provocando perda excessiva de
água transcutânea e remoção de fatores naturais
de hidratação. Portanto, a escolha do produto
para essa prática é fundamental, considerando
as variáveis “remover sujeira/microrganismos” e
“deixar a pele seca/irritada”, sendo que o primeiro
passo é escolher, entre os produtos disponíveis no
mercado, aquele que contém surfactante suave
(KAISER; NEWMAN, 2006).
8.2 Efeitos adversos provocados pelas
preparações alcoólicas
OO uso freqüente de preparações alcoólicas nas
mãos pode causar ressecamento, a menos que
emolientes, umectantes ou outros agentes condicionadores
sejam adicionados à formulação. O
efeito de ressecamento do álcool pode ser diminuído
ou eliminado com a adição de 1% a 3% de
glicerol ou outro agente hidratante da pele.
Vários estudos recentes têm demonstrado que
preparações alcoólicas sob a forma líquida ou
gel contendo emolientes causam menor ressecamento
nas mãos que sabonetes associados a
anti-sépticos (WICKETT; VISSCHER, 2006; KAISER;
NEWMAN, 2006; GIRARD; AMAZIAN; FABRY, 2001;
KRAMER; BERNIG; KAMPF, 2002). Esses estudos,
conduzidos em serviços de saúde, utilizaram vários
métodos objetivos e subjetivos de avaliação
de irritação e ressecamento da pele. Outros estu-
Dermatite
76 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
EFEITOS ADVERSOS PROVOCADOS PELOS PRODUTOS UTILIZADOS PARA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
dos são necessários para estabelecer se produtos
com diferentes formulações têm resultados
similares (CDC, 2002; WHO, 2006).
Mesmo as formulações de álcool contendo emolientes,
bem tolerados e aceitos pelos profissionais
de saúde, podem causar sensação de ardência
se aplicadas em solução de continuidade da
pele, ou seja, cortes e abrasões.
As preparações alcoólicas contendo fragrâncias
podem não ser toleradas pelos profissionais de
saúde que tenham problemas de alergia respiratória.
Podem ocorrer ainda, mesmo que raramente,
dermatites de contato ou síndrome de
urticária de contato, causadas por hipersensibilidade
ao álcool ou a vários agentes aditivos
presentes em certas formulações alcoólicas (CIMIOTTI
et al., 2003).
8.3 Estratégias para reduzir os efeitos
adversos provocados pelos produtos
utilizados para a higienização das mãos
Entre as estratégias que podem ser utilizadas
para minimizar os efeitos adversos provocados
pelos produtos utilizados para higienização
das mãos, destacam-se (CDC, 2002; WHO, 2006;
WINNEFELD et al., 2000; HANNUKSELA, 1996;
MCCORMICK; BUCHMAN; MAKI, 2000):
• Racionalizar as indicações da prática de higienização
das mãos, por meio da redução
da exposição desnecessária aos produtos.
• Substituir produtos que causam ressecamento,
irritação e dermatites por outros que
causam menos danos à pele, ou seja, disponibilizar
produtos contendo emolientes.
• Educar os profissionais de saúde quanto aos
riscos de ressecamento e dermatites de contato
irritativa e quanto à importância de medidas
de prevenção, a exemplo do uso diário
de cremes hidratantes para a pele das mãos.
• Recomendar aos profissionais de saúde para
não lavar as mãos com água e sabonete imediatamente
após o uso de preparações alcoólicas,
a fim de evitar dermatites.
• Evitar água muito quente ou muito fria na
higienização das mãos, a fim de prevenir o
ressecamento da pele.
• Enxaguar bem as mãos para remover todo o
resíduo de produtos químicos.
• Secar bem as mãos antes de calçar as luvas.
8.4 Fatores a considerar ao selecionar
produtos para a higienização das mãos
Ao avaliar produtos de higienização das mãos
para serem utilizados em serviços de saúde, o administrador,
a Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar, a Comissão de Farmácia e Terapêutica
e/ou a comissão de compras/seleção de produtos
devem considerar a eficácia antimicrobiana do
agente anti-séptico contra os vários patógenos, a
aceitação do produto pelos profissionais de saúde,
a facilidade de acesso ao produto e os custos.
A não-aceitação de alguns produtos pelos profissionais
pode ser um fator causal da diminuição
da freqüência de higienização das mãos. Características
como odor, consistência e cor podem
afetar a aceitação do produto. No caso dos sabonetes,
a facilidade de serem espalhados pode interferir
na preferência pelos mesmos; já o tempo
requerido para os produtos alcoólicos secarem
pode prejudicar a sua aceitação.
A freqüência com que os profissionais de saúde
necessitam lavar as suas mãos em cada turno de
trabalho (até 30 vezes por plantão) e a tendência
Profissional molhando as mãos - higienização simples das mãos
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 77
EFEITOS ADVERSOS PROVOCADOS PELOS PRODUTOS UTILIZADOS PARA A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
dos produtos em causar irritação e/ou ressecamento
são fatores determinantes para a sua baixa
aceitação e para a resistência ao seu uso na
prática diária. Por exemplo, a preocupação com
o efeito de ressecamento do álcool nas mãos era
a causa primária da baixa aceitação dos produtos
alcoólicos nos EUA, nos anos 1960-1970. No
entanto, vários estudos recentes têm demonstrado
que a adição de emolientes às preparações
alcoólicas tem aumentado a adesão a esta
prática pelos profissionais de saúde (BISCHOFF
et al., 2000; MAURY et al., 2000; HARBARTH et
al., 2002; HILBURN et al., 2003; SANTANA et al.,
2007; WIDMER et al., 2007).
Estudos indicam que a freqüência das práticas
de higienização das mãos é afetada pelo acesso
dos profissionais de saúde aos equipamentos
e insumos necessários. Em certas unidades, só
existe um lavatório disponível para a assistência
a vários pacientes ou os lavatórios/pias estão localizados
distantes da porta ou quarto, desencorajando
os profissionais a deixarem o quarto
para lavar as mãos. Nas UTIs, o acesso aos lavatórios/
pias pode ser bloqueado pelos equipamentos
médicos, como ventiladores mecânicos ou
bombas de infusão.
Para se higienizar as mãos com água e sabonete,
há necessidade de lavatórios/pias com estrutura
de encanamento de água e esgoto e rede elétrica
(se o acionamento for automático), ao passo
que os dispensadores de preparações alcoólicas
para fricção das mãos não requerem um local
fixo como o lavatório/pia, podendo estar disponíveis
ao lado de cada leito ou em outras áreas
de cuidado ao paciente, e inclusive ser transportados
pelo profissional de saúde no bolso.
O uso combinado de preparações alcoólicas em
apresentação “de bolso” e dispensadores à beira
dos leitos pode aumentar substancialmente
a adesão aos protocolos de higienização das
mãos pelos profissionais que atuam nos serviços
de saúde.
Para evitar a confusão entre sabonete e preparação
alcoólica para fricção das mãos, os dispensadores
de álcool não devem ser colocados
próximos aos lavatórios/pias. Os profissionais
de saúde devem ser informados que higienizar Gel alcoólico para as mãos
78 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
EFEITOS ADVERSOS PROVOCADOS PELOS PRODUTOS UTILIZADOS PARA HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
as mãos com água e sabonete após cada utilização
de álcool pode causar dermatite. Entretanto,
como os usuários desses produtos sentem as
mãos pegajosas devido aos emolientes contidos
na sua formulação, após o uso repetido do gel alcoólico,
os fabricantes têm recomendado higienizar
as mãos com água e sabonete após cinco a
dez aplicações do gel.
O sistema de dispensação do produto também
precisa ser avaliado. Os dispensadores podem desencorajar
o uso quando o acesso a eles estiver parcial
ou totalmente bloqueado, quando não dispensam
ou dispensam inadequadamente o produto
nas mãos (volume insuficiente ou direcionado à
parede e não às mãos) e nos casos de obstrução
por aumento da viscosidade do produto.
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 79
EFEITOS ADVERSOS PROVOCADOS PELOS PRODUTOS UTILIZADOS PARA A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
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80 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
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Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 81
CAPÍTULO 9 | MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO
ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
Luci Corrêa
9.1 As práticas de higienização das mãos
entre os profissionais de saúde
O entendimento de como o profissional de saúde
pratica a higienização das mãos é essencial
para o planejamento de intervenções nos serviços
de saúde.
Em estudos observacionais conduzidos em hospitais,
os profissionais de saúde higienizam suas
mãos, em média, de 5 a 30 vezes por plantão.
A freqüência média de higienização das mãos
pode variar de 0,7 a 12 episódios por hora, de
acordo com a adesão do profissional a esta medida
e também em função da unidade onde
está sendo realizada a observação. O número de
oportunidades para higienização das mãos varia
consideravelmente de acordo com as diferentes
unidades de internação do hospital. Exemplificando,
um enfermeiro em uma unidade pediátrica
pode ter em média oito oportunidades para
a higienização das mãos por hora de cuidado
prestado ao paciente, enquanto que em uma
UTI podem ser alcançadas 22 oportunidades por
hora. O número de oportunidades depende diretamente
do processo de cuidado prestado ao
paciente. Com isso, a revisão de protocolos de
assistência em busca da racionalização da higienização
das mãos pode reduzir contatos desnecessários
e, conseqüentemente, reduzir o número
de oportunidades para essa prática.
A duração da técnica de higienização das mãos
também foi mensurada em vários estudos e varia
de 6,6 a 30 segundos, tendo sido, na maioria
das vezes, utilizada a técnica de higienização
simples das mãos com água e sabonete. Além da
evidência de que os profissionais higienizam as
suas mãos de forma muito rápida, estes freqüentemente
exibem falhas na técnica, não atingindo
toda a superfície das mãos e dedos. A técnica foi
avaliada por Widmer et al. (2007), adicionando
um composto fluorescente ao gel alcoólico e realizando
a contagem bacteriana em várias partes
da superfície das mãos, em um hospital onde
produtos alcoólicos para higienização das mãos
são utilizados desde os anos 70. Foi observado
que apenas 31% dos profissionais realizavam a
técnica adequada para higienizar as mãos, a despeito
do uso desses produtos há vários anos.
Em resumo, a freqüência de oportunidades para
a higienização das mãos pode ser bastante elevada
por hora de cuidado prestado e a qualidade
da técnica utilizada pode estar comprometida.
As falhas ao higienizar as mãos podem ter como
conseqüência a transferência de microrganismos
de um paciente a outro, ou de um sítio anatômi-
Profissionais prestando assistência de saúde à paciente
82 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
co a outro na seqüência de cuidados ao mesmo
paciente, e, ainda, para o ambiente e superfícies.
9.2 Adesão às práticas de higienização das
mãos pelos profissionais de saúde
Apesar da existência de fortes evidências de que
a adequada higienização das mãos é uma das
medidas mais importantes para a redução da
transmissão cruzada de microrganismos e das taxas
de infecção hospitalar, a adesão a esta prática
permanece baixa entre os profissionais de saúde,
com taxas que variam de 5% a 81%, sendo, em
média, em torno de 40% (Quadro 3). A definição
de adesão às práticas de higienização das mãos
varia consideravelmente entre os diversos estudos,
muitas vezes não havendo informação do
critério utilizado. Não há também uniformidade
em relação à definição de oportunidade para a
higienização das mãos. Alguns estudos consideram
oportunidades apenas aquelas nas quais há
contato com o paciente, não sendo considerado
como oportunidade o contato das mãos com o
Quadro 3 - Alguns estudos publicados sobre taxa de adesão às práticas de higienização das mãos pelos
profissionais de saúde
Autor e ano da publicação Unidade observada % de adesão
Preston; Larson; Stamm (1981) Unidades de internação 16
Albert; Condie (1981) UTI 28
Larson (1983) Todas as unidades 45
Donowitz (1987) UTI Pediátrica 30
Graham (1990) UTI 32
Dubbert et al. (1990) UTI 81
Pettinger; Nettleman (1991) UTI Cirúrgica 51
Larson et al. (1992) UTI Neonatal 29
Doebbeling et al. (1992) UTI 40
Zimakoff et al. (1992) UTI 40
Meengs et al. (1994) Pronto atendimento 32
Berg et al. (1995) UTI 5
Pittet; Mourouga; Perneger (1999) Todas as unidades 48
Bischoff et al. (2000) UTI 20
Brown et al. (2003) UTI Neonatal 44
Won et al. (2004) UTI Neonatal 43
Lam; Lee; Lau (2004) UTI Neonatal 40
Neves et al. (2006) UTI Neonatal 40
Pittet et al. (2004) Médicos em todas as unidades 57
Kuzu et al. (2005) Todas as unidades 39
Saba et al.(2005) Hemodiálise 26
Noritomi et al. (2007) UTI 27,9
Santana et al. (2007) UTI 18,3
Adaptado de: PITTET, 2003. p. 524-541.
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 83
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
ambiente e superfícies, o que hoje é bem determinado
como possível fonte de contaminação
das mãos.
9.3 Fatores relacionados à adesão
Os fatores que buscam explicar a baixa adesão às
práticas de higienização das mãos são atualmente
conhecidos graças a estudos observacionais,
de intervenção ou de inquéritos epidemiológicos,
nos quais os profissionais de saúde apontam
as razões de não seguirem as recomendações.
O fato de ser médico ou auxiliar de enfermagem
é associado à menor adesão à higienização das
mãos. Entre os médicos, há variação da adesão de
acordo com a especialidade. No estudo realizado
Quadro 4 - Fatores que interferem na adesão às práticas de higienização das mãos
Fatores de risco identificados para a baixa adesão às recomendações voltadas à higienização das mãos
• Ser médico.
• Ser auxiliar de enfermagem.
• Ser do sexo masculino.
• Trabalhar em UTI.
• Trabalhar durante a semana versus finais de semana.
• Utilizar luvas e avental.
• Realizar atividades com maior risco de transmissão de infecção.
• Ter alto índice de atividade (nº de oportunidades/hora de cuidado prestado ao paciente).
Fatores apontados pelos profissionais de saúde para explicar a baixa adesão às práticas de higienização das mãos
• A higienização simples das mãos com água e sabonete causa irritação e ressecamento.
• As pias não estão acessíveis (número insuficiente ou mal localizadas).
• Falta de sabonete ou de papel toalha.
• Excesso de atividades ou tempo insuficiente.
• O paciente é a prioridade.
• A higienização das mãos interfere na relação com o paciente.
• Baixo risco de adquirir infecções a partir dos pacientes.
• Uso de luvas ou crença de que ao usar luvas não é necessário higienizar as mãos.
• Falta de conhecimento sobre os protocolos e manuais (recomendações).
• Não há um modelo de comportamento entre os superiores ou entre os colegas.
• Ceticismo a respeito da importância da higienização das mãos.
• Discordância em relação às recomendações.
• Esquecimento/não pensar nisso.
• Falta de informações científicas sobre o impacto da higienização das mãos nas taxas de infecção hospitalar.
Outras barreiras apontadas para a não-adesão às práticas de higienização das mãos
• Falta da participação ativa na promoção da higienização das mãos no nível individual ou institucional.
• Falta de um modelo a ser seguido nas práticas de higienização das mãos.
• Falta de prioridade da instituição em relação à higienização das mãos.
• Falta de sanções administrativas para os não-aderentes e premiação para os que realizam adequadamente a
higienização das mãos.
• Falta de clima de segurança institucional.
Adaptado de: PITTET, 2000. p. 384..
por Pittet et al. (2004), observando a adesão à higienização
das mãos entre médicos, a taxa global
de adesão foi de 57%, variando de 23% entre os
anestesiologistas a 87% entre os clínicos.
O Quadro 4 descreve os principais fatores identificados
para a não-adesão, em estudos observacionais
realizados em serviços de saúde, assim
como as barreiras apontadas pelos profissionais
para higienizar as mãos.
Buscando conhecer os principais fatores relacionados
à baixa adesão à higienização das mãos,
Pittet, Mourouga e Perneger (1999) realizaram
um estudo relevante, observando 2.834 oportunidades
para higienização simples das mãos com
água e sabonete, e identificaram 48% de adesão.
Na análise multivariada, a adesão foi maior en84
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
tre enfermeiros, durante os dias da semana, em
comparação com outras categorias profissionais.
Por outro lado, a falta de adesão foi mais elevada
nas UTIs, quando comparadas com outras unidades,
durante procedimentos de alto risco para a
contaminação bacteriana das mãos e quando a
intensidade do cuidado era elevada. Em outras
palavras, quanto maior a demanda, menor é a
adesão, o que pode elevar bastante o risco de
transmissão de microrganismos.
9.4 Aspectos relacionados ao
comportamento
É importante pensar que a adesão às recomendações
ou protocolos envolve mudanças no
comportamento dos profissionais de saúde. O
porquê e como as pessoas mudam seus comportamentos
têm sido algumas das questões fundamentais
na prática dos profissionais envolvidos
no controle de infecção. A dinâmica da mudança
comportamental é complexa e multifacetada,
envolvendo a combinação de educação, motivação
e modificações no sistema, mas é de vital importância
quando se pensa em estratégias para
elevar a adesão às práticas de higienização das
mãos. Em algumas populações, ainda, as práticas
eletivas e inerentes são profundamente influenciadas
por fatores religiosos e culturais.
Até o momento têm sido identificados fatores
importantes que influenciam o comportamento
em relação à higienização das mãos, incluindo
(WHO, 2006):
• Padrões de comportamento em relação à higienização
das mãos são desenvolvidos e implementados
precocemente em nossas vidas - de
acordo com teorias comportamentais, esses
padrões são estabelecidos nos primeiros dez
anos de vida, tendo início, provavelmente,
no período de treinamento de utilização do
banheiro para eliminações fisiológicas. Assim,
tais padrões podem afetar a atitude das
pessoas em relação à prática de higienização
das mãos por toda a vida, em particular no
que se refere a um procedimento conhecido
como “higienização das mãos (com água e
sabonete) inerente ou própria” e que reflete
a necessidade instintiva de remover a sujeira
da pele. Como a maioria dos profissionais de
saúde inicia a vida profissional com mais de
20 anos de idade, elevar a adesão às práticas
de higienização das mãos neste segmento
significa modificar um padrão de comportamento
que já vem sendo praticado há mais
de uma década e continua a ser reforçado no
seu ambiente de convívio.
• Autoproteção - este é um comportamento
que envolve a proteção contra infecções. Entretanto,
não está baseado no conhecimento
de risco microbiológico, mas nas sensações
de desconforto ou repugnância. Essas sensações
não são habitualmente associadas à
maioria dos contatos presentes na assistência
ao paciente.
• Prática eletiva de higienização das mãos - a
atitude de lavar as mãos em situações mais
específicas, que pode corresponder a algumas
das indicações de higienização das
mãos durante o cuidado ao paciente.
A importância do estabelecimento das razões
pelas quais as pessoas mudam seus comportamentos
acarreta uma segunda reflexão: como
estabelecer ou obter mudanças comportamentais
duradouras?
São destacadas a seguir áreas potenciais de atuação
para aumentar a adesão às práticas de higienização
das mãos (WHO, 2006):
• Educação dos profissionais de saúde focada
em como, quando e por que realizar a higienização
das mãos, com ênfase na repetição
dos seus padrões de comportamento na sociedade
e no trabalho.
• Motivação para que os profissionais de saúde
exerçam as práticas adequadas de higienização
das mãos por meio de modelos de
comportamento adotados por seus colegas,
superiores ou lideranças administrativas. Isso
requer o suporte contínuo da administração
dos serviços de saúde, tendo a higienização
das mãos como prioridade institucional.
Deve haver um clima de segurança institucional
dirigido pelo alto comando do serviço
de saúde, com programas de segurança,
níveis aceitáveis de estresse no trabalho, atiSegurança
do Paciente | Higienização das Mãos 85
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
tudes tolerantes e de auxílio ao serem reportados
problemas. Além disso, deve-se acreditar
na eficácia das estratégias preventivas.
Para mudar as crenças e valores individuais
é importante considerar uma proposta que
envolva uma aprendizagem grupal e, muitas
vezes, afetiva. Para isso, dinâmicas grupais
(grupos focais) podem auxiliar nas diversas
abordagens voltadas a mudanças de comportamento.
As estratégias podem partir
do levantamento das crenças inadequadas
(“minhas mãos já estão limpas”, “não acho
que este produto funciona”, “para mim só
água e sabonete funcionam”, “já sei de tudo
isso”, etc.) dentro de um clima descontraído,
não punitivo e vivenciando cenas que levem
a uma reflexão individual e coletiva sobre essas
crenças. Cabe salientar que o ser humano
é capaz de mudar o que faz sentido para ele,
impulsionado por um ambiente agradável e
não por uma conduta punitiva.
• Utilização de lembretes, como cartazes, para
a ação desejada, instalação de dispensadores
de preparações alcoólicas próximo ao
leito do paciente e, ainda, uso de frascos de
bolso. O acesso fácil ao produto alcoólico,
próximo ao paciente, soluciona o problema
de falta de tempo em áreas críticas.
• Mudanças do sistema:
• Estruturais: a disponibilidade e conveniência
dos dispensadores de preparações
alcoólicas devem ser incluídas na
mudança do sistema com o objetivo de
economizar tempo e aumentar a adesão
à higienização das mãos. Entretanto,
se persistir a necessidade de higienizar
as mãos com água e sabonete, deve ser
considerada a possibilidade de melhorar
o acesso aos lavatórios/pias;
• Filosóficas: deve-se enfatizar que a higienização
das mãos é uma prioridade institucional.
Premiações ou sanções têm
Profissionais manipulando equipamento médico
86 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
sido consideradas necessárias e efetivas
a curto e longo prazo, lembrando que
esta abordagem tem sido utilizada com
sucesso em alguns países em relação ao
tabagismo e ao ato de dirigir sob efeito
do álcool.
Em resumo, os padrões de higienização das
mãos na comunidade e nos serviços de saúde
representam um comportamento ritualístico e
complexo, e podem ser afetados pelo nível cultural.
Por isso, não é surpreendente que programas
para aumentar a adesão às práticas de higienização
das mãos com múltiplas estratégias
tenham sido mais promissores que aqueles com
estratégias únicas.
9.5 Organizando um programa para
promoção da higienização das mãos
9.5.1 Como e por onde começar?
O processo de implementação de um manual ou
de uma diretriz está esquematizado na Figura 1.
Após a finalização da revisão ou da elaboração do
manual, a equipe de controle de infecção geralmente
inicia dois processos. Um deles é a submissão
das novas normas à CCIH para análise e aprovação,
e outro é a circulação dessas normas dentro
da cadeia de comando da instituição (enfermeiros,
médicos e outros profissionais). Este também é o
momento para demonstrar, em todos os níveis, a
importância destas estratégias preventivas.
É importante considerar que, quando há apenas
a circulação das referidas informações entre os
níveis hierárquicos, a adesão dos profissionais de
saúde às práticas de higienização das mãos pode
ser extremamente baixa: estudos apontam que
ela pode ser inferior a 20% (SETO, 1989), o que
reforça a necessidade do programa educacional.
O sucesso da implementação depende desta estratégia,
ou seja, do programa educacional, que
deve ser cuidadosamente planejado.
A parte central deste processo deve ser a revisão
do manual antes da sua efetiva implementação,
pois só após este passo a equipe do controle de
infecção poderá obter as informações essenciais
para a elaboração do programa educacional
(WHO, 2006; SETO et al., 1990; LING; CHING; SETO,
2004). Dentro desta perspectiva, a melhor estratégia
é manter o foco nas práticas que requerem
alterações, particularmente naquelas onde há resistência
por parte dos profissionais da instituição.
Novo Manual
Programa de
treinamento / educação
conduzido pela equipe do
SCIH
Mudança nas práticas
de assistência
ao paciente
Circulação de cima para
baixo na cadeia de
comando da instituição
Aprovação pela CCIH
Figura 1 - Implementação de um novo manual.
Cartazes de higienização das mãos – Anvisa
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 87
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
Figura 2 - Esquema para um processo educacional efetivo e
implementação de um novo manual.
A Figura 2 mostra os diferentes métodos educacionais
que podem ser utilizados para cada categoria
de recomendação.
Novo Manual
Implementações
Métodos
Práticas não
instituidas
Práticas já
instituidas Comunicação
Providenciar e
fornecer recursos
Implementação fácil
Implementação difícil
- Falta recursos
Implementação difícil
- Resistência dos
pro ssionais de saúde
Programa de
educação (ex.: aulas,
pôsteres)
Persuasão e estratégias
de mudança
comportamental
A implementação pode ser resumida nos seguintes
passos (WHO, 2006):
• Elaboração das diretrizes para o serviço de
saúde, com base nos vários manuais sobre
higienização das mãos disponíveis na literatura.
A equipe do controle de infecção deve
realizar uma adaptação das recomendações
baseada nas necessidades da sua instituição.
Deve-se reforçar o que é essencial para a instituição
e crítico para o sucesso do programa,
e excluir as recomendações não relevantes
para o seu cenário.
• Classificação de todas as recomendações nos
quatro tipos de práticas descritas na Figura 2.
• Trabalho junto à administração da instituição
no sentido de obter recursos necessários
para as práticas de difícil implementação. A
equipe do controle de infecção deve assegurar-
se que todos esses recursos estarão disponíveis
nas unidades quando as recomendações
forem implementadas.
• Condução de pesquisas para obter as razões
da resistência dos profissionais de saúde em
relação a algumas práticas. Deve ser utilizado
um método simples, como o dos grupos
focais (citado no tópico anterior), para fazer
o levantamento das barreiras existentes.
Pode ser usado, também, um questionário
elaborado a partir das principais questões levantadas
pelo grupo focal, para ser aplicado
aos demais profissionais.
• Mensuração das taxas basais referentes à
adesão ou consumo de sabonetes e agentes
anti-sépticos antes da introdução das novas
recomendações. A taxa de infecção hospitalar
pode ser incluída, mas este indicador
individualmente pode não documentar o
impacto do programa.
• Elaboração e execução de um programa
educacional focado nas práticas ainda não
implementadas e que encontram resistência
entre os profissionais.
• Avaliação e monitoramento do progresso do
programa. Este é o último passo, mas não é
nem de longe o de menor importância, pois
constitui uma atividade fundamental para
promover o feedback aos profissionais.
9.6 Contando com colaboradores
O conceito de um sistema de profissionais de suporte
ou de ligação com o Serviço de Controle
de Infecção Hospitalar (SCIH) – Infection Control
Link Nurse, na língua inglesa – tem sido descrito
na literatura como envolvendo profissionais
que atuam na assistência de referência em cada
unidade ou departamento, com o objetivo de
desenvolver e implantar a cultura e os métodos
de prevenção das infecções relacionadas à assistência
à saúde em suas unidades. Esse conceito
foi introduzido na Inglaterra em 1988 e tem sido
utilizado não somente no controle das infecções
relacionadas à assistência à saúde, mas também
na nutrição e em unidades de diálise. Os profissionais
envolvidos – que geralmente são voluntários
e devem receber um treinamento básico
em controle de infecções relacionadas à assistência
à saúde – podem auxiliar a equipe do controle
de infecção na implementação de novas
diretrizes ou manuais.
Em relação às práticas de higienização das mãos,
esses elementos de ligação podem estar envolvidos
nas várias etapas do programa, participando
do treinamento e, principalmente, identificando
as razões da resistência dos profissionais de
saúde às recomendações. Há experiência dessa
abordagem no cenário nacional, onde grupos
88 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
multiprofissionais que atuam nas terapias intensivas
de adultos e neonatal (enfermeiros, fisioterapeutas,
farmacêuticos e médicos) e enfermeiros
de suporte em outros setores viabilizam e
garantem a implementação das ações prioritárias
em controle de infecções relacionadas à assistência
à saúde, coordenadas pelo SCIH.
9.7 Colaboração de universidades
A parceria junto às universidades pode promover
o aumento da adesão às práticas de higienização
das mãos e contribuir para a segurança dos pacientes
nos serviços de saúde, por meio de:
• Desenvolvimento de pesquisas para aumentar
o conhecimento sobre higienização das mãos.
• Incorporação de novos projetos pedagógicos
visando a melhoria do processo ensinoaprendizagem
nos cursos da área de saúde,
contribuindo para a formação de profissionais
conscientes da necessidade de boas práticas
de higienização das mãos.
9.8 Colaboração de pacientes, familiares,
acompanhantes e visitantes
Recentemente, pacientes, familiares e visitantes
estão sendo envolvidos em programas de educação
e motivação de profissionais de saúde, sendo
encorajados a lembrar esses profissionais de descontaminarem
as suas mãos antes de desempenharem
suas atividades (WHO, 2006; CDC, 2002).
Assim, alguns estudos têm demonstrado o envolvimento
efetivo dos pacientes e daquelas pessoas
que formam sua rede de apoio em programas para
elevar a adesão às práticas de higienização das
mãos entre os profissionais de saúde. Ainda são
necessários, contudo, outros estudos sobre esta
abordagem para que ela seja mais amplamente
recomendada, pois devem ser consideradas algumas
restrições culturais, assim como a barreira da
dependência do paciente em relação ao cuidador
e a falta de aplicabilidade dessa estratégia em situações
nas quais o paciente está sob ventilação mecânica,
inconsciente, e onde geralmente há maior
risco de transmissão de microrganismos.
Equipe multiprofissional
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 89
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
A parceria entre pacientes/familiares/acompanhantes/
visitantes e o SCIH pode contribuir para
a prevenção da transmissão de infecções relacionadas
à assistência à saúde (CIRONE, 1997;
CHASE, 2001; MCGUCKIN et al., 2004).
No entanto, como ressaltado anteriormente,
mais estudos são necessários para demonstrar
a efetividade desta abordagem, especialmente
nos serviços de saúde do Brasil.
9.9 Formulando e escolhendo as estratégias
Os alvos para promoção da higienização das
mãos, listados no Quadro 5, são decorrentes dos
estudos que avaliaram os fatores de risco para a
falta de adesão, as razões apontadas pelos profissionais
de saúde e os fatores facilitadores para
o comportamento adequado em relação às práticas
de higienização das mãos.
A campanha de promoção de higienização das
mãos nos Hospitais Universitários de Genebra
constituiu-se na primeira experiência de melho-
QUADRO 5 - Estratégias para promoção da higienização das mãos nos serviços de saúde.
Estratégias
1. Educação
2. Observação/auditoria e feedback
3. Medidas administrativas
• Tornar a higienização das mãos possível, conveniente e fácil
• Disponibilizar preparações alcoólicas
4. Educação do paciente
5. Lembretes no local de trabalho
6. Sanções administrativas e premiações
7. Troca do produto utilizado para a higienização das mãos
8. Promoção do cuidado da pele dos profissionais de saúde
9. Participação ativa no nível individual e institucional
10. Melhora do clima de segurança institucional
11. Reforço da eficácia individual e institucional
12. Evitar superlotação dos hospitais, sobrecarga de trabalho e número reduzido de profissionais
13. Combinação de várias estratégias
Adaptado de: PITTET, 2000. p. 384
ria sustentada na adesão, associada à redução
das infecções relacionadas à assistência à saúde
e à transmissão de MRSA (PITTET et al., 2000).
O fácil acesso às preparações alcoólicas para as
mãos em dispensadores próximos aos pacientes
e em embalagens de bolso contribuiu de forma
significativa para a elevação da adesão. Esta campanha,
porém, incluiu outras estratégias: a monitoração
contínua da adesão, com feedback aos
profissionais; lembretes (cartazes) no ambiente
de trabalho; participação ativa e feedback nos níveis
individual e institucional; e o envolvimento
das lideranças da instituição. A adesão às práticas
recomendadas de higienização das mãos aumentou
progressivamente de 48% em 1994 para
66% em 1997 (p<0,001). A higienização simples
das mãos com água e sabonete manteve-se estável,
sendo que o incremento da adesão ocorreu
graças ao maior uso do produto alcoólico,
uma vez que o consumo de álcool aumentou de
3,5 litros para 15,4 litros por 1000 pacientes-dia
entre 1993 e 1998 (p<0,001).
Os resultados do estudo realizado por Larson
et al. (2000) também reforçam a relação entre o
90 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
sucesso dessas estratégias e a compreensão da
relação entre os fatores organizacionais e as mudanças
de comportamento.
O estudo recentemente publicado por Trick et al.
(2007) enfatiza a importância de estratégia multifacetada
ou multimodal na elevação da adesão,
por meio da comparação dessa estratégia em
três hospitais americanos, sendo que em dois
destes foi introduzido o gel alcoólico para higienização
das mãos, associado a um programa
educacional e pôsteres, e no outro hospital (controle)
houve apenas a introdução do gel alcoólico.
Durante os quatro anos de estudo houve um
aumento significativo da adesão à higienização
das mãos nos dois hospitais com um pacote de
intervenções, enquanto no hospital controle não
houve alteração.
As conclusões obtidas na revisão sistemática
conduzida por Naikoba e Hayward (2001), que
incluiu 21 estudos com intervenções voltadas
para elevar a adesão às práticas de higienização
das mãos, foram:
• Programas com intervenções únicas têm um
impacto de curta duração na elevação da
adesão.
• Lembretes (pôsteres, cartazes) têm um efeito
modesto, mas sustentado.
• O feedback aos profissionais eleva as taxas de
adesão, mas deve ser realizado regularmente.
• Preparações alcoólicas próximo ao paciente
aumentam a freqüência de higienização das
mãos pelos profissionais de saúde.
• Abordagens multifacetadas, combinando
educação com material escrito, lembretes e
feedback do desempenho dos profissionais,
têm um efeito mais marcante sobre a adesão
e as taxas de infecção.
Recentemente, o uso de monitoramento eletrônico
e de voz para lembrar os profissionais de
saúde quanto ao ato de higienização das mãos
aumentou a adesão de profissionais de saúde
a esta prática e contribuiu para a diminuição da
infecção relacionada à assistência à saúde em um
estudo (SWOBODA et al., 2004). Mais informações
são necessárias para mostrar como o uso desta
tecnologia pode melhorar a adesão às práticas de
higienização das mãos (SIEGEL et al., 2007).
9.10 Indicadores de desempenho
Os seguintes indicadores de desempenho podem
ser utilizados pela Comissão de Controle de
Infecção Hospitalar para a mensuração da melhoria
da adesão às práticas de higienização das
mãos (WHO, 2006; CDC, 2002):
• Número de episódios de higienização das
mãos realizados pelos profissionais de saúde/
número de oportunidades havidas (enfermaria,
unidade ou serviço). O retorno da informação
aos profissionais sobre este desempenho
deverá ser providenciado pela CCIH.
• Monitoramento do volume de preparação
alcoólica para as mãos (ou sabonete associado
ou não a anti-sépticos usado respectivamente
para higienização anti-séptica das
mãos e higienização simples das mãos) utilizada
para cada 1000 pacientes-dia.
9.11 Considerações finais
Evidências substanciais revelam que a higienização
das mãos (realizada com água e sabonete ou
com preparações alcoólicas) reduz a transmissão
de agentes infecciosos nos serviços de saúde.
Apesar dessas evidências, a adesão dos profissionais
de saúde a esta medida permanece baixa.
Estratégias educacionais, multifacetadas, têm
sido consideradas mais efetivas e duradouras em
manter a elevação da adesão às práticas de higienização
das mãos. Alguns aspectos devem ser
incluídos na elaboração destas campanhas, tais
como: a escolha do produto; o envolvimento dos
diretores, administradores e demais lideranças
dos serviços de saúde; a valorização dos profissionais
que atuam em todas as etapas desses serviços;
feedback do desempenho; acessibilidade aos
produtos destinados à higienização das mãos; e
lembretes desta ação no ambiente de trabalho.
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 91
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
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Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 95
O Primeiro Desafio Global para a Segurança do
Paciente, previsto na Aliança Mundial para a Segurança
do Paciente por iniciativa da OMS (ver
http://www.who.int/patientsafety/en), está focado
na prevenção das infecções relacionadas
à assistência à saúde. Tem como lema “Uma assistência
limpa é uma assistência mais segura” e
envolve ações relacionadas à melhoria da higienização
das mãos em serviços de saúde.
Uma das ações da Anvisa e da Opas relacionadas
ao Primeiro Desafio Global envolve a aplicação
da estratégia multifacetada de melhoria de higienização
das mãos em hospitais no Brasil, com
o intuito de aumentar a adesão às práticas da higienização
das mãos pelos profissionais de saúde.
O Guia para Implantação da Estratégia Multimodal
da OMS para a Melhoria da Higienização
das Mãos (OPAS; ANVISA, 2008a), disponível no
site da Anvisa (www.anvisa.gov.br), traz o passo a
passo para a implementação bem-sucedida dessa
estratégia nos serviços de saúde.
10.1 - Recomendações da OMS para a
higienização das mãos
As recomendações da OMS para a higienização
das mãos englobam cinco indicações, sendo justificadas
pelos riscos de transmissão de microrganismos.
O cumprimento dessas cinco etapas
pode prevenir as infecções relacionadas à assistência
à saúde e também auxiliar na racionalização
do tempo do profissional de saúde quanto a
essa prática.
A Figura 3 mostra os cinco momentos (indicações)
para higienização das mãos, segundo as
recomendações da OMS.
CAPÍTULO 10 | ESTRATÉGIA DA OMS PARA A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS
VISANDO A SEGURANÇA DO PACIENTE EM SERVIÇOS DE SAÚDE
Fabiana Cristina de Sousa
Heiko Thereza Santana
Rogério da Silva Lima
Fonte: OPAS; ANVISA, 2008b.
Figura 3 - Os cinco momentos para a higienização das mãos
Antes de
contato com
o paciente
Antes da
realização de
procedimento
asséptico
Após contato
com o
paciente
Após contato
com áreas
próximas ao
paciente
Após risco de
exposição a
fluidos corporais
96 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
ESTRATÉGIA DA OMS PARA A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS VISANDO A SEGURANÇA DO PACIENTE EM SERVIÇOS DE SAÚDE
10.2 - Estratégia multimodal (multifacetada)
de melhoria da higienização das mãos
A estratégia multifacetada é, provavelmente,
mais eficaz e sustentável do que intervenções
que envolvem um único fator (WHO, 2005). Consiste
nas seguintes ferramentas de apoio aos serviços
de saúde, envolvendo os cinco elementos
críticos que a compõem (WHO, 2009):
• Ferramentas para a mudança do sistema:
envolvem a disponibilização de água, lavatórios/
pias, sabonete e papel-toalha para a
higienização simples das mãos, assim como
a disponibilização de preparações alcoólicas
para as mãos próximo ao leito do paciente.
• Ferramentas para treinamento e educação:
os profissionais de saúde necessitam de um
treinamento claro e sucinto sobre a importância
da higienização das mãos, especialmente
direcionado para “Os cinco momentos
para a higienização das mãos”, envolvendo
as técnicas corretas de fricção anti-séptica
das mãos com preparações alcoólicas (gel
ou solução) e higienização simples das mãos
(água e sabonete associado ou não a antiséptico).
Assim, os profissionais de saúde, incluindo
os novos profissionais contratados,
deverão receber treinamento regular (pelo
menos uma vez por ano).
• Ferramentas para avaliação e retorno: a situação
ideal envolve observações regulares de higienização
das mãos nos serviços de saúde e o
posterior feedback aos profissionais de saúde
sobre os resultados das observações. Este processo
ajuda a promover a melhoria constante
das práticas de higienização das mãos.
• Ferramentas que funcionam como lembretes
nas unidades dos serviços de saúde: os
cartazes nos locais de trabalho são importantes,
pois servem como lembretes para os
profissionais de saúde sobre a necessidade
das práticas de higienização das mãos, além
de informarem pacientes e visitantes a respeito
do padrão de assistência que eles podem
esperar dos profissionais de saúde. Os
lembretes deverão ser afixados em todas as
unidades dos serviços de saúde.
• Ferramentas para assegurar um clima de
segurança institucional: relacionadas ao
ambiente e às percepções de segurança do
paciente nos serviços de saúde, nos quais
a melhoria da higienização das mãos deve
ser considerada como prioridade. Os líderes
(diretoria, chefes e gerentes de unidades)
devem defender as práticas de higienização
das mãos e assegurar os recursos necessários
para este fim nas unidades dos serviços de
saúde. Os profissionais de saúde, por sua vez,
devem estar comprometidos com a realização
das práticas de higienização das mãos.
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 97
ESTRATÉGIA DA OMS PARA A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS VISANDO A SEGURANÇA DO PACIENTE EM SERVIÇOS DE SAÚDE
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Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 99
CAPÍTULO 11 | IMPACTO DA PROMOÇÃO E MELHORIA DA ADESÃO ÀS
PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS NAS INFECÇÕES RELACIONADAS
À ASSISTÊNCIA À SAÚDE
Luci Corrêa
Há na literatura evidências convincentes de que
a promoção e a melhoria da higienização das
mãos podem reduzir as taxas de infecção nos serviços
de saúde (PITTET et al., 2000; ROSENTHAL;
GUZMAN; SAFDAR, 2005; JOHNSON et al., 2005;
TRICK et al., 2007). Este achado reforça a idéia de
que a higienização das mãos é uma das medidas
mais importantes para a redução da transmissão
cruzada de microrganismos e, conseqüentemente,
das taxas de infecção.
Apesar da limitação de alguns estudos, a maioria
deles demonstra uma relação temporal entre a
melhoria da adesão à higienização das mãos e a
redução das taxas de infecção (Quadro 6).
Em 2000, Pittet et al. reportaram uma melhoria
na adesão à higienização das mãos sustentada
ao longo do tempo, associada à redução de
infecções relacionadas à assistência à saúde e à
transmissão de MRSA.
No estudo multicêntrico conduzido em 2007 por
Trick et al., com múltiplas intervenções voltadas
para aumentar a adesão à higienização das mãos
e ao uso adequado de luvas, durante três anos
de observação houve redução na incidência de
bactérias multirresistentes apenas no hospital,
com concomitante elevação da adesão à higienização
das mãos (de 23% para 46%).
Como mostra o Quadro 6, outros estudos com
menor tempo de observação também demonstraram
impacto na redução das infecções com
a implementação do gel alcoólico. Embora nenhum
desses estudos seja randomizado e controlado,
eles fornecem evidências suficientes
para estabelecer que o aumento da adesão à higienização
das mãos acarreta redução da transmissão
cruzada de microrganismos resistentes
e das taxas de infecção. À luz do conhecimento
atual, não seria nem mesmo ético realizar um estudo
randomizado para estabelecer a importância
da higienização das mãos na prevenção de
infecções nos ambientes de serviços de saúde.
Paciente sob oxigenoterapia
100 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
IMPACTO DA PROMOÇÃO E MELHORIA DA ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS NAS INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE
Quadro 6 - Principais estudos que evidenciam a associação entre higienização das mãos e taxas de infecção em
serviços de saúde
Autor e ano da
publicação Unidade Resultados Duração da
observação
Casewell & Phillips
(1977) UTI adulto Redução significativa (p<0,001) na percentagem de
pacientes colonizados ou infectados por Klebsiella spp. 2 anos
Conly et al. (1989) UTI adulto
Redução significativa (p=0,02) nas taxas de infecção
imediatamente após a promoção da higienização das
mãos (de 33% para 12% e de 33% para 9%).
6 anos
Simmons et al. (1990) UTI adulto Sem efeito significativo nas taxas de infecção. 11 meses
Doebbeling et al. (1992) UTI adulto
Diferença significativa (p<0,02) nas taxas de infecção,
utilizando dois agentes diferentes para higienização das
mãos.
8 meses
Webster; Faoabali;
Cartwright (1994) UTI neonatal
Eliminação de MRSA, quando combinado com outras
medidas de controle. Redução do uso de vancomicina.
Redução significativa (p<0,02) de bacteremia hospitalar
(de 2,6% para 11%) usando triclosan comparado com
clorexidina para lavagem das mãos.
9 meses
Zafar et al. (1995) Berçário Controle de um surto por MRSA utilizando triclosan para
a lavagem das mãos, somado às outras medidas. 3-5 anos
Larson et al. (2000) UTI adulto e
neonatal
Redução significativa (85%, p=0,02) da taxa de VRE
no hospital da intervenção; redução insignificante no
hospital controle. Sem impacto sobre MRSA.
8 meses
Pittet et al. (2000) Todo o
hospital
Redução significativa (p=0,04 e p<0,001) na prevalência
anual de infecção (41,5%) e na taxa de transmissão
cruzada de MRSA (87%). Culturas de vigilância para
MRSA e precauções de contato foram implementadas no
mesmo período.
5 anos
Hilburn et al. (2003) Unidade
ortopédica
Redução de 36,1% nas taxas de infecção (de 8,2% para
5,3%). 10 meses
Macdonald et al. (2004) Todo o
hospital
Redução significativa (p=0,03) nos casos de MRSA
adquiridos no hospital (de 1,9% para 0,9%). 1 ano
Swoboda et al. (2004)
Semiintensiva
adulto
Redução nas taxas de infecção (não significativo, valor “p”
não foi reportado). 2-5 meses
Lam; Lee; Lau (2004) UTI neonatal Redução não significativa (p=0,14) nas taxas de infecção
(de 11,3 para 6,2 por 1000 pacientes-dia). 6 meses
Won et al. (2004) UTI neonatal
Redução significativa (p=0,003) nas taxas de infecção
(de 15,1 para 10,7 por 1000 pacientes-dia), em particular
infecções respiratórias.
2 anos
Zerr et al. (2005) Todo o
hospital
Redução significativa (p=0,01) nas rotaviroses de
aquisição hospitalar. 4 anos
Rosenthal; Guzman;
Safdar (2005) UTI adulto Redução significativa (p<0,001) nas taxas de infecção (de
47,5 para 27,9 por 1000 pacientes-dia). 21 meses
Johnson et al. (2005) Todo o
hospital
Redução significativa (57%, p=0,01) das bacteremias por
MRSA. 36 meses
Trick et al. (2007)
Três
hospitais,
várias
unidades
Redução significativa na incidência de bactérias
multirresistentes apenas no hospital com maior aumento
na taxa de adesão à higienização das mãos.
3 anos
Adaptado de: PITTET et al., 2006. p. 641-652.
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 101
IMPACTO DA PROMOÇÃO E MELHORIA DA ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS NAS INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE
Por outro lado, surge a questão: quanto custa implementar
um programa de melhoria de adesão
à higienização das mãos?
Não restam dúvidas que as infecções relacionadas
à assistência à saúde elevam os custos hospitalares.
Em geral, os profissionais que atuam em
controle de infecção precisam dispor de análises
que sejam contundentes em demonstrar o benefício
de determinadas estratégias preventivas.
Nesse sentido, é também importante considerar
que a promoção da higienização das mãos
requer recursos. Em geral, os produtos à base
de álcool para higienização das mãos são mais
caros que os sabonetes comuns. Entretanto, ao
discutir com os administradores dos serviços de
saúde, cabe salientar que os custos desses produtos
são menores quando comparados aos
custos adicionais associados às infecções relacionadas
à assistência à saúde. Se pensarmos
que o uso crescente de produtos alcoólicos para
a higienização das mãos reduz o número de tais
infecções, ano a ano, o montante economizado
com as infecções prevenidas deve ultrapassar os
custos advindos da aquisição desses produtos.
Boyce (2000) estima que o gasto anual com
sabonetes e agentes anti-sépticos destinados
à higienização das mãos, em um hospital de
450 leitos, é de aproximadamente um dólar por
paciente-dia. Os custos adicionais associados a
cinco casos de infecções de moderada severidade
podem ser equiparados ao gasto anual com
produtos usados para higienizar as mãos.
Mas mesmo o custo dos produtos alcoólicos
para higienização das mãos pode ser inferior ao
custo do sabonete associado a anti-séptico. No
estudo conduzido por Larson et al. (2001) em
duas UTIs, o custo do gel alcoólico foi a metade
do custo do sabonete associado a anti-séptico
(0,025 versus 0,05 dólares por aplicação).
Pittet et al. (2000) avaliaram os custos associados
à campanha de promoção de higienização das
mãos conduzida nos hospitais da Universidade
de Genebra, onde houve ampla distribuição e
Neonato internado em UTI Neonatal
102 Segurança do Paciente | Higienização das Mãos
IMPACTO DA PROMOÇÃO E MELHORIA DA ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS NAS INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE
acessibilidade ao produto alcoólico em toda a
instituição. Os custos estimados (considerando
o consumo de álcool e os custos de promoção
da campanha) foram de 57 mil dólares por ano
– em média, 1,42 dólares por paciente. O custo
total em sete anos da campanha, de 1995 a 2001,
foi inferior a 1% do custo das infecções ocorridas
neste período (PITTET et al., 2004).
Embora sejam necessários mais estudos que analisem
de forma cuidadosa o custo-efetividade
das estratégias de promoção de higienização das
mãos, especialmente no cenário nacional, é claro,
até o momento, que elevar a adesão a esta medida
pode reduzir as taxas de infecção e, conseqüentemente,
os custos na maioria dos serviços de saúde.
Segurança do Paciente | Higienização das Mãos 103
IMPACTO DA PROMOÇÃO E MELHORIA DA ADESÃO ÀS PRÁTICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS NAS INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE
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GLOSSÁRIO
Anti-sepsia cirúrgica das mãos ou preparo préoperatório
das mãos
Procedimento realizado pela equipe cirúrgica
para eliminar a microbiota transitória e reduzir a
microbiota residente das mãos.
Anti-séptico degermante
Sabonete contendo um agente anti-séptico em
sua formulação; destina-se à degermação da
pele das mãos (por ex., clorexidina degermante
a 4%; PVPI a 10%).
Efeito residual ou persistente
Efeito antimicrobiano prolongado ou estendido
que previne ou inibe a proliferação ou sobrevida
de microrganismos após a aplicação do produto.
Fricção anti-séptica das mãos
Procedimento que consiste em friccionar toda
a superfície das mãos com preparação de base
alcoólica para reduzir o número de microrganismos
presentes.
Higienização anti-séptica das mãos
Higienização das mãos com água e sabonete associado
a agente anti-séptico.
Higienização das mãos
Termo genérico aplicável à higienização simples
das mãos, higienização anti-séptica das mãos,
fricção anti-séptica das mãos com preparações
alcoólicas e anti-sepsia cirúrgica das mãos ou
preparo pré-operatório das mãos.
Higienização simples ou básica das mãos
Higienização das mãos com água e sabonete comum
(não associado a anti-séptico).
Mãos visivelmente sujas
Mãos que mostram sujidade visível ou que estejam
visivelmente contaminadas por sangue e/ou
outros fluidos/excreções corporais.
Preparação alcoólica para as mãos
Preparação contendo álcool, preferencialmente
a 70%, sob a forma gel ou solução, com emolientes,
destinada à aplicação nas mãos para reduzir
o número de microrganismos viáveis.
Sabonete associado a anti-séptico
Sabonete contendo um agente anti-séptico em
sua formulação.
Sabonete não associado a anti-séptico (sabonete
comum)
Sabonete que não contém um agente anti-séptico
em sua formulação.
Serviço de saúde
Estabelecimento destinado ao desenvolvimento
de ações de atenção à saúde da população, em
regime de internação ou não, incluindo a atenção
realizada em consultórios e domicílios.
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